terça-feira, 3 de setembro de 2013

A SINFONIA DA CAFAJESTAGEM


Coluna do MAURO PEREIRA postado em 31/08/2013 no Blog da Besta Fubana http://www.luizberto.com/

Infelizmente, a incômoda sensação de que o Brasil está prestes a naufragar sob a inclemência do mar revolto da insanidade, cujas ondas hostis fustigam as praias da irresponsabilidade e da inconsequência, se consolida nas destrambelhadas ações do governo federal e nas indecentes decisões do Congresso Nacional. Nem
mesmo recorrendo ao exercício da boa vontade consigo encontrar algum resquício de razoabilidade que justifique tantos desvarios. O exacerbado apego ao poder e o ranço ideológico-populista do governo, aliados à mediocridade do Congresso, por exemplo, indicam sinais evidentes de descontrole generalizado, mas, apesar da gravidade que os reveste, são somente algumas das variantes que movimentam esse torvelinho de aberrações. Torna-se cada vez mais vigorosa a percepção de que a Nação está por sua própria conta no enfrentamento dessa tormenta que não cessa, robustecendo a impressão de que somos 200 milhões de passageiros de uma nau à deriva que, sem comando, navega ao encontro do seu naufrágio.
A pouca confiança depositada em suas instituições por uma parte considerável da população é mais um complicador que afasta a esperança de vislumbrarmos num futuro próximo qualquer vestígio que nos conduza a dias de calmaria.
Descartados os devaneios pautados pela ideologia, ou pela falta dela, acredito que o resultado da não cassação dos direitos políticos de Natan Donadon é o desdobramento de uma decisão polêmica do STF que encontrou guarida na patifaria política de um ajuntamento de deputados que envergonham o Legislativo.
A maioria dos ministros do STF abriu as portas do inferno e, lá de suas profundezas, parlamentares pouco chegados ao escrúpulo não desperdiçaram a oportunidade para impor mais um vexame à sociedade e criaram a figura do deputado-presidiário.
Por debaixo de seis togas, doze mãos embalam o berço do inusitado onde adormece sereno o bebê do absurdo.
Quanto ao Congresso, tudo indica que nem mesmo a possibilidade do repúdio dos eleitores nas eleições do próximo ano atemoriza seus parlamentares que, pouco se lixando com suas biografias, continuam a escarrar na cara dos brasileiros. Se tivessem consciência, o episódio Donadon certamente aterrorizaria o resto dos seus dias. No entanto, nesse universo onde o “se” é condicionado à oportunidade, consciência é privilégio de uma minoria ínfima.
Aos deputados que se ausentaram da sessão da vergonha patrocinada pela Câmara dos Deputados, resta ainda o benefício da justificativa, seja ela qual for. Procedente, ou não. Comportamento asqueroso, no entanto, tiveram os 41 parlamentares que compareceram à empulhação e, escondido atrás do insustentável biombo da paúra, se abstiveram de votar. Amoitar-se na proteção confortável do sigilo não lhes pareceu suficiente. Destituídos do menor vestígio de coragem, marcaram encontro na vala imunda da covardia e de lá executaram o mais sórdido prelúdio para humilhar gente honesta abrindo caminho para a performance  maiúscula da orquestra sinfônica da canalha federal.
O alegro marcou o andamento da sinfonia da cafajestagem. O gran finale apoteótico dessa ópera do escárnio ficou por conta do solo magistral interpretado pelo carcereiro que fez ecoar pelos sombrios corredores da Papuda o som estridente de porta sendo trancada, anunciando que o deputado-presidiário já havia retornado à sua cela. Com o seu mandato preservado, pode ser até que ele tenha dormido o sono dos despreocupados, mas, com certeza, o Brasil que presta foi assombrado por mais uma interminável noite de pesadelos.


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