quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

DOIS CURIOSOS EPISÓDIOS DA HISTÓRIA BAIANA


REVOLUÇÃO DOS CHINELOS

Por Salvador de Ávila – do livro Bahia de Mil Encantos

            Rebelião ocorrida em 1858, na Bahia, Salvador, de maneira muito curiosa, nos meados do século XIX. Havia na Santa Casa da Misericórdia um recolhimento de moças pobres. Naturalmente, em se tratando de mocinhas, não deixavam as mesmas de ter os seus admiradores e namorados, o que motivava muitas vezes quebra de disciplina, e das determinações da irmandade, que resolve por fim a esses desmandos, resolução essa muito mal recebida pelas internadas e seus namorados, gerando uma onde de protestos contra a entidade e, principalmente contra as Irmãs de Caridade sob a guarda das quais viviam as recolhidas.

            Certa noite, a insatisfação atinge os limites da tolerância, quando um grupo de rapazes exaltados começa a apedrejar a Casa da Misericórdia, aos gritos e vaias. Como sempre acontece nessas ocasiões, aparecem os tumultuadores, que, som o pretexto de protestarem contra a carestia da vida que se verificava na ocasião, investem contra diversos estabelecimentos das Irmãs de Caridade e contra o próprio Paço Municipal aos gritos de “Queremos carne sem osso e farinha sem caroço.”
            Governava a Província da Bahia o Presidente Cansanção de Sanibul, que determina medidas repressivas contra os amotinados. A polícia montada persegue os que se postavam em frente à Casa da Misericórdia. Ocorrem gritos, correrias e forte pancadaria. O povo rua para frente do Palácio do Governo, onde, com ditos insultuosos, ofende o Presidente. Inúmeras prisões foram efetuadas, e tomadas outras medidas repressivas. Serenados os ânimos, muitas cabeças quebradas; e o mais curioso, em frente ao recolhimento, dezenas de pés de sapatos e chinelos jaziam nas ruas e calçadas à espera de recolhimento, deixados que foram pelos amotinados em fuga.
            Tudo acabou em ridículo, e daí vir o chistoso nome desse movimento, que passou à história brejeira da cidade com os nomes de revolução da “carne sem osso, farinha sem caroço”, “sedição dos chinelos” ou simplesmente “chinelada”.



A CASA DA TORRE DE GARCIA D’ÁVILA

A casa da TORRE de GARCIA D’ÁVILA foi edificada na segunda metade do século XVI, na enseada de Tatuapara, em terras que, primitivamente pertenceram a Dom Antônio de Atayde,  Conde de Castanheira. Garcia D’ Ávila veio para a Bahia, integrando a comitiva de Tomé de Souza, 1º Governador Geral, com a função de Almoxarife da Coroa. Protegido do Governador, logo recebeu deste inúmeras sesmarias, nas quais, de pronto, inicia o cultivo da terra e a criação de gado bovino, importando de Cabo Verde duas vacas ao preço de 4$000 (0$050), as quais chegaram aqui prenhas, em dezembro de 1550.
Em 1552, contava Garcia D’ Ávila * com um rebanho de mais de duzentas cabeças de gado, importadas algumas, e outras aqui nascidas. Os currais de Garcia D’ Ávila, que se estendiam ao longo da Baía de todos os Santos em direção de Itapagipe, em pouco tempo se tornaram insuficientes para conter o rebanho que se multiplicava em progressão geométrica, tendo Garcia construído novos currais ao longo do litoral oceânico, até Itapuã. Costeando em direção ao norte, o pioneiro vai chegar à Baía de Tatuapara. Logo requer ao Governador a concessão daquelas terras, as quais já haviam sido doadas ao Conde de Castanheira, primo de Tomé de Souza. Mesmo assim, tal o seu prestígio junto ao Governador as terras lhe foram doadas, mediante ato de 1º de maio de 1552. Então, o Almoxarife Real aí sua casa fortificada, que tomou o nome de Torre de Tatuapara, do alto da qual se divisava grande lanço de mar. Torre que participou ativamente da nossa história. Dali partiu o primeiro aviso da chegada da esquadra holandesa que invadiu a Bahia em 1624.
Lamentavelmente a histórica e bela Casa da Torre de Garcia D’ Ávila, como passou a ser nomeada, encontra-se em completo abandono, em estado de ruínas, o que testemunha o total descaso do IPHAN, órgão do governo federal, encarregado de cuidar e resgatar  o nosso patrimônio histórico, artístico e cultural, bem como nosso desapego para com as nossas mais belas e tradicionais relíquias históricas.

NR/ * A figura de Garcia D’ Ávila não lembra aos leitores uma dos nossos dias que, de reles funcionário do Zoológico de São Paulo, se tornou bilionário. No caso de Garcia por ser amigo do Rei, no do ex-funcionário por ser filho. O reino de Passágarda fica no Brasil mesmo.      



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