terça-feira, 14 de maio de 2013

“NÃO SOU OTIMISTA QUANTO À HUMANIDADE”,


DIZ  JOÃO UBALDO RIBEIRO, EM ENTREVISTA


Autor tem receio dos avanços da ciência: ‘Serão usados para destruir’. Escritor baiano participou da mesa ‘Alegorias da ilha Brasil’ na Flip.

Do G1, em Paraty

O escritor João Ubaldo Ribeiro, que participou da mesa “Alegorias da ilha Brasil” na tarde deste sábado (9) na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), revelou que tem “medo do ser humano pilotando o seu próprio destino”.




“Não sou muito otimista quanto à humanidade. Somos uma especiezinha muito criticável. Somos todos uma contradição imensa. Nossa ruindade animalesca prevalece, apesar da racionalidade”, disse o baiano, que acrescentou: “Enquanto estamos aqui convivendo pacificamente agora, tem alguém estrangulando alguém. Vivemos fazendo esse tipo de coisa e não aprendemos nada. No curso na história humana, continuamos a repetir as mesmas atrocidades, muitas delas de maneira mais refinada”.

Para o autor, a ciência e o desenvolvimento tecnológico servirão muito mais à destruição da própria espécie. “Acho que esses recursos serão usados para destruir o próximo de alguma forma, seja lá quem for o próximo. Provavelmente alguém que não seja o detentor desse conhecimento. Hoje já acredito que estão sendo feitas coisas em sigilo que são de arrepiar o couro”.

Mediado pelo escritor Rodrigo Lacerda, o bate-papo teve início com a leitura de um trecho do livro “Viva o povo brasileiro” pelo próprio Ubaldo, que revelou curiosidades sobre o processo de produção da obra.

“Quis escrever um livro grosso. Este foi meu objetivo principal. Isso porque tive que ouvir do meu antigo editor Pedro Paulo de Sena Madureira que escritor brasileiro só sabia escrever livro fino, que pudesse ser lido durante uma viagem de avião. Quis fazer um romance bem extenso, caprichado e grosso. Escrevi para esfregar na cara dele. Coisa que efetivamente fiz”, disse o escritor, que revelou: “Os originais pesavam 6,7 kg”.
Ubaldo comentou algumas de suas obras, como “Sargento Getúlio”, “Vila real” e “O sorriso do lagarto” e tentou decifrar o que faz do trabalho do escritor um sucesso. “Na verdade, não há receita. Existe um quê de imponderável, de sorte. Mas isso talvez seja necessário a outras carreiras também. E à vida”.

E, de certa maneira cômica e receosa, fez durante a palestra o que chamou de “ampla revelação” após ouvir trecho lido por Lacerda sobre uma comparação ao escritor Guimarães Rosa.

“Ele não está entre os autores de meu afeto. Não está mesmo. Mas não no sentido de que o ache um autor inferior ou secundário. Mas meu santo não casa com o dele. Só espero que vocês lembrem que tentei distinguir essa idiossincrasia pessoal com a avaliação que faço de sua importância na literatura brasileira. Seria um completo desvairado se dissesse o contrário”.


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