Coluna do MAURO PEREIRA postado em 31/08/2013 no Blog da
Besta Fubana http://www.luizberto.com/
Infelizmente, a incômoda sensação de que o Brasil está prestes a
naufragar sob a inclemência do mar revolto da insanidade, cujas ondas hostis
fustigam as praias da irresponsabilidade e da inconsequência, se consolida nas
destrambelhadas ações do governo federal e nas indecentes decisões do Congresso
Nacional. Nem
mesmo recorrendo ao exercício da boa vontade consigo encontrar
algum resquício de razoabilidade que justifique tantos desvarios. O exacerbado
apego ao poder e o ranço ideológico-populista do governo, aliados à
mediocridade do Congresso, por exemplo, indicam sinais evidentes de descontrole
generalizado, mas, apesar da gravidade que os reveste, são somente algumas das
variantes que movimentam esse torvelinho de aberrações. Torna-se cada vez mais
vigorosa a percepção de que a Nação está por sua própria conta no enfrentamento
dessa tormenta que não cessa, robustecendo a impressão de que somos 200 milhões
de passageiros de uma nau à deriva que, sem comando, navega ao encontro do seu
naufrágio.
A pouca confiança depositada em suas instituições por uma parte
considerável da população é mais um complicador que afasta a esperança de
vislumbrarmos num futuro próximo qualquer vestígio que nos conduza a dias de
calmaria.
Descartados os devaneios pautados pela ideologia, ou pela falta
dela, acredito que o resultado da não cassação dos direitos políticos de Natan
Donadon é o desdobramento de uma decisão polêmica do STF que encontrou guarida
na patifaria política de um ajuntamento de deputados que envergonham o
Legislativo.
A maioria dos ministros do STF abriu as portas do inferno e, lá
de suas profundezas, parlamentares pouco chegados ao escrúpulo não
desperdiçaram a oportunidade para impor mais um vexame à sociedade e criaram a
figura do deputado-presidiário.
Por debaixo de seis togas, doze mãos embalam o berço do
inusitado onde adormece sereno o bebê do absurdo.
Quanto ao Congresso, tudo indica que nem mesmo a possibilidade
do repúdio dos eleitores nas eleições do próximo ano atemoriza seus
parlamentares que, pouco se lixando com suas biografias, continuam a escarrar
na cara dos brasileiros. Se tivessem consciência, o episódio Donadon certamente
aterrorizaria o resto dos seus dias. No entanto, nesse universo onde o “se” é
condicionado à oportunidade, consciência é privilégio de uma minoria ínfima.
Aos deputados que se ausentaram da sessão da vergonha
patrocinada pela Câmara dos Deputados, resta ainda o benefício da
justificativa, seja ela qual for. Procedente, ou não. Comportamento asqueroso,
no entanto, tiveram os 41 parlamentares que compareceram à empulhação e,
escondido atrás do insustentável biombo da paúra, se abstiveram de votar.
Amoitar-se na proteção confortável do sigilo não lhes pareceu suficiente.
Destituídos do menor vestígio de coragem, marcaram encontro na vala imunda da
covardia e de lá executaram o mais sórdido prelúdio para humilhar gente honesta
abrindo caminho para a performance maiúscula da orquestra sinfônica da
canalha federal.
O alegro marcou o andamento da sinfonia da cafajestagem. O gran
finale apoteótico dessa ópera do escárnio ficou por conta do solo magistral
interpretado pelo carcereiro que fez ecoar pelos sombrios corredores da Papuda
o som estridente de porta sendo trancada, anunciando que o deputado-presidiário
já havia retornado à sua cela. Com o seu mandato preservado, pode ser até que
ele tenha dormido o sono dos despreocupados, mas, com certeza, o Brasil que
presta foi assombrado por mais uma interminável noite de pesadelos.
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