REVOLUÇÃO DOS CHINELOS
Por Salvador de Ávila – do livro Bahia de Mil Encantos
Rebelião ocorrida em 1858, na Bahia, Salvador, de
maneira muito curiosa, nos meados do século XIX. Havia na Santa Casa da Misericórdia
um recolhimento de moças pobres. Naturalmente, em se tratando de mocinhas, não
deixavam as mesmas de ter os seus admiradores e namorados, o que motivava
muitas vezes quebra de disciplina, e das determinações da irmandade, que
resolve por fim a esses desmandos, resolução essa muito mal recebida pelas
internadas e seus namorados, gerando uma onde de protestos contra a entidade e,
principalmente contra as Irmãs de Caridade sob a guarda das quais viviam as
recolhidas.
Certa noite, a insatisfação atinge os limites da
tolerância, quando um grupo de rapazes exaltados começa a apedrejar a Casa da
Misericórdia, aos gritos e vaias. Como sempre acontece nessas ocasiões,
aparecem os tumultuadores, que, som o pretexto de protestarem contra a carestia
da vida que se verificava na ocasião, investem contra diversos estabelecimentos
das Irmãs de Caridade e contra o próprio Paço Municipal aos gritos de “Queremos
carne sem osso e farinha sem caroço.”
Governava a Província da Bahia o Presidente Cansanção de
Sanibul, que determina medidas repressivas contra os amotinados. A polícia
montada persegue os que se postavam em frente à Casa da Misericórdia. Ocorrem
gritos, correrias e forte pancadaria. O povo rua para frente do Palácio do Governo,
onde, com ditos insultuosos, ofende o Presidente. Inúmeras prisões foram
efetuadas, e tomadas outras medidas repressivas. Serenados os ânimos, muitas
cabeças quebradas; e o mais curioso, em frente ao recolhimento, dezenas de pés
de sapatos e chinelos jaziam nas ruas e calçadas à espera de recolhimento,
deixados que foram pelos amotinados em fuga.
Tudo acabou em ridículo, e daí vir o chistoso nome desse
movimento, que passou à história brejeira da cidade com os nomes de revolução
da “carne sem osso, farinha sem caroço”, “sedição dos chinelos” ou simplesmente
“chinelada”.
A CASA DA TORRE DE GARCIA D’ÁVILA
A casa
da TORRE de GARCIA D’ÁVILA foi edificada na segunda metade do século XVI, na
enseada de Tatuapara, em terras que, primitivamente pertenceram a Dom Antônio
de Atayde, Conde de Castanheira. Garcia
D’ Ávila veio para a Bahia, integrando a comitiva de Tomé de Souza, 1º
Governador Geral, com a função de Almoxarife da Coroa. Protegido do Governador,
logo recebeu deste inúmeras sesmarias, nas quais, de pronto, inicia o cultivo
da terra e a criação de gado bovino, importando de Cabo Verde duas vacas ao
preço de 4$000 (0$050), as quais chegaram aqui prenhas, em dezembro de 1550.
Em
1552, contava Garcia D’ Ávila * com um rebanho de mais de
duzentas cabeças de gado, importadas algumas, e outras aqui nascidas. Os
currais de Garcia D’ Ávila, que se estendiam ao longo da Baía de todos os
Santos em direção de Itapagipe, em pouco tempo se tornaram insuficientes para
conter o rebanho que se multiplicava em progressão geométrica, tendo Garcia
construído novos currais ao longo do litoral oceânico, até Itapuã. Costeando em
direção ao norte, o pioneiro vai chegar à Baía de Tatuapara. Logo requer ao
Governador a concessão daquelas terras, as quais já haviam sido doadas ao Conde
de Castanheira, primo de Tomé de Souza. Mesmo assim, tal o seu prestígio junto
ao Governador as terras lhe foram doadas, mediante ato de 1º de maio de 1552.
Então, o Almoxarife Real aí sua casa fortificada, que tomou o nome de Torre de
Tatuapara, do alto da qual se divisava grande lanço de mar. Torre que
participou ativamente da nossa história. Dali partiu o primeiro aviso da
chegada da esquadra holandesa que invadiu a Bahia em 1624.
Lamentavelmente
a histórica e bela Casa da Torre de Garcia D’ Ávila, como passou a ser nomeada,
encontra-se em completo abandono, em estado de ruínas, o que testemunha o total
descaso do IPHAN, órgão do governo federal, encarregado de cuidar e
resgatar o nosso patrimônio histórico,
artístico e cultural, bem como nosso desapego para com as nossas mais belas e
tradicionais relíquias históricas.
NR/ * A figura de
Garcia D’ Ávila não lembra aos leitores uma dos nossos dias que, de reles
funcionário do Zoológico de São Paulo, se tornou bilionário. No caso de Garcia
por ser amigo do Rei, no do ex-funcionário por ser filho. O reino de Passágarda fica no Brasil mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário