sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

DEMOCRACIA, 2500 ANOS ANTES DE JEFFERSON


Os gregos tiveram um governo democrático, 2500 anos antes que Jefferson o tivesse sonhado. E foi a
democracia num sentido mais verdadeiro que o nosso republicanismo, incluindo, como ele fez, todos os males e virtudes de uma pura experiência democrática. Cada cidadão da cidade de Atenas tomava parte na discussão de questões públicas e votava, na encosta de uma colina, que era um parlamento ao ar livre.
Qualquer cidadão só podia exercer um cargo público uma única vez; e por meio do sistema ateniense de sorteio, cada cidadão haveria de ser, uma ou outra vez na vida, empregado público. Deveis lembrar-vos, contudo, de que o número de cidadãos em Atenas era apenas de poucos milhares.
A experiência de permitir que filósofos, sapateiros, poetas e soldados dirigissem o estado – cadinho de pessoal político – não tinha precedentes. Leis particulares, trabalhos públicos, o envio de uma expedição à Sicília, a ereção de uma nova estátua de Zeus, deviam ser debatidos, com a mais brutal franqueza, por homens de partidos e ambições opostas. O montanhês rico e conservador opunha-se ao radicalismo revoltoso do homem das planícies. E republicanos jamais combateram democratas com maior vigor.
A princípio, o governo de Atenas estivera em mãos de alguns ricos, ou oligarcas. Mas o primeiro grande homem de estado, da história, Sólon, criou nova lei, que forçou os oligarcas a declarar uma moratória de dívidas. Exatamente à maneira moderna apoiou os devedores. Fez passar também uma lei exigindo que cada mulher possuísse pelo menos três vestidos.

                                                                             Sólon

Extinguiu as distinções de berço, criando um sistema de tribos ou demes. Estes eram constituídos indiscriminadamente de ricos e pobres. E assim no tempo de Solon, à semelhança de um honrado senador de Utha (Jefferson), era Policrates do deme de Hellas. Essa era a era a democracia prejefersoniana. Mais alto lá! Lancemos a vista para um homem atarracado, barbudo, que está de pés descalços, diante do tribunal, pronto a responder às acusações daqueles que querem condená-lo à morte.
A assembleia ateniense está silenciosa. Cinco mil jurados inclinam-se para diante, a fim de ouvir de que maneira irá o velho se defender.
- Falastes contra a religião, - acusa o promotor de justiça – e desencaminhas-te a nossa mocidade. Disseste-lhe que nossos políticos falam demais, embora, na realidade, não saibam o que estão dizendo e que ignoram o que seja beleza, virtude, verdade. Que respondeis a esta acusação?
O acusado é Sócrates, que havia andado pelas ruas de Atenas, andrajoso para ensinar o que fosse justiça. Fora detido por “corromper a mocidade”. Seus concidadãos, de acordo com seus democráticos princípios, tinha o poder de mandar mata-lo ou deixá-lo livre. Pelos olhares que lhe lançam, imploram-lhe que tornem sua tarefa não muito difícil.
- Amigos atenienses, - responde Sócrates, - esperais que eu peça perdão para o crime de que sou acusado. Vós me absolvereis se me prostrar de joelhos a chorar e

                                                                            Sócrates

pedir misericórdia, em nome de minha mulher e de meus filhos.  Porque é assim que costumam proceder diante de vós os acusados. Mas como, ó atenienses, posso eu pedir perdão porque falo a verdade? Como posso eu jamais retratar-me do que disse e do que fiz, quando tenho dedicado toda a minha vida a causa da sinceridade? Portanto, não posso defender-me. E que é a morte afinal, senão um agradável sono depois de um longo e árduo dia? Ora, se existe uma outra vida depois desta, quem se não regozijaria de poder ir conversar com os espíritos dos grandes homens do passado?
Sócrates foi condenado à morte por uns poucos votos dispersos. E assim cometeu a Democracia um crime, há 2500 anos passados. O governo do povo é uma ideia nobre quando o povo é bastante nobre para julgar com justiça o mais sábio e o melhor de seus cidadãos. Faltava ainda aos democratas de Atenas aptidão para desempenhar a tarefa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário