A Catedral
Basílica Primacial São Salvador é a igreja mãe de todas as igrejas na circunscrição Eclesiástica
de São Salvador da Bahia, onde fica a cátedra doarcebispo metropolitano e primaz do Brasil.
Nela também se encontra a sede da Paróquia da Transfiguração do Senhor. Essa
igreja
Catedral é a antiga capela do colégio dos jesuítas, que no ano de sua supressão foi entregue
à Arquidiocese, e também porque a antiga catedral fora demolida.
É
nesta igreja que o arcebispo primaz preside os principais atos litúrgicos de
sua sé. Chama-se de Catedral Primacial por se tratar da catedral da primeira
arquidiocese do Brasil. É um dos monumentos barrocos mais importantes do centro
histórico de Salvador,
com proporções majestosas e esplêndida obra de talhanos altares.
Quando
os jesuítas chegaram a Salvador, em 1549, integrando a comitiva do governador-geral Tomé de Sousa,
fundaram uma
pequena capela dedicada a Nossa
Senhora da Ajuda, dentro dos muros da cidade.
Mas não se demoraram muito ali, pois receberam em doação um terreno fora dos
muros. Sobre essa condição, as referências são vagas, havendo o registro
feito em 1663 por Simão de Vasconcelos em "Crônica da Companhia de Jesus", onde se lê:
"Razão
tinha Manuel da Nóbrega para dar a Tomé de Sousa, quando este lhe objetava estar fora da
cidade o local escolhido para o Colégio; a mesma resposta que o Padre Simão
Rodrigues deu a El-Rei D. João III perante
objeção idêntica, a respeito da casa de S. Roque, em Lisboa: Não se arreceie
Vossa Alteza de ficar a casa fora da Cidade; a cidade virá juntar-se ao redor
da casa. E assim foi. O grande bairro dos Andrades teve como célula genética a
casa de S. Roque, como o Colégio da Bahia veio a fazer do Terreiro
de Jesus o ponto central de
Salvador."
Assim,
em 1550 foi fundado o Colégio dos Meninos com sua capela, todos ainda
em taipa,
material que logo se arruinara, sendo várias vezes reedificado. Coube aMem de Sá a
construção de um templo em alvenaria. Fernão Cardim,
em 1585, assim o descreveu:
"A
igreja é capaz, bem cheia de ricos ornamentos de damasco branco e roxo, veludo
verde e carmesim, todos com tela d'ouro; tem uma cruz e turíbulo de
prata, uma boa custódia para as endoenças, muitos e devotos painéis de Cristo e
todos os Apóstolos. Todos os três altares têm dosséis, com suas cortinas detafetá carmesim. Tem uma cruz de prata dourada,
de maravilhosa obra, com Santo Lenho, três cabeças das onze mil virgens, com
outras muitas e grandes relíquias de santos, e uma imagem de Nossa Senhora de
S. Lucas mui formosa e devota"
A
atual igreja é a quarta a ser erguida no mesmo local. A autoria do projeto é
incerta, mas o visitador padre Cristóvão
de Gouveia afirmou ter alterado o
risco original do irmão Francisco
Dias. Sua pedra fundamental foi
lançada em 1657, sendo inaugurada e consagrada em 1672. Mas ainda não estava
totalmente pronta. O frontispício foi
concluído em torno de 1679, os sinos vieram de Portugal somente em 1681, as
torres foram arrematadas em 1694 e a decoração interna se estendeu por muito
mais tempo. Em 1746 foram instaladas estátuas na fachada.
Apesar
de ter sido construída durante o período barroco, a arquitetura da Catedral tem um estilo
geral maneirista.
O revestimento da fachada e do interior é de pedra de lioz importada
de Portugal expressamente para a construção. A fachada é austera e monumental,
dividida em cinco módulos verticais separados por pilastras. Nos três módulos centrais se abrem portas
coroadas por frontispícios onde
há nichos para estátuas. Acima delas se abrem pequenas janelas. No nível
superior, separado por uma larga cornija, há cinco janelas também coroadas por
frontispícios, mas de menores dimensões. O último nível é o do frontão, vazado por uma janela quadrada, coroado por
uma cruz e pináculos,
e ladeado por duas grandes volutas. Nas extremidades se elevam dois pequenos campanários com coruchéus prismáticos.
Possui
uma única nave,
uma capela-mor ladeada
de duas pequenas capelas, mais duas capelas no transepto e outras ao longo da nave. A decoração das
capelas secundárias é desigual e de difícil datação, tendo sido ornamentadas em
diferentes períodos e várias vezes reformadas entre os séculos XVII e XVIII por
vários artistas, entre eles o entalhador João Correia,
os irmãos Luís
Manuel Trigueiros e Domingos
Trigueiros, e os pintores Domingos Rodrigues e Eusébio de Matos. As únicas capelas que guardam sua configuração original são as
de Santa Úrsula, São Francisco Xavier e Santo
Inácio de Loyola. O altar-mor data de 1665-1670, executado pelo irmão
João Correia e auxiliares. Possui uma rica talha dourada,
de grande importância artística e histórica, sendo um dos poucos altares
maneiristas do Brasil. Em 1670 foi aberto um camarim na parte superior para
exposição do Santíssimo Sacramento, decorado com painéis com as imagens de Santo Inácio e São Francisco
Xavier, pintadas pelo irmão Domingos Rodrigues, autor de outros painéis na
mesma capela. Em 1746 foi instalada uma imagem de Cristo Salvador em um nicho
sobre o arco do cruzeiro, acima da capela-mor.
À
esquerda da capela-mor está a capela do Santíssimo Sacramento, que recebeu
muitas das alfaias procedentes
da antiga Sé quando
esta foi demolida, entre elas um relicário de
ouro e prata cravejado de diamantes, duas credências de altar e três palmas de
prata. A capela do lado direito, atualmente dedicada a Nossa
Senhora das Dores, foi descaracterizada por
sucessivas reformas, o fundo foi perdido, embora ainda preserve uma talha rica
nas laterais e duas grandes estátuas. As duas capelas do transepto, por outro
lado, de dimensões comparáveis à capela-mor, possuem monumentais altares
barrocos, instalados em 1754, dedicados a São Francisco Xavier e Santo Inácio,
além de pinturas emolduradas em talha que cobrem paredes e teto.
As
capelas secundárias na nave originalmente guardavam preciosas obras de arte,
mas pelas reformas ocorridas ao longo do tempo muitas se perderam, e outras
foram transferidas para outros locais, como a sacristia e o Museu de Arte Sacra. Entre as
relíquias que sobreviveram se destacam um busto-relicário de Santo Inácio
revestido de prata, a imagem de Nossa Senhora das Maravilhas, também prateada,
e bustos de Santa Úrsula e mais dez mulheres representativas das Onze Mil
Virgens. O teto da nave tem uma rica
decoração em talha com símbolos jesuíticos, em cujo centro se encontra um
grande medalhão radiante com o monogramaIHS (Iesus Hominum Salvator - Jesus
Salvador dos Homens), o símbolo da Companhia de Jesus.
No batistério se
encontra uma grande pia batismal esculpida
em um bloco único de pedra de lioz. A ampla sacristia também possui tesouros,
destacando-se três altares barrocos de mármore multicolorido proveniente da
Itália, onde são expostas estátuas e pinturas de grande porte; um grande arcaz entalhado em jacarandápor Luís
Manuel de Matosinhos e Cristóvão de Aguiar, com incrustações de marfim e casco de tartaruga, e pinturas
encaixadas de autoria do italiano Gerardo
della Notte, e um lavabo em pedra. Na
parede sobre o arcaz existe uma série de grandes pinturas sobre o Antigo Testamento, e o teto é decorado com pintura em caixotões, mostrando mártires e
apóstolos jesuítas junto com motivos florais em estilo maneirista. As paredes
são revestidas até meia-altura de azulejos pintados.
A
antiga livraria do colégio se localiza acima da sacristia. Seu acesso é feito
por uma passagem com revestimentos de azulejos, e possui uma notável pintura em
seu teto, no estilo da arquitetura ilusionística, com alegorias do Tempo e da Fortuna, atribuídas a Antônio
Simões Ribeiro. Hoje ali funciona o Museu de
Arte Sacra. A Catedral e todo o seu acervo foram tombados pelo Iphan em 1938 pela sua grande importância
histórica e artística.
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