Gengis o globalizador
UMA
ESPANTOSA CARREIRA GUERREIRA
Gengis Khan nasceu
cercado de lendas xamânicas sobre
a vinda de um lobo cinzento
que devoraria toda a Terra. Ainda
jovem matou o lobo e ficou muito famoso em sua tribo, enfrentou a rejeição de
sua família
por seu próprio clã, mas voltaria para
conquistar sua liderança, vencer seus rivais de clãs distintos e unificar os
povos mongóis sob seu comando. Estrategista brilhante, com hábeis arqueiros montados
à sua disposição, venceu a grande muralha da China,
conquistou aquele país e
estendeu o seu império em direção ao oeste e ao sul. Gengis morreria antes de
ver seu império alcançar sua extensão máxima, mas todos os líderes mongóis
posteriores associariam sua própria glória às conquistas de Gengis Khan,
"que foi um dos comandantes militares mais bem sucedidos da história da
humanidade" . Segundo levantamento feito pela revista Mundo Estranho, ele foi o
imperador que mais territórios conquistou na história, dominando quase 20
milhões de km² (o equivalente a 2,3 vezes do território brasileiro).
Juventude
Temudjin nasceu
na Mongólia na década de 1160,
provavelmente em 1162. Supõe-se
que seja descendente de um líder mongol conhecido como Kabul Khan, do
clã Bojigin, que por breves anos obteve controle sobre uma
Mongólia unificada. Entretanto, na época do nascimento de Temudjin, os mongóis
estavam divididos em diversas tribos e clãs, cada uma governada por um cã, ou
"Senhor", que impunha-se mais pela força do que pela descendência
nobre . Com
Temudjin não seria diferente. Quando tinha nove anos, Temudjin foi ao clã dos
Merkitas para escolher uma esposa e refazer a paz entre os clãs (há muito
tempo, seu pai havia roubado a esposa do Khan dos Merkitas e se casado com ela,
ela era a mãe de Temudjin), mas no caminho, parou para pernoitar num clã
aliado, os Onggirat, aonde se apaixonou por Borte. Pediu ao pai para praticar a
escolha de esposas ali, porém, ao invés de apenas praticar, escolheu
oficialmente Borte como sua noiva. No caminho de volta, seu pai, Yesugei, foi
envenenado por membros da tribo dos tártaros. Sem que
os filhos de Yesugei tivessem idade para assumir o controle da tribo, esta
passou a ser comandada por um novo Khan, Targutai, ex-soldado de Yesugei, que
expulsou a família do clã para evitar futura contestação de sua liderança,
forçando-os a sobreviver nas estepes, sem gado ou cavalos. Temudjin foi até a
montanha sagrada pedir ajuda ao deus Tengri (deus do trovão). No caminho foi
encontrado por Jamukha, filho do Khan da tribo dos Jadaran, com quem viveu por
um tempo e formou uma grande amizade, chegando a fazer um pacto de sangue.
Algum tempo depois foi raptado e levado de volta para Targutai.
Passou a infância
inteira tentando fugir, mas sempre era encontrado e levado de volta, porém,
quando finalmente estava grande o bastante para ser morto, fugiu novamente, mas
desta vez recebeu um cavalo de um homem da tribo de Targutai que o admirava,
conseguindo fugir até o clã dos Onggirat para reencontrar Borte.
Ascensão
Como quase todos os
mongóis, Temudjin provavelmente tinha sido treinado como arqueiro montado desde
muito jovem. A habilidade na montaria, comandada apenas com os joelhos e a
destreza no arco e flecha, aliada a uma vida dura nas estepes tornavam os guerreiros
mongóis muito temidos e respeitados. Depois de casar-se com Borte, Temudjin
seguiu com ela por um caminho incerto pela Mongólia, até que, um dia, os dois
foram encontrados por um grupo de merkitas comandados por Chitedu (ex-marido da
mãe de Temudjin), que queria a esposa de Temudjin como vingança pela ofensa que
seu pai havia feito antigamente. Temudjin reuniu alguns homens que quiseram
ajudá-lo (pois admiravam sua força), e foi até Jamukha para pedir ajuda. Os
dois resolveram quebrar a antiga tradição que dizia que os mongóis não iam a
luta por mulheres e guerrearam com os merkitas.1
Ao destruir os
merkitas, Temudjin encontrou Borte grávida, fazendo sua primeira paternidade
ser duvidosa. Após restabelecer seu clã (formado por seus homens que
sobreviveram à guerra e pelo remanescente do povo dos merkitas), Temudjin
seguiu como nômade pela Mongólia, porém dois homens de Jamukha se uniram a ele.
