HELÔ SAMPAIO
Começaram oficialmente as festas na
Bahia, no dia 4, com Santa Bárbara ou Iansã. Mas para mim, as festas
começam realmente no dia 29 de novembro, com São Bartolomeu, padroeiro dos
portuários. Era dia que, nos bons tempos, a gente descia para comer e
beber todas com a galera na Cidade Baixa.
Hoje, vejo com tristeza o declínio dos festejos. A festa
de Conceição da Praia fechava o Comércio. Depois do caruru de Iansã, a
gente emendava todas as noites na Conceição, e depois seguia para Santa
Luzia, a santa dos olhos, dia 13 de dezembro. Aí, vinha a pausa para
meditação do Natal, com todo mundo virgem e puro cantando o Jingle Bell.
Mas o som dos atabaques voltava a atazanar o juízo da gente com a
festa da Boa Viagem. Eu descambava para a casa de Sonia Araújo, a
minha Neguinha amada, que mora na ‘bocada’ da festa. O nome oficial do
beco é Av. Dominguinhos; o vulgo chama ‘Beco das Calçolas’. Agora, me diga
se este não é um nome mais bonito para um bequinho onde o pessoal pendura
as roupas pra secar do lado de fora? Em Nápoles, todos os prédios tem
roupa pendurada. É chique. Aqui, ficam com pudor de chamar ‘beco das
calçolas’. Eu, adoro!
Já na entrada do beco, a gente bebe ‘todas’ no Bar de Edinho,
esperando Humberto e Sonia. Depois vai entornar todas na Boa Viagem, apreciando
a saída da procissão marítima que leva o Senhor dos Navegantes
para visitar a Conceição da Praia. E volta pro Beco das Calçolas, lógico,
para a casa da Neguinha, pra acabar com as ‘loirésimas’ geladas e
arrematar com aquela feijoada, que a gente come até melar a testa. Bom
demais, “véio”.
Este último domingo de Conceição da Praia, me fez lembrar de uns
quarenta aninhos prá trás, quando eu, sem querer, ‘enfeitei’ a cabeça de
um namorado certinho, direitinho, que eu tinha. Vejam bem, que eu não tive
culpa. Eu estudava a tarde, terminando a Faculdade, além de estagiar no
jornal. Ele, terminava o curso, pela manhã, trabalhava à tarde. Então, a
gente se encontrava à noite, até 22 horas, hora de moça direita ir para a
cama. Sozinha.
Neste dia, quando o queridinho foi para casa – pois também tinha
prova para fazer, eu entrei na Residência Universitária para ir
dormir, casta e pura. Hora que a galera do agito ia saindo na maior
algazarra, no maior auê. ‘Vamos nessa, Helô. Qualé essa a de ficar em casa
na noite de Conceição da Praia? Endoidou?’ Não, não endoidei. Rodei a
bolsinha e caí na esbórnia com a ‘tchurma’.
Depois de várias ‘loirésimas’ geladíssimas, encostou na nossa mesa
o cara mais bonito da festa, alto, lindo, com um sorriso de derrubar a
Monalisa. E por quem ele se encantou? Por quem, por quem? Claro, pela
bonitinha aqui, pela gostosinha do pedaço, que esqueceu que tinha namorado
e foi com o bonitão para a roda gigante, trocar doces beijinhos de amor.
As coleguinhas olhavam mortas de inveja e de desejo pelo o meu Adônis. Um
horror! Mas eu não só via os belos olhos e doces lábios do lindão.
No outro dia, a dor de consciência bateu forte, pois o
meu namoradinho era um cara direito, não merecia aquela ‘galha’ toda. Eu
fui especialmente terna, amorosa e carinhosa com ele, que foi para casa
todo ‘passarinheiro’, já pensando em casamento. O pior é que, quando ele
saiu, o ‘cacho’ apareceu para ver se eu queria ‘tomar uma’ com ele no
Avalanche. ‘Resistir, quem há de?, diria Silvio Lamenha. Por um bom
tempo, fiquei como Dona Flor. Oh! Dor! Como é que uma moça de boa família
se comporta assim? Eu gostava do namorado, mas era só o lindão aparecer, o
coração amolecia. Depois de um tempo, terminei com os dois.
E passei a ir para as festas com ‘meu monstro’, Juvenal, que toda
noite ia me pegar na Residência. Dôia era a sua paixão, o seu amor, mas
era eu que levava a fama de ser o cacho de Juvená, para ele não apanhar do
pai de Dôia, que era brabo como o cão. Eu levava a fama sem proveito.
