quinta-feira, 6 de março de 2014

HISTÓRIAS DE SEBASTIÃO NERY*

Sebastião Nery

Os dois bancos
Serafim Rodrigues, “Semi Rodrigues”, filho do velho coronel mineiro e chefe político de Goiás, Miguel Rodrigues, e irmão do deputado Orensi Rodrigues, era uma das maiores fortunas do Estado: boiadeiro, fazendeiro, comerciante, industrial. E dono do Agrobanco de Goiás.

Um dia, leu nos jornais uma declaração do ministro (da Indústria e Comércio de Geisel) Ângelo Calmon de Sá, principal dono do Banco Econômico, dizendo que o Econômico ia comprar o Agrobanco e mais outro. Não havia nada daquilo. A declaração era falsa, uma isca.
“Semi” Rodrigues engoliu em seco, ficou calado. Dias depois, recebeu um convite do Banco Central para ir lá. Foi.
“Semi” Rodrigues
Um diretor do Banco Central, cara de esperto, esperava o dono do Agrobanco cheio de papéis na mesa:
- O senhor é Serafim Rodrigues Morais?
- Sou.
- E quem é “Semi” Rodrigues?
- Sou eu.
- Como é que pode? O senhor é Serafim ou “Semi”?
- Sou os dois, senhor diretor. Meu nome de batismo é Serafim. Mas em Goiás, Minas. Mato Grosso, São Paulo, Paraná, onde negocio, só me chamam de “Semi”. Faz diferença?
- Faz e muita, senhor Serafim. Banqueiro só pode ter um nome. Banqueiro com dois. O senhor não pode ser dono do Agrobanco.
Ângelo Calmon
“Semi” lembrou-se da entrevista de Ângelo Calmon, entendeu tudo, levantou-se, foi saindo:
- Olhe moço, tenho dois nomes, mas sou um só e garanto os dois nomes. Conheço banqueiro ai, de um só nome, que não garante nem os próprios cheques.
O Banco Econômico (da Bahia) desapareceu antes do Agrobanco. Começou a explodir por cheques sem fundo.
* Sebastião Nery é a trombeta de ouro do jornalismo baiano. Rivaliza em talento com os nomes de Jorge Calmon, Ranulfo Oliveira, Aristóteles Gomes, Adroaldo Ribeiro Costa e uma plêiade de figuras regionais que guindou o jornalismo baiano ao patamar da excelência.
Eu o conheci Deputado Estadual. Mas antes de tudo foi um seminarista, idealista, poeta (dos maiores, nesta terra de poetas).
Irrequieto, amante da liberdade, migrou da terra natal para se inserir entre os grandes do jornalismo brasileiro, sem, contudo, abdicar das qualidades que o diferenciam dos demais: ser amigo dos amigos e portador da simplicidade dos bons.
A partir de hoje, este blog, na medida do possível, passará a contar suas histórias.
Seja bem-vindo Sebastião.

LCFACÓ-Blog do Facó

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