Por causa da antiga tradição de que os mongóis podiam trocar de líder quando
quisessem, Temudjin não quis mandá-los de volta, ganhando o rancor de Jamukha,
que ordenou a seus homens roubarem a manada de cavalos de Temudjin. Durante a
defesa dessa manada, os homens de Temudjin mataram o irmão de Jamukha,
iniciando uma guerra entre os clãs. Temudjin tentou fugir com seu povo, porém
foi alcançado por Jamukha, que tinha em seus exércitos uma proporção de dez
homens para cada homem de Temudjin. Depois de fazer inúmeras baixas no exército
de Jamukha, Temudjin foi escravizado e levado até a China.
O imperador chinês
se impressionou com o fato de ele ser o escravo mais caro (pois havia matado o
melhor guarda do mercador de escravos) e resolveu levá-lo, ignorando os avisos
de um monge, que disse que ele dominaria a China. Temudjin foi preso e
humilhado. Na ocasião, o monge chinês pediu que ele não destruísse seu mosteiro
depois da conquista da China. Temudjin entregou-lhe um colar de ossos e pediu
que ele levasse até a Mongólia, para Borte. O monge morreu no caminho, mas
Borte achou o cadáver e viu o colar, entendendo a mensagem de Temudjin. Ela foi
até a China para resgatá-lo.
Depois do resgate,
Borte não quis voltar à Mongólia, afirmando que ela estava corrompida e sem
leis. Determinado a unificar a Mongólia, Temudjin foi até a montanha sagrada e
pediu ao deus do trovão que o ajudasse a dar leis aos mongóis, nem que para
isso precisasse matar metade deles. Nessa noite, elaborou as leis dos mongóis
(não matar mulheres e crianças, honrar as dívidas, lutar contra os inimigos até
o fim e, acima de tudo, nunca trair seu khan). Nessa época, a força de Temudjin
era conhecida em toda a Mongólia. Temudjin seguiu pregando a unificação da
Mongólia nos clãs e muitos khans se uniram a ele, porém, a maioria dos clãs se
uniram a Jamukha, que pregava a destruição de Temudjin. Finalmente, a Mongólia
estava dividida em duas: o exército de Temudjin e o exército de Jamukha. Os
dois exércitos se encontraram para a batalha final. Jamukha enviou um pelotão
para atacar primeiro, porém as suas tropas foram aniquiladas por uma brilhante
estratégia de Temudjin e, quando os contingentes principais preparavam-se para
a luta, as nuvens fecharam o céu e uma tempestade de raios começou. Os mongóis
temiam os raios e quando, no brilho de um deles viram Temudjin em pé no seu
cavalo com a espada erguida, sem medo do trovão, renderam-se diante dele. Os
homens de Targutai o entregaram e depois foram mortos por traírem seu khan.
Jamukha recebeu um cavalo de Temudjin e fugiu da Mongólia.
Em 1206, uma
assembleia entre os chefes de todas as tribos das estepes proclamou Temudjin,
então com quarenta e cinco anos, como Gengis Khan, o "cã dos
cãs". Criou-se uma hierarquia administrativa e militar e um exército foi
treinado e organizado. Para comandar um exército de milhares de homens e
diminuir o poder dos antigos khans, Gengis criou uma hierarquia militar baseada
na unidade mínima de dez homens comandadas por um deles. Dez unidades de dez
homens cada seriam comandadas por um novo líder, que por sua vez faria parte de
um grupo de mil sujeitos a um comandante determinado; este, por sua vez,
obedecia a um general que tinha sob seu controle dez mil homens. Acima dos
generais, apenas Gengis Khan.
Com um exército tão
poderoso, Gengis Khan resolveu partir para o sul e invadir as terras do reino
de Hsi Hsia, também
chamado de Xixia, vassalos do império chinês, que, nessa época, se dividia em duas dinastias:
o império Jin, ao norte
e o império Song, ao sul. Pela primeira vez, os mongóis tiveram de enfrentar
cidades muradas. Sem ainda conhecerem ou dominarem as máquinas de cerco, a
capital não pôde ser conquistada. Porém, diante da recusa do império Jin em
mandar um exército ao auxílio ao reino Xixia, este se submeteu ao poderio
militar dos mongóis e lhes pagou um grande tributo que incluiu a filha de seu
governante, dada como segunda esposa a Gengis Khan.
Táticas de guerra
Gengis criou
táticas de guerra revolucionárias para as batalhas nas estepes. Seu exército
era disciplinado, temido e impiedoso. A arma tradicional dos mongóis era o arco
e flecha composto,
que tinha um alcance de 500 metros, com isso tornou obrigatório o treinamento
dessa arma. Os cavaleiros eram treinados para atirar a flecha com o cavalo em
movimento. Um detalhe era que, para maior precisão, a flecha era disparada no
momento em que o cavalo estivesse em pleno galope. Esses cavaleiros, os
chamados mangudais, eram uma arma poderosa contra infantaria inimiga, já que
juntavam dois princípios: arco e flecha e cavalaria, ou seja, um mangudai poderia
ser rápido e preciso para atingir os inimigos mesmo estando longe. O Arco curvo
mongol era até mais potente que os famosos arcos longos utilizados pelos
ingleses com grande êxito em batalhas contra os franceses durante a guerra dos cem anos.
Conquistas
Em 1207-1208, os
mongóis foram forçados a expandir seu território de pastagem devido a algum
problema climático nas estepes e
conquistaram o reino tangute de Hsi Hsia. Em
seguida, atravessaram a muralha contornando-a e chegaram à China, cujo reino
estava dividido entre as dinastias Jin, ao norte e Song, ao sul.
As vastas plantações de arroz e a riqueza da cidade atraíram mais a atenção de
Genghis do que a possibilidade de se tornar senhor da China. Na conquista do
reino Jin, Genghis Khan recrutou um jovem chinês chamado Yeh-lu Ch'u-ts'-ai como
seu conselheiro pessoal. A sua influência tornou Genghis mais tolerante e menos
agressivo em batalha, estimulando-o a evitar esforços exagerados na guerra e
conservar as terras cultivadas ao invés de transformá-las em pastagens.
Gengis marchou
até Pequim, o mais
avançado centro urbano daquela época e, quando viu que a cidade era cercada
de muralhas de
doze metros de altura, descobriu que suas táticas de guerra em campo aberto,
nas estepes, não o ajudariam naquele momento. Desse modo, não teve pressa e
acampou seu exército, cercando a cidade e impediu que os suprimentos entrassem
em Pequim. Esses suprimentos foram usados para suprir seu exército. Com a ajuda
de engenheiros chineses dissidentes, construiu catapultas e
outros artefatos bélicos e finalmente invadiu e dominou Pequim.
Gengis, após o
ataque inicial aos Jin, retirou-se para a Mongólia, enquanto seus generais se
encarregavam de estabelecer seu domínio na China Jin. Em 1218, um acidente
diplomático provocou a ira de Genghis sobre o reino turco de Kharizm, no norte da Pérsia: um
mensageiro trouxe-lhe a cabeça de um de seus generais enviado em missão
diplomática à Pérsia. O Cã cavalgou à frente de mais de duzentos mil homens e
cerca de dez mil máquinas de assédio adquiridas dos chineses. Houve poucas
batalhas campais e os mongóis empreenderam guerras de cerco às cidades
fortificadas da Pérsia, que capturaram uma a uma. Algumas, como Bucara e Samarcanda se
tornariam, no futuro, espelhos longínquos da presença mongol no sudoeste
da Ásia. A velha
cidade de Nichapur foi arrasada e nem mesmo os animais ali
sobreviveram ao ataque mongol. O exército de Genghis matou mais de um milhão de
persas.
As perdas humanas
em Khwarizm contavam-se aos milhares. Genghis e seus generais impunham punições
brutais aos inimigos. A proximidade da Pérsia com a Europa gerou
a fama de selvageria dos mongóis que assombraria o continente pelas décadas
seguintes.
Em 1227, enquanto
os generais de Gengis conquistavam territórios no sul da Rússia e
na Ucrânia, o Grande
Cã foi forçado a retornar para as estepes para conter uma revolta de Hsi Hsia,
que havia recusado a convocação para a campanha contra Khwarizm. Após vencer os
tangutes, Gengis Khan morreu acometido por uma febre alta e dores na cabeça.
Legado de Gengis Khan
Gengis Khan
Antes da morte de
Gengis Khan, este estabeleceu seu filho, Ogedei, como seu
sucessor. Ogedei encarregou-se de expandir o território mongol ao máximo, da Síria à Indochina, da Pérsia à Sibéria, da Hungria à
China. Posteriormente, o grande império seria dividido em 4 partes, entre
filhos e netos de Genghis, porém nenhum destes novos reinos, ou canatos, teria
uma existência longa.
No início do século XIV, Timur, o Coxo, alegando
ser descendente de Gengis Khan, se tornaria o Cã de um breve império mongol que
abarcaria toda a Mesopotâmia, a Pérsia, o Afeganistão, o Paquistão e o
norte da Índia. Ainda
nesse século, os tártaros ressurgiriam, inspirados pelas conquistas de Genghis,
para tomar o território do dissolvido Canato da Horda Dourada, na Rússia. Vários
outros levantes mongóis de menor importância tomariam lugar nos séculos
seguintes, mas o meio de vida nômade e a incapacidade de estabelecer uma
indústria armamentista logo tornaria os hábeis cavaleiros montados obsoletos
frente às novas artilharias dos países que ali faziam fronteiras.
Na Mongólia atual,
Gengis Khan é considerado o herói máximo e o pai daquela nação, cujo culto à
imagem jamais se deixou apagar, mesmo durante o regime comunista. O
aeroporto da capital do país foi renomeado para Aeroporto Internacional Gengis-Khan, em
homenagem ao imperador.
Contam as lendas
que todos os envolvidos no enterro de Gengis Khan foram mortos para manter em
segredo o local onde ele foi enterrado. E esse local realmente jamais foi
encontrado.
Fonte: Wikipédia
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