Texto de Ivan de Carvalho
O governo
e as autoridades econômicas brasileiras devem, se tiverem juízo e
responsabilidade, aproveitar o fim de semana como um intervalo menos agitado
que os “dias úteis” para refletir sobre a condução que vêm dando à política
econômica e financeira e sobre o que vem pela frente independente da vontade
deles.
Não espere de mim o leitor detalhes e análises profundas. Não sou
jornalista especializado em economia, muito menos analista econômico.
Apenas há coisas que, por muito notórias, não conseguem passar despercebidas,
ainda que este pudesse ser um desejo do governo.
Em princípios desta semana o noticiário deu conta de que havia entre
os responsáveis pela gestão econômica no governo federal um
sentimento quase feliz, pois o IBGE estava mostrando que o segundo trimestre
deste ano foi melhor que o primeiro, indicando até mesmo uma elevação animadora
da atividade econômica – animadora pelo menos para quem vem transitando ao rés
do chão.
Retraimento
da inflação (em grande parte, sazonal, mas quem não tem cão caça com gato e
para quem está perdido, todo mato é caminho) e um microprogresso no desempenho do Produto Interno Bruto. Também vale referir
o início de uma recuperação da economia na “zona do euro” e na União Europeia
em geral, o que, apesar dos “furos” ainda existentes nesse início de
recuperação, é beleza pura – a União Europeia é grande parceira comercial do
Brasil e nossas exportações para lá tendem a aumentar.
Ora, se no noticiário o
segundo trimestre foi melhor que o primeiro, o terceiro – e como não?! – seria
melhor que o segundo e o quarto melhor que o terceiro e vamos que vamos. E o
governo, que já vem aumentando, sem parar, seus gastos nos piores momentos,
mais os aumentaria nos bons momentos que virão e dona Dilma voltará a arrepiar
nas pesquisas de opinião pública.
Mas, tudo assim ajustado, vêm os
espíritos de porco. Eles são detestáveis, talvez descendentes daqueles que
figuram no Evangelho. Jesus os expulsou de uma pessoa e, a pedido do porta-voz
deles, permitiu que entrassem numa vara de porcos que ia passando, tudo
resultando em que os porcos, sem exceções, se precipitaram em um despenhadeiro,
encerrando assim o episódio evangélico.
Primeiro espírito de porco.
Apesar das duas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio na tentativa
de evitar a disparada do dólar, esta moeda à vista (referência para as
negociações no mercado financeiro) fechou ontem em alta de 1,54 em relação ao
real, cotado a R$ 2,375 na venda. É o maior valor desde março de 2009, quando a
cotação chegou a R$ 2,378. O dólar comercial, usado no comércio exterior,
chegou a R$ 2,396. O “mercado” já tem a expectativa de cotação do dólar a R$
2,70 no fim do ano. Entre muitas coisas, a disparada do dólar exerce pressão
inflacionária.
Segundo espírito de porco.
Dirigentes da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e do Serviço de Proteção
ao Crédito emporcalham dados divulgados pelo IBGE, segundo os quais o volume de
vendas no varejo em junho último teve crescimento de 1,7 em relação ao de junho
do ano passado. Pois a CNDL e o SPC acreditam que o aumento do consumo de
combustíveis e lubrificantes, item responsável por quase metade (48%) do volume
de vendas do comércio em junho deste ano, “camuflou o cenário atual” que o
comércio varejista experimenta. Os dados do IBGE mostram desaceleração do
crescimento em cinco dos oito setores avaliados pela pesquisa desse instituto
estatal. Desacelerações maiores sobretudo em quatro: vestuário, móveis,
papelaria e supermercados. Não fosse o setor de combustíveis e lubrificantes,
“o crescimento teria caído pela metade”, diz o presidente da CNDL, Roque
Junior.
Terceiro espírito de porco. O
banco de investimentos J.P. Morgan revisou para baixo, radicalmente, sua
estimativa para o Produto Interno Bruto brasileiro no terceiro trimestre deste
ano. A expectativa anterior dos analistas do banco era de uma expansão de 1,5
por cento do PIB no período julho-agosto-setembro em comparação com o segundo
trimestre. Pois agora, ao invés de expansão, essa estimativa é de uma contração
de 0,3 por cento. Há previsão de uma recuperação moderada em seguida. Para 2013,
a estimativa foi mantida em 2 por cento. A estimativa de crescimento do PIB
para 2014 foi rebaixada pelo J. P. Morgan de 2,7 para 2,4 por cento.
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