Foi também numa festa da Conceição que tive que dar um cheque sem
fundo a um delegado. A história foi a seguinte: Juvenal tocava um timbau
quando, num intervalo, chegou um turma e pediu o timbau por um
tempinho. Nós emprestamos, e levantamos para ver uma galera em outra
barraca. Quando voltamos, a vagabundagem tinha se mandado. E largaram o
timbau e a conta sem pagar pra nós. Juvenal chiou, que não ia pagar conta
de quem não conhecia, mas... o nosso timbau estava com eles. Para o
barraqueiro, eram nossos amigos.
Pra encurtar conversa, a ‘cana’ chegou e levou Juvenal para a
delegacia. Fui atrás, cheguei toda ‘prosa’ para o delegado, meti-lhe
um cheque sem fundo no valor da despesa, liberei Juvená e corremos para
a Residência, para acordar a galera e pedir a cada um para contribuir com
alguma grana para cobrirmos o cheque e eu também não ir parar na
delegacia. Um sufoco! Em todo tempo sempre tem um canalha para aplicar
golpe.
O pior, é que hoje as festas estão inseguras, esmoreceram, e
a gente perdeu um grande atrativo da Cidade da Bahia. Uma pena! Mas virão
outros. Importante é não perder a alegria de viver. Vamos, portanto,
preparar esta receita de vatapá de bacalhau que o meu querido amigo
Aquino, da Mural, mandou para mim, com o compromisso dele mesmo preparar
para comemorarmos o retorno de Dumas, de Sumpaulo, onde está trabalhando.
Vou aguardar afiando o apetite.
Vatapá de Bacalhau
Ingredientes – (10 porções)
-- 700 g de bacalhau
-- 1 cebola grande
-- 2 dentes de alho
-- 2 tomates sem pele e sem sementes
-- 1 pimentão verde sem sementes
-- 1 pimentão vermelho sem sementes
-- ¾ de chávena de folhas de coentro
-- 2 pães de forma sem casca
-- ½ chávena de água
-- ½ chávena de azeite-de-dendê
-- 1 chávena de camarões secos defumados, descascados
-- 2 chávenas de leite de coco
-- 2 colheres (sopa) de gengibre ralado
-- 1 chávena de castanhas de caju picadas
--Sal e pimenta a gosto
-- 700 g de bacalhau
-- 1 cebola grande
-- 2 dentes de alho
-- 2 tomates sem pele e sem sementes
-- 1 pimentão verde sem sementes
-- 1 pimentão vermelho sem sementes
-- ¾ de chávena de folhas de coentro
-- 2 pães de forma sem casca
-- ½ chávena de água
-- ½ chávena de azeite-de-dendê
-- 1 chávena de camarões secos defumados, descascados
-- 2 chávenas de leite de coco
-- 2 colheres (sopa) de gengibre ralado
-- 1 chávena de castanhas de caju picadas
--Sal e pimenta a gosto
Modo de Preparar:
-- Colocar o bacalhau numa tigela, cobrir com água e deixar de
molho na geladeira por 36 horas, trocando a água de vez em quando.
Escorrer a água e eliminar a pele e as espinhas do bacalhau.
-- Passar o bacalhau no processador junto com a cebola, o alho,
os tomates, os pimentões e o coentro. Colocar a mistura em uma tigela,
cobrir com um plástico e reservar.
-- Enquanto isso, esfarelar o pão com as mãos ou passar no
lado grosso do ralador. Colocar numa tigela grande, umedecer com a água e
deixar de molho por 30 minutos, no mínimo. Por o pão no liquidificador e
bater em velocidade alta até triturar bem. Reservar numa tigela.
-- Numa panela grande, colocar o azeite-de-dendê e aquecer em
fogo alto. Acrescentar a mistura de bacalhau e os camarões secos e
cozinhar, mexendo de vez em quando, por 15 a 20 minutos.
-- Juntar o pão e o leite de coco e continuar a cozinhar,
mexendo sempre, até surgirem bolhas na superfície da mistura. Acrescentar
o gengibre e as castanhas de caju e cozinhar por mais alguns minutos.
Verificar o tempero e juntar sal e pimenta a gosto. Tirar do fogo, colocar
numa tigela de barro.
Servir com aquele jeito de moça faceirosa, paquerando os
moços bonitos do pedaço, sem largar o rapaz direito que é seu namorado.
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