segunda-feira, 10 de março de 2014

QUANDO A VIDA AINDA TEM SIGNIFICADO

CONSUELO PONDÉ


  
Costuma-se imaginar que o fato de envelhecer implica no desejo de morrer. Entretanto, a experiência demonstra o contrário. Envelhecer com atividade, com disposição para o trabalho, atento ao que se passa
no mundo, é de extrema importância para quem pretende estender seu tempo de vida. Interessar-se pela cidade, pelo país e pelo mundo, é manter-se antenado com que se encontra em seu entorno ou fora dele.
Verdade é que algumas pessoas, estiradas no tempo de permanência na terra, queixam-se dos dias longos, das noites de insônia, do desinteresse pela comida, pelas distrações, pela falta de quem possa partilhar de suas lembranças e experiências passadas.
Dois deles, por exemplo, que ultrapassaram a barreira dos 100 anos, confidenciaram-me que precisavam “descansar” definitivamente. Estavam sozinhos no mundo despovoado dos seus contemporâneos. Alegavam que haviam perdido o interesse pela conversa, pois escutavam mal, detestavam assistir televisão, porque consideravam passatempo cansativo e não mais se ajustavam aos modos e modas dos dias atuais. 
A maior parte dos idosos se sente terrivelmente só, mesmo quando não se encontram senis. Outros tantos se queixam de desconfortos físicos e dores, que devem ser sanados, caso seja possível, pois, em caso contrário, não só se inquietam como causam cansaço nos outros. São pessoas “rabugentas” que não mais se ajustam às normas atuais, nem se conformam porque as coisas mudaram e não são semelhantes às circunstâncias do passado.
Fundamental é ter a consciência de que se é válido e também de que, mesmo com algumas deficiências, ainda se é útil à família e à comunidade. Por isso, manter a vida em ordem é assegurar o sentido da existência. Daí a importância de conduzir os idosos a participarem de acontecimentos relacionados com os seus interesses. Utilizar seus dons e sabedoria na transmissão de experiência para os jovens é forma de valorizá-los. 
Mobilizar os potenciais dessas pessoas para ajudá-las a vencer a imobilidade dos que se acomodam a uma vida arredia, distante das alegrias propiciadas por amigos e parentes, é salutar, recomendável e generoso.
Aposentar-se muito cedo e nada mais fazer de útil, para si próprio e para os outros, é contraproducente e desestimulante. Recomendável é que se possam manter as obrigações rotineiras, salvo se existirem problemas de saúde de certa gravidade. Pessoalmente, não me apetece permanecer em locais que se destinam apenas às pessoas idosas, parecendo-me essa segregação por faixas etárias avançadas, um desconfortável confinamento. 
A simples visão de crianças retornando da escola, o riso alegre dos moços nos parques, nas praias, nos shoppings, na piscina ou mesmo nas ruas, funciona como distração, trazendo de volta recordações agradáveis de um passado já vivido.
Triste é conversar com pessoas idosas ou muito idosas que se encontram nos asilos, muitas das quais foram rejeitadas por suas famílias e, por isso mesmo, se sentem infelizes e solitárias. Na velhice, as esperanças se relacionam com os descendentes e é tão bom acompanhar o progresso dos que despontam para o mundo.
Experiências vividas por pessoas que se dedicam aos moribundos afirmam que os indivíduos que acreditam na reencarnação, ainda que jovens, aceitam a morte com uma paz e uma serenidade confortadora, ao passo que os cristãos sentem dificuldade em aceitá-la, embora creiam na imortalidade da alma. Se têm fé na eternidade, não há o que temer, pois permanecerão vivos em outra  dimensão.
Cuidar-se, alimentar-se bem, distrair-se, buscar formas de convivência prazerosa, é meio caminho andado para quem tem vitalidade e energia. Manter a mente serena, não perturbar-se, enfrentar o dia a dia sobranceiramente, constituem a fórmula correta de sobreviver ao desgaste físico e mental. 
Diminuir a ansiedade, viver uma vida tão normal quanto possível, fazer exercícios, caminhar, adotar práticas de relaxamento, meditar ou ter outras atividades é contribuir para uma vida saudável. O que deve ser evitado é o estresse, a preocupação, enfim, os estados desestabilizadores que prejudicam o desempenho normal do cérebro e promovem o seu cansaço.
Por outro lado, praticar qualquer religião, profundo relacionamento com Deus, são suportes que ajudam a encarar a morte serenamente.


Nenhum comentário:

Postar um comentário