quinta-feira, 30 de maio de 2013

DEPOIMENTO DE UM PACIENTE BAIANO COM CÂNCER NA PRÓSTATA

Matéria de Utilidade Pública:
Assim como meu amigo Marcus Gusmão (não o meu amigo genro, mas o amigo irmão), eu também tenho, pelas redondezas, o meu grilo falante. “Você vai postar Isso?!”, “Você se expõe demais no facebook!” E outras mais. Mas tudo isso dito com carinho e compreensão. Ela sabe que esse é o meu jeito e que, agora, depois de velho, fudeu.

Pois bem, mas essa postagem aqui eu considero quase que obrigatória. Vai ser um pouco longa.
Então... em maio de 2012 recebi o diagnóstico de um câncer de próstata. Um dos mais brandos tipos de câncer já que, em quase 100% dos casos, a extração do órgão afetado resulta em cura. Ocorre que as consequências no âmbito sexual são um tanto drásticas. Hoje, os avanços da medicina e um cirurgião fera podem garantir a preservação da função erétil em torno de 60% dos procedimentos. Mas sempre sobram os assustadores 40%. Tudo bem, se não funcionar tem o recurso das próteses penianas. Um outro efeito colateral é a extinção da ejaculação. O organismo deixa de produzir o esperma (eu acho) ou o canaliza por e para outras vias. O pós operatório é um vexame, se mijando e usando fralda geriátrica rss.


Vamos lá. Confesso que pirei. Surtei, desesperei e, durante várias noites em claro, pesquisei na internet tudo (ou quase) que havia sobre o assunto. Nessa trip, cheguei a uma conduta originária da Inglaterra e que se chama“vigilância ativa”. Os defensores desse procedimento o fundamentam no fato de não existir histórico a respeito do comportamento do câncer de próstata, tendo em vista que a conduta tem sido sempre cirúrgica. E mais, exames necrológicos em pacientes vitimados por outras causas diversas não era raro encontrar-se um câncer de próstata com aspecto de ser algo já antigo.

A tal da “vigilância ativa” consiste em acompanhamento mensal do antígeno prostático-PSA e na realização de biópsias periódicas.

Se há riscos? Claro! Não se pode prever como o câncer se comportará e nem estipular há quanto tempo ele se instalou no organismo e, muito menos, em quanto tempo ele vai decidir sair pra passear por outros órgãos. A consequência de um câncer de próstata é, como outros tipos, a metástase que, não raro, no caso da próstata, é um câncer ósseo, bicho brabo, tipo caixão e vela.
Fato é que, com a mais absoluta convicção, eu não estava preparado para as consequências da cirurgia.

Passei a procurar em Salvador/Bahia/Brasil algum urologista que adotasse esse procedimento e não consegui. Até porque, creio eu, as críticas a esses profissionais no meio médico devem ser terríveis (o inglês que preconizou essa conduta desenvolveu um câncer de próstata e morreu por metástase, o que passou a ser um forte trunfo para os detratores da “vigilância ativa”). Também não podemos perder de vista que a redução significativa dos procedimentos cirúrgicos nos casos de câncer de próstata representará um baque no orçamento dos cirurgiões (de jeito nenhum quero dizer que eles operam sem necessidade, mas $ sempre pesa).

De fato, não há como negar a coerência dos cirurgiões com os cânones da medicina. Um órgão canceroso deve, sempre que possível, ser extirpado. E, no caso da próstata, um órgão que nem é vital (pra uns rss), é só cortar e jogar pro gato.

Ta ficando longo demais, né? Mas vamos nessa.

Estava nessa busca quando, numa tarde, me liga a minha amiga querida Luzia Santana, preocupada e angustiada porque soubera do meu diagnóstico. Ela desligou o telefone e, logo depois, retornou dizendo que falara com Dr. Elsimar Coutinho e ele indicara um urologista. Para minha grata surpresa, esse profissional estava trabalhando numa espécie de pesquisa com um medicamento já existente para hiperplasia benigna da próstata, com eficácia de mais de 90%. No mercado há aproximadamente 10 anos, a medicação vinha demonstrando ter efeito também nos casos de câncer de próstata já instalado.

Iniciei o tratamento em julho e, já no mês seguinte, o PSA que batera em 4,7 antes da biópsia encontrava-se em 3, 4 e, assim, veio reduzindo mês a mês, alcançando, em abril, 1,3.
Agora, em maio, fiz outra biópsia que diagnosticou indícios discretos de atipia em duas das amostras, porém insuficientes para diagnosticar o câncer. Solicitaram um exame complementar de nome complicado, que ainda está sendo feito.

Acabo de voltar do urologista de uma consulta na qual festejamos os resultados positivos do tratamento. Ora, se na primeira biópsia o diagnóstico foi inconteste: câncer, situado em 6 na Escala Gleason (que vai até 10), e nesta de agora não se consegue precisar a malignidade, podemos deduzir que o câncer, no mínimo, regrediu significativamente.

Essa medicação vende em qualquer farmácia e custa, na Santana, R$149,00. Chama-se Avodart. Mas, claro, só deve ser usada com acompanhamento médico.

Falo tudo isso aqui porque pode existir alguém que esteja na mesma situação em que fiquei. É arriscado? É! Risco calculado, mas risco. O meu urologista condicionou o início do tratamento a consultas com um oncologista e com um uro/cirurgião. Ambos eram favoráveis – e muito – à cirurgia. Eu, que não sou Angelina Jolie nem nada, preferi arriscar. Mas cada um é cada qual.
Desculpem a extensão do texto.

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