Texto
de Conrado Matos
com a finalidade de libertar o inconsciente do trauma ou das impurezas psíquicas que neurotiza o ser humano. Freud observou bem a natureza do inconsciente que não aceita ser reprimido, mas que recalca.
Se olharmos por um conceito de individuação, admitimos que a pessoa é responsável, ou seja, analítica por si só, numa busca de compreender a si mesma, tomando por parte uma atitude fenomenológica, de mudar de vez, de tornar uma outra pessoa de uma mente altamente criativa e independente.
Nesse sentido, nos damos conta da idéia de Freud, quando ele falou que, o analisando pela psicanálise, vai se capacitando por uma forma autônoma de se compreender, e, a essa habilidade independente do ser humano de se interpretar, ele, Freud, denominou de ‘psicossíntese”. Que foi um termo citado em sua obra “Técnica Psicanalítica” em 1904.
Sustentando esta tese de Freud de profunda interpretação humana, observamos que a função do eu é ser terapêutico, a fim de se desvencilhar de objetos desestruturantes da mente, na medida, que o ego encontra força de enfrentar o superego ameaçador, o id (instinto), o objeto externo, as fantasias e os pensamentos catastróficos dominantes dentro de si.
Na medida em que, o indivíduo vai na análise aprendendo a lidar com os elementos algozes da consciência, ele vai construindo um núcleo apoiador do eu, que por bem, denomino de NAE – Núcleo de Apoio do Eu. Este núcleo é a sabedoria que no início da terapia o analisando estará precisando para viver bons momentos, maus momentos, frustração, paciência e persistência para encarar a luta que precisa para se libertar do sintoma neurótico que lhe atormenta, tolerando melhor a permanência no tratamento.
Este núcleo do eu NAE, na verdade é uma potência interna para o analisando e suportando momentos iniciais de frustração durante a análise. Direi que seja umamelhora da auto-estima para enfrentar uma análise durante um longo tempo. Seria comparado a um garimpeiro na aventura de encontrar uma pedra bastante preciosa. Freud declarou que o analisando vai se deparando na análise com uma tonelada de metais, apenas para encontrar alguns metais satisfatórios e de valiosa interpretação, para isso é fundamental mergulhar dentro de si.
Sendo assim, o eu terá que por enquanto se apegar a um objeto terapêutico que é o NAE, para chegar a um estado de autotransformação, para depois assumir de vez o comando da consciência. Dando um passo livre numa atitude fenomenológica para a construção de outro núcleo apoiador do eu, que agora denomino de NAI – Núcleo de Apoio do Inconsciente, para purificar o inconsciente, limpando toda sujeira psíquica.
Para o eu desenvolver um NAI, foi necessário se livrar do NAE, mesmo sendo um objeto razoavelmente bom, mas que embora não sendo confiável para o eu, por motivo da sua vulnerabilidade ou possível conluio com os objetos falhos da mente, superego, id e o objeto externo. Pela razão do NAE, ter sido evoluído apenas para afastar estes objetos, mas que não é autossuficiente para o eu. Apenas o NAI é, porque é puro e espiritual, sem ser religioso. O NAI nasce dentro do eu para libertar o inconsciente do trauma, que o inconsciente sempre foi puro. O inconsciente é uma fonte fenomenológica que guarda uma integridade psíquica sem dependência do mundo externo para se criar e para existir. No final a psicanálise leva a pessoa a uma individualidade, se sentindo muito mais dona de si mesma.
A grandeza está na integridade do inconsciente, não no ego. A autoestima não se baseia no ego, mas no inconsciente puro e santo naturalmente.
O Zen-Budismo como filosofia de vida de acordo com os ensinamentos de Buda, encontra a solução para o indivíduo que segue a doutrina budista na pessoa de um Zen, que a mesma não deve pensar nem no Bem e nem no Mau, ela deve dissolver o ego de onde emana os desejos bons e maus do ser humano. O Zen-Budismo acredita no poder da mente criativa de absoluta independência, com o propósito da dissolvição do ego. O psicanalista, neo-freudiano, Erich Fromm através da sua obra “Zen Budismo e Psicanálise” enfatiza a importância quanto aos aspectos místicos do Zen para a psicanálise. Fromm dizia que “quando se relaciona o Zen-Budismo com a psicanálise, discutem-se dois sistemas, ambos os quais versam uma teoria que diz respeito à natureza do homem e a uma prática que conduz ao bem-estar”. Ele, Fromm, ainda dizia que “no Zen-Budismo se misturam a racionalidade e a abstração hindus com a concreção e o realismo chineses, entretanto, a psicanálise é tão requintadamente ocidental quanto o Zen é oriental”. Sendo assim, encontramos na psicanálise uma terapêutica para a doença mental “a neurose”, enquanto o Zen-Budismo é um caminho para a salvação espiritual.
Erich Fromm observou que havia um interesse indisfarçável pelos psicanalistas, cada vez maior pelo Zen-Budismo. Segundo Fromm, a teoria do Zen-Budismo foi significativa para ele como psicanalista, e que parece também para todos estudiosos de psicanálise.
Na psicossíntese psicanalítica, assim posso denominar no meu livro “Psicossíntese da Autoestima”, que se encontra ainda no prelo, para diferenciar da psicossíntese de Roberto Assagioli, que se trata de um método psicológico e educacional, incluindo vários métodos psicológicos. A nossa psicossíntese tem por finalidade fortalecer o eu no objeto bom e sadio. Não há propósito de análise pela psicossíntese empurrar o eu para vários objetos, para se fortalecer, porque se isso ocorrer ele não encontrará sua verdadeira santidade, como de fato ocorre na religião e em algumas psicoterapias não analíticas uma certa sugestão para o individuo se apegar a um objeto externo, e por fim acabando dependente do mesmo. Para Freud o eu teria que se fortalecer nele próprio, assim como também, penso pela psicossíntese que é terapêutica e analítica.
Para o Zen-Budismo o inconsciente não deve ser modificado pelo eu. Ele é absoluto e puro. Sua visão é de pureza, esvaziamento e santidade. Não suporta qualquer sujeira, qualquer mentira ou injustiça. Ele é modelo de vida perfeita e santa.
Para a psicossíntese o eu cria o NAE como sua salvação. O NAE é autoestima do ego – é baseada no ego. Esta é uma visão ocidental baseada no ter ocidental – posse, poder e prestígio. Ocorre que este NAE criado pelo o eu é transitório, e ao mesmo tempo por ser um objeto embora bom, mas instável, pode se misturar com os objetos imperfeitos da mente. Portanto, a solução do eu é criar o NAI para fazer parte da verdadeira estrutura mental. Freud sempre recomendou na psicoterapia o fortalecimento do ego, e para isso acontecer no final da terapia é o eu desapartar dos objetos imperfeitos, rígidos, exigentes, do NAE, e aceitar de uma vez o NAI, o núcleo e objeto sadio e perfeito do inconsciente.
O futuro psicológico da humanidade terá que mudar. O homem virá a ser o autor de sua própria construção psíquica baseado num inconsciente fenomenologicamente construído. Mas para isso terá que romper com diversos padrões sociais que provocam mal estar e neurose em toda a civilização no mundo, em busca de uma mente perfeita.
Conrado Matos é Psicanalista, com Consultório em Salvador (BA), Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia. Pós-graduado em Teoria Psicanalítica. Formado em psicanálise pela SPOB Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil. E-mail: psicanaliseconrado@hotmail.com – Tels: 071-8717-3210/9910-6845/81039431
Nenhum comentário:
Postar um comentário