quarta-feira, 28 de agosto de 2013

NOVOS CARÕES-POSTAIS DE SALVADOR

Texto de Nelson Cadena



Lagoa do Abaeté, Elevador Lacerda e Pelourinho já eram. Esses
cartões-postais não mais existem a não ser no imaginário dos turistas.
Os baianos estão carecas de saber que o sujeito arrisca-se a encontrar
as cabines do elevador em manutenção, ou os funcionários em greve, e o
Pelô, quem se atreve a ir hoje em dia? O Pelourinho deixou de ser um

atrativo turístico, relegado ao abandono do poder público, assim como
a Lagoa do Abaeté que não mais é a lagoa escura arrodeada de areia
branca de Caymmi. Está na hora de renovarmos os cartões-postais da
cidade e nessa iniciativa sugiro, como Sidon que elencou as Sete
Maravilhas do mundo antigo, nomear as Sete Maravilhas de Salvador.
Sete monumentos que são extra-ORDINÁRIOS no sentido de diferenciados
pelo seu contexto de serviços para lá de inusitado.


A primeira maravilha seria o Metrô que me parece é hoje o maior
atrativo turístico da cidade, cartão-postal para a Bahiatursa incluir
nos seus roteiros com guias especializados informando aos visitantes
como foi possível torrar um bilhão de reais para erguer seis
quilômetros de colunas de concreto e estações esquisitas e como tudo
isso aconteceu sob o olhar complacente e displicente de autoridades de
todos os poderes. E então promover viagens de helicóptero para
conferir de perto o eterno canteiro e fotografar as obras sem fim, no
clima de trilha sonora da musica ‘Otário’ de Cássia Eller.

A segunda maravilha de Salvador poderia ser o Rio Lucaia, que corre
majestoso entre as proximidades da praia do Jardim de Alá e o Rio
Vermelho e tem o seu ponto de observação mais nobre, atrativo
turístico, na passarela entre a rodoviária e o Iguatemi. Quem vê nunca
esquece e, se respira fundo, inalando ar nos pulmões, não esquece
mesmo.



 A terceira maravilha proponho seja a Praça Cayru com os seus
casarões centenários equilibrando-se entre andaimes e estacas (um
desafio às leis da engenharia) e a imponência clássica das ruínas do
sobrado azulejado que um dia foi ponto de venda de uma rede de
supermercados.

A quarta maravilha de Salvador, essa sugestão é de graça, deve ser a
Estação da Lapa. Em nenhum lugar do mundo se construiu algo mais
sinistro e o roteiro turístico poderia priorizar a observação dos
usuários se acotovelando para subir no coletivo e as ferrugens
expostas, em registros fotográficos impagáveis.



Cartão-postal da orla de Salvador, a quinta maravilha poderia ser o
Aeroclube, também um monumento sem referência em outro lugar do
planeta. Na península do Yucatán, no México, os turistas admiram as
ruínas das pirâmides Maias; aqui podemos exibir as ruínas de um parque
que nunca existiu e do
projeto de shopping que cada vez mais se aproxima da proposta original
de ser um empreendimento a céu aberto. E bote aberto nisso.

A sexta maravilha sugiro seja a frota do sistema de ferryboats: sucata
sujeita a ficar à deriva no mar. Nenhum outro serviço congênere nos
oferece a possibilidade de uma aventura com essa dose de adrenalina.
Os turistas poderão fotografar as ondas batendo no convés, ou os
banheiros sem igual no imaginário do terceiro mundo e ainda se
deliciar com os ‘ótimos’ petiscos da cantina. E se tiverem sorte
poderão apreciar a queda de um carro na água.



A sétima maravilha, essa deixei para o final de propósito, recomendo
seja o Parque de São Bartolomeu com o diferencial de mata atlântica
fétida, rios de espuma desaguando próximo de bares ruidosos, com suas
putas alegres e
malandros bebendo todas e fumando maconha; ‘patrimônio ambiental’ para
mostrar ao mundo o tamanho de nossa burrice.

Afinal, somos diferentes. Em nenhum outro lugar o poder público
desafia a natureza com tamanha competência. É o limite da
irresponsabilidade e essa noção sem limite já é um bom pretexto para
exibir o nosso topete.

Colaboração de Antonio Abreu



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