segunda-feira, 26 de agosto de 2013

ORIGEM DO SONETO BRASILEIRO

Nenhuma tradição ou informação escrita reteve particularmente o
nome do poeta que transplantou o soneto para o Brasil. É sabido,
entretanto, que cabe a Manuel Botelho de Oliveira, nascido na Bahia
(1636-1711), a prioridade de haver sido o primeiro poeta brasileiro que
deu a lume uma coleção de poesias líricas em que se incluíram sonetos.
Contemporaneamente também na cidade do Salvador, viveram e poetaram os
representantes do chamado grupo baiano - Bernardo Vieira Ravasco,

Domingos Barbosa, Eusébio de Matos, Gonçalo Soares da França, Gregório
de Matos Guerra, José Borges de Barros, Gonçalo Ravasco Cavalcanti de
Albuquerque e João de Brito Lima, todos eles ligados entre si pela
comunhão da mesma poética portuguesa do tempo. (1). É possível, e até
provável que, simultaneamente com Manuel Botelho de Oliveira, alguns
desses pequenos poetas hajam praticado o soneto, dado o grande prestígio
que esse gênero havia granjeado na metrópole, onde, desde a primeira
metade do século XVI, era cultivado com insistência.

A coleção de poemas de Manuel Botelho de Oliveira tem o título de
"Música do Parnaso", e foi publicada em Lisboa, no ano de 1705. Esse
poeta, que versejava em castelhano, italiano, latim e português,
deixou-nos vinte e dois sonetos nesta última língua, incluídos no livro
citado. Estes, escritos em linguagem correta, o que era então vulgar,
carecem de inspiração poética e de sentimento.

Em todo caso, nem cronologicamente cabe a esse obscuro poeta a
primazia no que entende com o alvorecer do lirismo brasileiro, uma vez
que essa honra, com maior relevo, deve ser conferida ao seu parceiro do
grupo de poetas baianos Gregório de Matos Guerra (1633-1696).

Gregório foi individualidade típica, na primeira fase da nossa
literatura. Nele se compendiaram desordenadamente o espírito lírico e o
satírico, pondo-se de lado a incumbência de constituir a personificação
completa do fauno, cumulativamente com a severa responsabilidade de ser,
segundo o aviso de Sílvio Romero e Araripe Júnior, o fundador da
literatura brasileira... Como poeta lírico, assevera José Veríssimo que
"a parte séria das suas composições é genuinamente do pior
seiscentismo", no que é possível haver algum exagero, porquanto Araripe
Júnior observa que, na sintaxe dos versos da última fase do poeta, há
algo de pouco comum com aquela que praticavam os poetas do tempo, como
sejam o uso da regência direta, o parco emprego do hipérbato e a clareza
do pensamento, nem sempre encontrada nos cultistas de então (2).

No que respeita propriamente ao soneto, Gregório de Matos
deixou-nos alguns que não humilham nem desluzem os primórdios da nossa
literatura, a par de outros que recomendam muito mal o estro do
discutido poeta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário