CONSUELO PONDÉ
Costuma-se imaginar que o fato de
envelhecer implica no desejo de morrer. Entretanto, a experiência demonstra o
contrário. Envelhecer com atividade, com disposição para o trabalho, atento ao
que se passa
no mundo, é de extrema importância para quem pretende estender seu
tempo de vida. Interessar-se pela cidade, pelo país e pelo mundo, é manter-se
antenado com que se encontra em seu entorno ou fora dele.
Verdade é que algumas pessoas, estiradas no tempo de permanência na
terra, queixam-se dos dias longos, das noites de insônia, do desinteresse pela
comida, pelas distrações, pela falta de quem possa partilhar de suas lembranças
e experiências passadas.
Dois deles, por exemplo, que ultrapassaram a barreira dos 100 anos,
confidenciaram-me que precisavam “descansar” definitivamente. Estavam sozinhos
no mundo despovoado dos seus contemporâneos. Alegavam que haviam perdido o
interesse pela conversa, pois escutavam mal, detestavam assistir televisão,
porque consideravam passatempo cansativo e não mais se ajustavam aos modos e
modas dos dias atuais.
A maior parte dos idosos se sente terrivelmente só, mesmo quando não se
encontram senis. Outros tantos se queixam de desconfortos físicos e dores, que
devem ser sanados, caso seja possível, pois, em caso contrário, não só se
inquietam como causam cansaço nos outros. São pessoas “rabugentas” que não mais
se ajustam às normas atuais, nem se conformam porque as coisas mudaram e não
são semelhantes às circunstâncias do passado.
Fundamental é ter a consciência de que se é válido e também de que,
mesmo com algumas deficiências, ainda se é útil à família e à comunidade. Por
isso, manter a vida em ordem é assegurar o sentido da existência. Daí a
importância de conduzir os idosos a participarem de acontecimentos relacionados
com os seus interesses. Utilizar seus dons e sabedoria na transmissão de
experiência para os jovens é forma de valorizá-los.
Mobilizar os potenciais dessas pessoas para ajudá-las a vencer a
imobilidade dos que se acomodam a uma vida arredia, distante das alegrias
propiciadas por amigos e parentes, é salutar, recomendável e generoso.
Aposentar-se muito cedo e nada mais fazer de útil, para si próprio e
para os outros, é contraproducente e desestimulante. Recomendável é que se
possam manter as obrigações rotineiras, salvo se existirem problemas de saúde
de certa gravidade. Pessoalmente, não me apetece permanecer em locais que se
destinam apenas às pessoas idosas, parecendo-me essa segregação por faixas
etárias avançadas, um desconfortável confinamento.
A simples visão de crianças retornando da escola, o riso alegre dos
moços nos parques, nas praias, nos shoppings, na piscina ou mesmo nas ruas,
funciona como distração, trazendo de volta recordações agradáveis de um passado
já vivido.
Triste é conversar com pessoas idosas ou muito idosas que se encontram
nos asilos, muitas das quais foram rejeitadas por suas famílias e, por isso
mesmo, se sentem infelizes e solitárias. Na velhice, as esperanças se
relacionam com os descendentes e é tão bom acompanhar o progresso dos que despontam
para o mundo.
Experiências vividas por pessoas que se dedicam aos moribundos afirmam
que os indivíduos que acreditam na reencarnação, ainda que jovens, aceitam a
morte com uma paz e uma serenidade confortadora, ao passo que os cristãos
sentem dificuldade em aceitá-la, embora creiam na imortalidade da alma. Se têm
fé na eternidade, não há o que temer, pois permanecerão vivos em outra
dimensão.
Cuidar-se, alimentar-se bem, distrair-se, buscar formas de convivência
prazerosa, é meio caminho andado para quem tem vitalidade e energia. Manter a
mente serena, não perturbar-se, enfrentar o dia a dia sobranceiramente,
constituem a fórmula correta de sobreviver ao desgaste físico e mental.
Diminuir a ansiedade, viver uma vida tão normal quanto possível, fazer
exercícios, caminhar, adotar práticas de relaxamento, meditar ou ter outras
atividades é contribuir para uma vida saudável. O que deve ser evitado é o
estresse, a preocupação, enfim, os estados desestabilizadores que prejudicam o
desempenho normal do cérebro e promovem o seu cansaço.
Por outro lado, praticar qualquer religião, profundo relacionamento com
Deus, são suportes que ajudam a encarar a morte serenamente.
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