Veneza: polo de ligação
entre o Ocidente e Oriente
Henry Thomas
Francisco
de Almeida seguiu para bordo de seu navio.
- Larguem a
velas! - gritou ele para os marinheiros.
- Capitão!
- Pronto,
piloto?
O piloto era moreno, de olhos pequenos, lábios finos e nariz
chato. As ruas de Veneza estavam cheias de marinheiros iguais a ele. Veneza era
o elo entre o Oriente e o Ocidente. Viam-se ali escravos da África, negociantes
de especiarias da Arábia, mercadores de seda da China, encantadores de
serpentes do Ceilão, dançarinas da Índia, joalheiros da Espanha, comerciantes
da França e jogadores e aventureiros de todos os quadrantes da terra.
- Velejamos
para Índia.
- Mas,
Capitão, não podemos navegar hoje!
- Que quer
dizer você com isso: não podemos navegar hoje? Nossa carga para Bombaim já está
pronta: peles da Rússia, vinho de Marselha e ricos panos de Lião. E traremos de
volta pérolas, ouro e prata. Larguem as velas, digo eu!
- Mas nós
não podemos navegar. O capitão da guarda acaba justamente de trazer más
notícias.
- Más
notícias? Que significa isso?
- Os turcos
– disse o piloto – tomaram Constantinopla.
As mãos de Francisco deixaram-se
cair debilmente ao longo de seus flancos. Um navio carregado de vinho, de panos
e de peles, uma fortuna lentamente acumulada, uma vida inteira de esperanças,
tudo, porém, perdido, agora que os turcos dominavam o Mediterrâneo. Porque isso
significava o fim do comércio entre o Oriente e o Ocidente.
O Capitão deixou seu navio. E com
ele partiam XV séculos de prosperidade.
Isso aconteceu em 1543. As naus que
se aventuraram depois disso, no Mediterrâneo, eram capturadas pelos sombrios
seguidores de Maomé. Não havia mais vida alguma na Europa, nem dançarinas da
Índia, nem encantadores de serpente do Ceilão, nem ruas cheias de cores, nem
carnavais, nem espetáculos de Judas e Polichinelo. Veneza, a Joia do Sul, era
como uma cidade morta.
Mas os comerciantes tinham que
viver. Deviam procurar novos mares, novos portos, novos caminhos para alcançar
a costa, ou a vida pararia!
Para o negro e misterioso Atlântico
arrojavam-se navios de leves mastros – o demônio Atlântico – onde acreditavam
os homens que vivia o próprio diabo, que acirrava a fúria das ondas. Polegada a
polegada, arrastavam-se os navios... para a América.
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