Por JOÃO EUDES COSTA
Imortal da Academia Quixadaense (CE) de Letras
Na
festa de coroação de Nossa Senhora da Conceição, no distrito de Califórnia,
interior do município de Quixadá, além da expressão da cerimônia religiosa,
mereceu especial atenção a presença de um anjo negro integrando a corte de
querubins que concretizava a singela homenagem à Mãe de todas as mães.
A
presença daquele anjo diferenciado dos outros justificou a curiosidade popular,
porque nunca se havia visto um anjo de cor negra em cerimônias semelhantes. A
brancura de suas vestes proporcionava um destaque especial, talvez pelo
contraste com a sua cor.
Não
entendemos e até repudiamos essa discriminação de cor e condição social, ao
celebramos festas religiosas. Quando Jesus veio à terra pregou,
insistentemente, a fraternização e combateu, corajosamente, a discriminação de
qualquer espécie. Lembrou que as pessoas deveriam ser avaliadas pela fortaleza
espiritual e nunca valorizadas pelos bens materiais.
Será
que a cor negra de uma criança tira a beleza de sua inocência ou macula a
imagem do Criador que ela tão bem representa? Será que uma criança negra
assistindo à bela festa de coroação da Mãe Santíssima, em que os anjos são
luzes de intenso brilho, não se sentirá menosprezada ao observar que no singelo
espetáculo só há anjos de cor branca, louros e de olhos azuis?
Os
entusiásticos aplausos aos anjos, que, naquela cerimônia, representam a pureza
e grandiosidade do poder Divino, será que não abrem profundas feridas no
coração da criança negra que procura, inutilmente, um anjo belo de sua cor que
mereça também representar, na terra, os anjos do céu?
Escolhendo
somente crianças alvas e ricas será que não faz o Cristo padecer, mais uma vez,
ao assistir, lá do alto, às lágrimas que correm no rosto das crianças negras,
que não são convidadas para coroar a Santa Mãe de todos nós? E os pais das
crianças de cor será que não sentem apunhalado o coração, quando interrogados
por seus filhos a respeito da inexistência de um anjo negro?
Por
isso, a festa de Nossa Senhora da Conceição na Califórnia teve um brilho
especial, enfeitada com rosas e fitas multicores, acolhendo anjos negros e
brancos, que unidos elevavam uma linda coroa à cabeça da mãe de Jesus.
A
presença daquele Anjo Negro foi uma luz que brilhou para mostrar a beleza de um
mundo livre das trevas onde, inutilmente, procuramos a paz trajada na vaidade,
na solidão do orgulho e no vazio dos preconceitos.
Quando
na terra reverenciarmos anjos de todas as cores e posições sociais, veremos
escrita, no firmamento celestial, uma mensagem glorificando Deus nas alturas e festejando
a felicidade na terra com todos unidos em torno da fraternidade e do amor.
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