Olhai o lírio dos campos
Érico Lopes
Veríssimo (Cruz Alta, 17 de dezembro de 1905 — Porto Alegre, 28 de
novembro de 1975) foi um
dos escritores brasileiros mais
populares do século XX.1
Família e juventude
De família abastada que
se arruinou, Érico Veríssimo era filho do farmacêutico Sebastião
Veríssimo da Fonseca (1880-1935) e
da dona de casa Abegahy Lopes (dita "dona Bega").
Tinha um irmão mais novo, Ênio (1907), e uma
irmã adotiva, Maria.1 Quando
tinha quatro anos de idade, Érico Veríssimo ficou gravemente doente e,
após ser levado a vários médicos, foi
finalmente diagnosticado com meningite complicada
com broncopneumonia pelo médico Olinto de Oliveira, cujo tratamento salvou sua vida. Durante sua
infância, estudou no Colégio Venâncio Aires, em Cruz
Alta, onde foi um aluno comportado e quieto, frequentava o cinema e
observava o pai trabalhando. Por volta de 1914, com quase
dez anos, Érico criou uma "revista", Caricatura,
na qual fazia desenhos e
escrevia pequenas notas.
Aos treze anos,
Érico já lia autores nacionais, como Aluísio Azevedo e Joaquim Manoel de Macedo, e estrangeiros,
como Walter Scott, Émile Zola e Fiódor Dostoiévski. Em 1920, ele foi
matriculado no extinto Colégio Cruzeiro do Sul (hoje Colégio IPA), um internato de
orientação protestante de Porto Alegre, deixando
sua namorada Vânia
em Cruz Alta. No novo colégio, Veríssimo
foi por muito tempo o primeiro aluno de sua turma, embora tivesse aversão
à matemática.1 Em
seu último ano letivo, o jovem Érico chegou a sofrer de claustrofobia e
de pesadelos. Em dezembro de 1922,
terminados os estudos de Veríssimo, seus pais se separaram; as diferenças do
casal eram notáveis: Sebastião era um homem gastador e mulherengo e dona Bega,
uma mulher econômica e mais reclusa. Érico, sua mãe e seus irmãos passaram
então a morar na casa dos avós maternos. Deprimido e endividado, o pai perdeu
a propriedade da
farmácia. No ano seguinte, Érico empregou-se como balconista no armazém do
tio Américo Lopes e, depois, no Banco Nacional do Comércio. Durante esse
tempo, transcrevia obras de Euclides da Cunha e de Machado de Assis, dentre
outros escritores, e tomou gosto pela música lírica. Também aprofundou mais ainda a leitura de
escritores nacionais e estrangeiros. Em 1924, para que
o irmão Ênio pudesse frequentar o ginásio, a família
mudou-se para a capital gaúcha, mas retornou a Cruz Alta após um ano de extrema
dificuldade financeira. Em 1926, Érico se
tornou sócio da
Farmácia Central, junto com um amigo de seu pai, mas o novo empreendimento faliu
em 1930, deixando
uma dívida que
só conseguiria liquidar dezessete anos depois. Além de farmacêutico, Érico
também trabalhou como professor de literatura e língua inglesa à
época.
Em 1927, Veríssimo
conheceu sua futura esposa, Mafalda Halfen Volpe, então com quinze anos, e os
dois ficaram noivos em 1929. Nesse
mesmo ano, publicou-se o primeiro texto de Veríssimo: Chico: um Conto
de Natal, na revista mensal "Cruz Alta em Revista". Em seguida,
seu amigo Manuelito de Ornelas enviou os contos Ladrão
de Gado e A Tragédia dum Homem Gordo à revista do
Globo. E o jornal Correio do Povo publicou
o conto A Lâmpada Mágica.
Década de 1930
Em uma manhã de
outubro de 1930, Érico despediu-se de seu pai Sebastião, que, engajado na Revolução de 1930, resolveu mudar-se para Santa Catarina. Foi a última
vez que se viram.
Desempregado após
a falência de
sua farmácia, Érico mudou-se novamente para Porto Alegre, em dezembro de 1930,
disposto a viver de seus escritos. Mafalda, sua noiva, permaneceu em Cruz Alta.
Veríssimo então foi contratado como secretário de redação da Revista do Globo e, em
seu tempo livre, encontrava-se com intelectuais da época, como Mário Quintana e Augusto Meyer, no bar Antonello,
no centro da capital.
Em 1931, Érico
regressa a Cruz Alta, para se casar com Mafalda Volpe, e os dois passam a morar
em Porto Alegre, onde Érico havia obtido certa estabilidade financeira. Eles
tiveram dois filhos: Clarissa Verissimo (1935) e o
também escritor Luis Fernando Verissimo (1936). O casamento deles
foi bastante feliz, e Érico escreveu mais tarde que, sem a paciência e
o bom-senso da
esposa, sua carreira de escritor teria sido impossível.
Para complementar
o orçamento da
Revista do Globo, Veríssimo começou a traduzir livros do inglês para o português. A primeira tradução foi da obra O Sineiro (The
Ringer), de Edgar Wallace. Além de traduzir, passou a colaborar para as
edições dominicais dos jornais Diário de Notícias e Correio do Povo. Promovido a diretor da
Revista do Globo em 1932, Érico
começou a indicar mais livros estrangeiros para tradução e publicação. No mesmo
ano, ele publica sua obra de estreia, Fantoches, uma coletânea de
contos, em sua maioria na forma de pequenas peças de teatro. Contudo,
as vendas do livro não foram boas, e um incêndio destruiu
o local ondem estavam armazenados os exemplares restantes.
Em 1933, Érico
Veríssimo traduziu o célebre livro Contraponto (Point Counter Point), de Aldous Huxley, e
publicou seu primeiro romance: Clarissa, cujos
sete mil exemplares foram vendidos em cinco anos. Seu segundo romance, Caminhos Cruzados, publicado
em 1935, chegou a ser considerado subversivo pela Igreja Católica e
pelo Departamento de Ordem Pública e Social, levando Érico a ser interrogado
pela polícia a
respeito de sua orientação política.
Em 1936, Érico
publicou dois romances que foram continuações de Clarissa: Música ao Longe, pelo qual
ganhou o Prêmio Machado de Assis, e Um Lugar ao Sol. Além
disso, ele criou, na Rádio Farroupilha, um programa infantil, O Clube dos Três
Porquinhos, que saiu do ar quando o Estado Novo estava prestes a submetê-lo ao departamento
de censura.
Em 1938, Érico
Veríssimo publicou sua primeira obra de repercussão nacional e internacional, Olhai os Lírios do Campo, que foi traduzido
do inglês ao indonésio.
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Posso afirmar que só depois do aparecimento de Olhai os Lírios do
Campo é que pude fazer profissão da literatura.
|
— Érico
Veríssimo
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Érico então assumiu
a função de conselheiro literário da Editora do Globo, selecionando, ao lado
de Henrique Bertaso, mais escritores estrangeiros (Thomas Mann, Virginia Woolf, Balzac, entre
outros) para serem traduzidos e participando da criação as coleções Nobel e Biblioteca
do Séculos, que foram grandes sucessos.
Década de 1940
Em 1940, depois do
sucesso Olhai os Lírios do Campo, Érico Veríssimo publicou Saga,
considerado pelo próprio autor como seu pior romance.
Em 1941, Érico
Veríssimo morou por três meses nos Estados Unidos para
proferir conferências, em uma estada financiada pelo Departamento de Estado como parte
da Política da Boa Vizinhança, do governo
de Franklin Roosevelt. De volta ao Brasil, ele presenciou um incidente
real que o inspirou a escrever seu livro seguinte: em um passeio pela Rua da Praia com
seu irmão, Érico testemunhou a queda de uma mulher do alto de um prédio. Dois anos
depois, publicou o romance O Resto É Silêncio, cujo ponto
de partida é o suicídio de
uma mulher que se atira de um edifício. O livro recebeu fortes críticas
do clero.
Em 1943, ele se
mudou com a família para os Estados Unidos novamente a convite do Departamento
de Estado, desta vez para uma estada de dois anos, durante os quais ministrou
aulas de Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia em
Berkeley. Sobre essas viagens ao exterior, Érico escreveu dois livros: Gato preto em campo de neve (1941)
e A volta do gato preto (1947). Érico
também aceitara o convite de trabalhar nos Estados Unidos porque discordava das
políticas da ditadura de Getúlio Vargas.
