Realizado
a partir de entrevistas com quatro gerações de pescadores locais vizinhos ao
Parque Municipal Marinho do Recife de Fora, em Porto Seguro (BA), estudo que
acaba de ser publicado na Fisheries Management and Ecology”
sinaliza inclusão de peixes de ambientes recifais nas avaliações de
espécies ameaçadas de extinção. Ele foi desenvolvido pelos biólogos Mariana
Bender, Sergio Floeter e Natalia Hanazaki, da Universidade Federal de
Santa Catarina, e faz parte da rede de pesquisas do Projeto Coral Vivo, que é patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa
Petrobras Ambiental, e pelo Arraial d’Ajuda Eco Parque. O lugar foi
escolhido por ser uma das regiões mais ricas da costa brasileira em
biodiversidade marinha.
Com o
objetivo de ajustar os referenciais ambientais relativos aos impactos humanos
nos ecossistemas marinhos, 53 pescadores foram perguntados sobre o maior peixe
de cada espécie que já capturaram e o ano que isso ocorreu. Os da faixa etária
com mais de 50 anos pescaram animais maiores comparados às gerações mais
jovens. O badejo quadrado (Mycteroperca bonaci), por exemplo, há quarenta
anos era pescado com 49 quilos, e atualmente com 17 quilos. ”Alguns
pescadores com menos de 31 anos não reconheceram espécies de peixes como o
mero-gato e o cherne quando apresentados às fotos na entrevista”, relata a bióloga Mariana Bender.
O
cherne (Hyporthodus nigritus) já está na lista vermelha global da IUCN
(International Union for Conservation of Nature) como
espécie ameaçada. “Além deles, detectamos que estão em declínio capturas de
mero-gato (Epinephelus
adscensionis), garoupa (Epinephelus
morio), cioba (Lutjanus
analis), dentão (Lutjanus jocu) e guaiúba (Ocyurus
chrysurus)”, afirma a pesquisadora. Vale destacar que esses nomes
populares são atribuídos aos peixes na região, mas podem variar ao longo da
costa brasileira.
Bender explica que todo o problema do declínio de
peixes em escala global está diretamente ligado ao consumo pela população
humana, como é o caso dos grandes atuns, tubarões, marlins, e também,
dessas espécies de peixes que utilizam os recifes como habitat. ”Os
badejos e garoupas, particularmente, são muito apreciados na culinária pela sua
carne. Dessa forma, é necessário promover o consumo consciente para que os
estoques dessas espécies possam se recuperar”, ressalta Mariana Bender.
36% dos pescadores consideraram que suas atividades
contribuíram para o declínio dos recursos pesqueiros. ”Eles
lembraram da época em que pescavam nos recifes do atual parque marinho -
que agora é uma área de proteção integral - e retornavam com as canoas
cheias de peixes”, relata Bender. Ela observa que enquanto os de idade
mais avançada reconhecem o declínio de espécies de peixe e que a pescaria na
região mudou consideravelmente nas últimas décadas, os mais jovens desconhecem
que os peixes que hoje são raros já foram abundantes. Essas diferenças na
percepção das quatro gerações de pescadores em relação ao meio ambiente e à
conservação de recursos pesqueiros é um fenômeno conhecido como “referenciais
dinâmicos”.
O Projeto Coral Vivo, realizado através da
Associação Amigos do Museu Nacional (Sanm), apoia pesquisadores e propostas de
estudos voltados para a conservação de ambientes recifais ou
coralíneos por meio da Rede de Pesquisas Coral Vivo, também patrocinada pela
Petrobras.
São disponibilizadas a estrutura da base em Arraial
d’Ajuda (BA), com viveiros, aquários, bancada de microscopia, embarcação e
veículo em terra, assim como apoio financeiro para custeio direto de serviços
necessários para a realização do experimento, como passagens, alimentação,
estada, e materiais de uso de campo, por exemplo. As propostas são avaliadas de
acordo com critérios como: conteúdo, viabilidade, relevância para o meio
ambiente, possibilidade de interação com outras pesquisas da Rede, custo
estimado do apoio solicitado, e custo estimado de outras despesas realizadas
pelo solicitante com recursos próprios.
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