DIZ JOÃO UBALDO RIBEIRO, EM ENTREVISTA
In: Canto Ecológico| G1
Autor tem receio dos avanços da ciência: ‘Serão usados para destruir’.
Escritor baiano participou da mesa ‘Alegorias da ilha Brasil’ na Flip.
Do G1, em Paraty
O escritor João Ubaldo Ribeiro, que participou da mesa “Alegorias da
ilha Brasil” na tarde deste sábado (9) na Festa Literária Internacional de
Paraty (Flip), revelou que tem “medo do ser humano pilotando o seu próprio
destino”.
“Não sou muito otimista quanto à humanidade. Somos uma especiezinha
muito criticável. Somos todos uma contradição imensa. Nossa ruindade animalesca
prevalece, apesar da racionalidade”, disse o baiano, que acrescentou: “Enquanto
estamos aqui convivendo pacificamente agora, tem alguém estrangulando alguém.
Vivemos fazendo esse tipo de coisa e não aprendemos nada. No curso na história
humana, continuamos a repetir as mesmas atrocidades, muitas delas de maneira
mais refinada”.
Para o autor, a ciência e o desenvolvimento tecnológico servirão muito
mais à destruição da própria espécie. “Acho que esses recursos serão usados
para destruir o próximo de alguma forma, seja lá quem for o próximo.
Provavelmente alguém que não seja o detentor desse conhecimento. Hoje já
acredito que estão sendo feitas coisas em sigilo que são de arrepiar o couro”.
Mediado pelo escritor Rodrigo Lacerda, o bate-papo teve início com a
leitura de um trecho do livro “Viva o povo brasileiro” pelo próprio Ubaldo, que
revelou curiosidades sobre o processo de produção da obra.
“Quis escrever um livro grosso. Este foi meu objetivo principal. Isso
porque tive que ouvir do meu antigo editor Pedro Paulo de Sena Madureira que
escritor brasileiro só sabia escrever livro fino, que pudesse ser lido durante
uma viagem de avião. Quis fazer um romance bem extenso, caprichado e grosso.
Escrevi para esfregar na cara dele. Coisa que efetivamente fiz”, disse o
escritor, que revelou: “Os originais pesavam 6,7 kg”.
Ubaldo comentou algumas de suas obras, como “Sargento Getúlio”, “Vila real”
e “O sorriso do lagarto” e tentou decifrar o que faz do trabalho do escritor um
sucesso. “Na verdade, não há receita. Existe um quê de imponderável, de sorte.
Mas isso talvez seja necessário a outras carreiras também. E à vida”.
E, de certa maneira cômica e receosa, fez durante a palestra o que
chamou de “ampla revelação” após ouvir trecho lido por Lacerda sobre uma
comparação ao escritor Guimarães Rosa.
“Ele não está entre os autores de meu afeto. Não
está mesmo. Mas não no sentido de que o ache um autor inferior ou secundário.
Mas meu santo não casa com o dele. Só espero que vocês lembrem que tentei
distinguir essa idiossincrasia pessoal com a avaliação que faço de sua
importância na literatura brasileira. Seria um completo desvairado se dissesse
o contrário”.
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