Foi a partir 1947
que Érico Veríssimo começou a escrever sua obra-prima, a trilogia O Tempo e o Vento. A ideia
inicial do escritor era reunir duzentos anos da história do Rio Grande do Sul (1745 a 1945)
em um único volume; todavia, no final, ele escreveu três volumes, totalizando 2,2
mil páginas. O primeiro volume, O Continente, foi publicado
em 1949 e
marca o momento mais importante da carreira de Veríssimo. De O
Continente saíram alguns personagens primordiais e bastante populares
entre seus leitores, como Ana Terra e o Capitão
Rodrigo Cambará.
Década de 1950
Em 1950, na praia de Torres, Érico
Veríssimo começou a escrever o segundo volume de O Tempo e o Vento,
intitulado O Retrato, publicado no ano seguinte. Foi descrito por
Érico como literariamente inferior ao O Continente. Em 1952, novamente
em Torres, Érico tentou escrever o terceiro e último volume da trilogia, mas
acaba publicando Noite em 1954, o qual
fez mais sucesso no exterior. No mesmo ano, é agraciado com o prêmio Machado de
Assis, pela Academia Brasileira de Letras.
Entre 1953 e 1956, Érico
voltou a residir nos Estados Unidos, para assumir a direção do Departamento
de Assuntos Culturais da Organização dos Estados Americanos, em Washington. Neste
cargo, ele havia sucedido Alceu Amoroso Lima. Nessa época, tentou de novo escrever a última
parte de O Tempo e o Vento, sem sucesso. Antes de embarcar ao
Brasil, Érico recebe a notícia de que sua filha está noiva de um americano,
David Jaffe. Clarissa e David deram três netos à Veríssimo.
Em 1957, em Porto
Alegre, Érico tenta mais uma vez escrever o último volume de O Tempo e
o Vento, chamado O Arquipélago, mas acaba dando início a México,
narrando sua viagem àquele país. Outra tentativa de finalizar O
Arquipélago ocorre em janeiro de 1958,
infrutífera. Em abril do mesmo ano, ele relata ter sentido algum problema
no coração.
Década de 1960 e 1970
Em 1961, Érico
sofreu seu primeiro infarto do miocárdio. Após um
repouso absoluto, volta a trabalhar na obra O Arquipélago. Quando
decide viajar à Grécia com a
esposa em 1962, Érico
entrega O Arquipélago pronto para ser publicado. No dia 12 de outubro de 1963, vítima
de câncer de pulmão, faleceu a mãe de Érico, aos setenta e oito anos.
No ano seguinte, Luis Fernando Verissimo, inesperadamente, casou-se com Lúcia
Helena Massa, e eles também deram três netos a Veríssimo.
Em 1965, Érico
publicou o romance O Senhor Embaixador, no qual refletia
sobre os descaminhos da América Latina. Ganhou
então o Prêmio Jabuti, na categoria romance, da Câmara Brasileira de
Livros. Publica sua autobiografia em 1966, O
Escritor diante do Espelho, que é ampliada mais tarde.
No romance Incidente em Antares, de 1971, Érico
traçou um apanhado da história do Brasil desde os primeiros tempos e enveredou pelo
fantástico, com uma rebelião de cadáveres durante
uma greve de coveiros na
fictícia cidade de Antares. Em 1972, na
comemoração dos quarenta anos de lançamento de seu primeiro livro, Érico
relançou Fantoches, com desenhos e notas de sua autoria.
Em 1973, publica o
primeiro volume de Solo de Clarineta, sua
segunda e ampliada autobiografia. O enfarte que vitimou Veríssimo em novembro
de 1975 impediu-o
de completar o segundo volume de sua autobiografia, programada para ser uma
trilogia, além de um romance que se chamaria A Hora do Sétimo Anjo. No
ano seguinte, foi publicado postumamente o segundo volume de Solo de Clarineta,
organizado por Flávio Loureiro Chaves.
Por ocasião do
falecimento de Érico, Carlos Drummond de Andrade publicou
o poema A
falta de Erico Verissimo.
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