Fernando Alcoforado*
As causas
fundamentais da instabilidade política devem ser identificadas em dois níveis
importantes:
1) no funcionamento do modo de produção capitalista (estrutura
econômica)
o qual tem um caráter instável e que provoca efeitos positivos ou negativos
no âmbito
do aparelho de Estado; e, 2) no funcionamento do Estado (estrutura jurídico
política)
o qual
pode gerar instabilidades econômicas e político-institucional (Ver o
artigo Elementos
para uma análise marxista da instabilidade política no Estado
burguês
elaborado por Aldo Durán Gil, Doutor em
Ciências Sociais, professor da
Universidade
Federal de Uberlândia, no website
<http://www.unicamp.br/cemarx/ANAIS%20IV%20COLOQUIO/comunica%E7%F5es
/GT3/gt3m3c1.pdf>).
Em relação
ao nível da estrutura econômica, sabemos, principalmente pelas análises de
Karl Marx
em O Capital, que a lógica de funcionamento do sistema capitalista é
caracterizada
por sua natureza instável provocada tanto pela anarquia da produção como
pelas
crises periódicas nos planos da produção, distribuição e circulação. Um aspecto
importante
da operação do sistema capitalista diz respeito à exploração dos
trabalhadores
pelos proprietários dos meios de produção contribuindo para o
acirramento
da luta entre trabalho e capital. Outro grande problema associado ao
sistema
capitalista de produção diz respeito à baixa tendencial da taxa média de lucro.
O
funcionamento da economia capitalista apresenta também uma tendência permanente
de crise
geral e de ciclos e flutuações econômicas de prosperidade e declínio, que
provocam
crises econômicas potenciais a curto e médio prazos. Trata-se de dois tipos de
crise
geral: a crise estrutural e a crise conjuntural que se convertem em fontes
potenciais
de
instabilidade econômica que levam à instabilidade no plano político. Quando o
sistema
econômico apresenta desempenho que se traduz em ganhos para as classes
dominantes
em termos de lucros crescentes e para a sociedade como um todo em termos
de geração
crescente de emprego e renda, é alcançada a estabilidade política. A
instabilidade
política acontece quando as classes dominantes e os trabalhadores são
afetados
pelo desempenho insatisfatório do sistema econômico.
No âmbito
da estrutura político- institucional (Estado), os principais fatores causadores
de
instabilidade política estão relacionados aos efeitos produzidos pelo
desempenho das
funções
fundamentais do Estado burguês. Em primeiro lugar, o Estado burguês
desempenha
uma função de atender primordialmente os interesses do capital frustrando
a maioria
da população que desejaria que ele se colocasse a serviço de toda a sociedade.
Historicamente,
tal função é desempenhada pelos Estados capitalistas de modo geral
inclusive
com o uso da força quando setores insatisfeitos da sociedade se rebelam contra
esta
situação. Na medida em que o Estado e as classes dominantes não consigam
atenuar a
instabilidade política existente pela incapacidade de atender as demandas das
classes e
setores sociais subalternos há tendência de evoluir para uma crise política.
O Brasil
vive momentos de instabilidade política de natureza econômica porque a
política
econômica neoliberal posta em prática pelo atual governo não tem condições de
reativar a
economia brasileira. O crescimento econômico baixo e declinante, a taxa
elevada de
desemprego (20,8 % da população economicamente ativa) e a volta da
inflação
tendem a se agravar alimentando a insatisfação de setores das classes
dominantes
contra o governo devido ao Custo Brasil (taxas de juros reais elevadas,
altíssima
carga tributária, altos custos trabalhistas, elevados custos do sistema
previdenciário,
legislação fiscal complexa e ineficiente, alto custo da energia elétrica,
infraestrutura
precária e falta de mão de obra qualificada) e da maioria da população
contra o
Estado brasileiro devido à péssima qualidade dos serviços públicos de
educação e
saúde, entre outros.
O Brasil
vive momentos de instabilidade política de natureza institucional devido ao
fato de
que a democracia representativa em vigor no País vive uma crise profunda
porque é,
na verdade, uma democracia apenas para os ricos e corruptos. No sistema
político
brasileiro, as eleições são uma farsa porque são controladas pelos detentores
do
capital
que fazem com que vençam majoritariamente os candidatos a serviço das
grandes
empresas. Trata-se de um jogo de cartas marcadas porque os grupos
econômicos
nacionais e internacionais impulsionam os grandes partidos financiando
suas
eleições milionárias como demonstraram, por exemplo, as denúncias sobre o
"mensalão"
envolvendo o PT e outros partidos. Nos países pobres e também nos ricos, o
Estado
sempre foi um espaço de manutenção ou de expansão de fortunas de políticos e
seus
comparsas. Os escândalos de corrupção atingem todos os poderes da República no
Brasil.
É
importante observar que a instabilidade econômica não se traduz necessariamente
em
instabilidade
política, nem a instabilidade política resulta necessariamente em
instabilidade
econômica. Entretanto, no Brasil, a instabilidade econômica resultante da
incapacidade
do Estado em solucionar os problemas estruturais do País e a instabilidade
política
resultante da incapacidade do sistema político brasileiro de combater a
corrupção
que se alimentam reciprocamente podem provocar uma crise política de
grandes
proporções de consequências imprevisíveis. Esta crise que afeta o Brasil é tão
profunda
que afeta o conjunto da sociedade brasileira. A protelação na solução dos
problemas
estruturais de natureza econômica e na superação dos problemas que afetam
o sistema
político representativo da nação pode conturbar a vida futura do Brasil. As
eleições
de outubro próximo são decisivas para que o povo brasileiro possa eleger novos
governantes
que sejam capazes de realizar as mudanças políticas, econômicas e sociais
no Brasil,
haja vista que o bloco no poder durante os governos recentes de Lula e Dilma
Rousseff
demonstraram incapacidade de realizá-las.
O
lamentável é que nenhum dos candidatos que se opõem ao atual bloco no poder não
sinaliza
na direção das mudanças exigidas pelo povo brasileiro. Não está claro que os
candidatos
presidenciais que se opõem a Dilma Rousseff deixarão de adotar a política
econômica
neoliberal e antinacional inaugurada em 1990 por Fernando Collor,
aprofundada
no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) e mantida nos governos
Lula e
Dilma Rousseff que está contribuindo para o País apresentar pífio crescimento
econômico
com taxas anuais de 1,45% de 1994 a 2012, promover a desindustrialização
acelerada
do País e a crescente desnacionalização da economia brasileira, bem como a
privatização
de portos, aeroportos e rodovias e, também, do petróleo da camada pré-sal
devido à
insuficiência de recursos públicos para investimento. Nenhum dos candidatos
de
oposição se propõem a auditar e renegociar a dívida pública que é responsável
pela
destinação
de quase 50% do orçamento da União para o pagamento do serviço da
dívida,
fato este que inviabiliza os investimentos na infraestrutura econômica
(energia,
transportes
e comunicações) e social (educação, saúde, saneamento básico e habitação).
As crises
econômicas e do sistema político no Brasil estão estreitamente articuladas
com o
fenômeno da instabilidade econômica e política que se agrava a cada dia. É
preciso evitar que a instabilidade econômica e política da era contemporânea
conduza o
Brasil a
um novo regime de exceção. Compete ao povo brasileiro evitar que este cenário
aconteça.
*Fernando Alcoforado, membro da Academia Baiana de Educação,
engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela
Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de
planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento
de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da
Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo,
2006), Bahia- desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary
Conditions of the Economic and Social Development-The Case of the State of
Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken,
Germany, 2010), Aquecimento Global e
Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba,
2012), entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário