Sebastião Nery
Os dois bancos
Serafim
Rodrigues, “Semi Rodrigues”, filho do velho coronel mineiro e chefe político de
Goiás, Miguel Rodrigues, e irmão do deputado Orensi Rodrigues, era uma das
maiores fortunas do Estado: boiadeiro, fazendeiro, comerciante, industrial. E
dono do Agrobanco de Goiás.
Um dia, leu
nos jornais uma declaração do ministro (da Indústria e Comércio de Geisel)
Ângelo Calmon de Sá, principal dono do Banco Econômico, dizendo que o Econômico
ia comprar o Agrobanco e mais outro. Não havia nada daquilo. A declaração era
falsa, uma isca.
“Semi”
Rodrigues engoliu em seco, ficou calado. Dias depois, recebeu um convite do
Banco Central para ir lá. Foi.
“Semi” Rodrigues
Um diretor
do Banco Central, cara de esperto, esperava o dono do Agrobanco cheio de papéis
na mesa:
- O senhor é
Serafim Rodrigues Morais?
- Sou.
- E quem é
“Semi” Rodrigues?
- Sou eu.
- Como é que
pode? O senhor é Serafim ou “Semi”?
- Sou os
dois, senhor diretor. Meu nome de batismo é Serafim. Mas em Goiás, Minas. Mato
Grosso, São Paulo, Paraná, onde negocio, só me chamam de “Semi”. Faz diferença?
- Faz e
muita, senhor Serafim. Banqueiro só pode ter um nome. Banqueiro com dois. O
senhor não pode ser dono do Agrobanco.
Ângelo Calmon
“Semi” lembrou-se
da entrevista de Ângelo Calmon, entendeu tudo, levantou-se, foi saindo:
- Olhe moço,
tenho dois nomes, mas sou um só e garanto os dois nomes. Conheço banqueiro ai,
de um só nome, que não garante nem os próprios cheques.
O Banco
Econômico (da Bahia) desapareceu antes do Agrobanco. Começou a explodir por
cheques sem fundo.
* Sebastião Nery é a trombeta de ouro do jornalismo baiano. Rivaliza em
talento com os nomes de Jorge Calmon, Ranulfo Oliveira, Aristóteles Gomes,
Adroaldo Ribeiro Costa e uma plêiade de figuras regionais que guindou o
jornalismo baiano ao patamar da excelência.
Eu o conheci Deputado Estadual. Mas antes de tudo foi um
seminarista, idealista, poeta (dos maiores, nesta terra de poetas).
Irrequieto, amante da liberdade, migrou da terra natal para
se inserir entre os grandes do jornalismo brasileiro, sem, contudo, abdicar das
qualidades que o diferenciam dos demais: ser amigo dos amigos e portador da
simplicidade dos bons.
A partir de hoje, este blog, na medida do possível, passará
a contar suas histórias.
Seja bem-vindo Sebastião.
LCFACÓ-Blog do Facó
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