sexta-feira, 12 de setembro de 2014

BRASIL DEVE LANÇAR DEZ SATÉLITES ATÉ 2020, DIA PRESIDENTE DA AEB; CONFIRA ENTREVISTA

Ciência

Matéria do Diário Científico – Diário do Nordeste

 

Buscar parcerias com programas espaciais estrangeiros ou empresas privadas como a norte-americana SpaceX (cuja diretora Stella Guillen aparece na foto) é uma das iniciativas tomadas pelo presidente da AEB José Raimundo Coelho para viabilizar o programa espacial brasileiro, a despeito do baixo orçamento Foto: Blog Brazilian Space

Prestes a completar 20 anos, a Agência Espacial Brasileira (AEB) convive com o desafio de tentar manter o país no seleto grupo de países com tecnologia aeroespacial, ao mesmo tempo em que conta com um baixíssimo orçamento.

Para se ter uma ideia, do Orçamento da União previsto para 2014 em R$ 2,5 trilhões, apenas 9,5 bilhões estão destinados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e desse total apenas R$ 300 milhões estão destinados à agência. Vale lembrar que apenas a sonda norte-americana Curiosity custou mais de R$ 5 bilhões (mais da metade de todo orçamento para ciência no Brasil).





A fim de entender como a AEB enfrenta as restrições orçamentárias e se prepara para lançar satélites produzidos em território nacional, o Blog Ceará Científico entrevistou, com exclusividade, o presidente da agência, José Raimundo Coelho.

Blog Ceará Científico - Qual o impacto da falha do lançamento do satélite CBers-3 no Programa Espacial Brasileiro? É mesmo viável antecipar o lançamento do CBers-4?
José Raimundo Coelho - É viável, sim, antecipar o lançamento do CBERS 4 para o final de 2014. Os brasileiros e chineses já estão empenhados nessa tarefa, desde o início deste ano. As imagens dos satélites da família CBERS fazem parte de um conjunto de dados muito utilizado pelos usuários brasileiros e chineses. Entretanto, a maioria das aplicações que necessitam desses dados, utilizam ao mesmo tempo, dados de outros satélites. Ainda não dispomos de um satélite, cujos dados sejam suficientes para todas as aplicações. O impacto da falha, portanto, existe e é considerável, mas não podemos afirmar que constitua um prejuízo irreparável, pelos motivos já mencionados. Os compromissos, do ponto de vista do programa, também não serão alterados. O CBERS 4 será lançado proximamente e já estamos estudando a possibilidade de desenvolver um outro satélite CBERS utilizando parte dos equipamentos sobressalentes dos CBERS3 e 4, além das futuras famílias que farão parte da nossa agenda decenal de parceria.



BCC -  Quando o Centro de Lançamentos de Alcântara deve retomar o ritmo que tinha antes do acidente de 2003?
JRC - As obras no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, não estão paradas. A Torre Móvel de Integração foi totalmente reconstruída. A obra foi concluída no final de 2012. Um teste de integração física da torre com um modelo “mock up” do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites) também já foi realizado. É importante ressaltar que a torre está pronta para operação de lançamento.

BCC – Como está o desenvolvimento do VLM-1 (Veículo Lançador de Microssatélites)? Qual a previsão de lançamento?
JRC – O VLM-1 está na fase do projeto preliminar. A previsão do lançamento é para o biênio 2015/2016.

BCC - E qual a importância do desenvolvimento e lançamento do nanossatélite NanosatC-Br-1?
JRC - Desenvolver o programa de nanossatélites é iniciar a formação de uma massa crítica de especialistas, que será fundamental para a consolidação do programa espacial do país. O segundo nanossatélite brasileiro e primeiro Cubesat nacional, o NanosatC-Br1, será levado ao espaço em maio próximo pelo lançador russo DNPER.

BCC  - Em termos de percentual relativo do PIB, o Programa Espacial Brasileiro destina dez vezes menos recursos de seu orçamento que a Índia e 30 vezes menos que os EUA, segundo levantamento. Porque isso acontece? A falta de verbas por si só explica a diferença entre os programas espaciais desses países ou há como driblar a escassez de dinheiro e alavancar o setor aeroespacial no País?
JRC - É verdade que programas espaciais de vários países do mundo dispõem de recursos muito superiores ao nosso. Seria interessante, entretanto, examinar todas as razões e motivações que envolvem essas determinações. Prioridades nacionais, de naturezas distintas às brasileiras, devem estar envolvidas nessas decisões. Em algumas situações seria justo apelarmos para soluções criativas que envolvam compromissos financeiros de vários segmentos da sociedade.

BCC - Até que ponto, o crescimento econômico vertiginoso de Índia e China estão relacionados ao seu poderio aeroespacial? O Brasil pode se inspirar nesses países?



JRC - O desenvolvimento de ciência e tecnologia em áreas, tais como, a área aeroespacial, em geral está muito relacionada com o desenvolvimento como um todo de um país, porque se trata de um segmento cujo desenvolvimento envolve desafios em um conjunto muito variado e diversificado de objetos.

BCC – O incentivo ao desenvolvimento privado de tecnologia aeroespacial poderia ser uma alternativa para o Brasil crescer nessa área? Há alguma iniciativa nesse sentido sendo desenvolvida?
JRC - O incentivo ao desenvolvimento tecnológico da indústria aeroespacial do país faz parte da nossa política espacial. Os empresários são convidados a acompanhar e participar da elaboração de projetos, como do satélite de sensoriamento terra-água Sabia – Mar, a ser desenvolvido em parceria com a Argentina. As empresas também dialogam com a Agência Espacial Brasileira (AEB) com o intuito de estudar oportunidades de negócios com agências espaciais de outros países. Outra ação foi a articulação da AEB junto ao governo chinês para que empresas brasileiras participassem de encontros com indústrias do segmento aeroespacial do país para a troca de informações e possível formação de parcerias, não só com vistas ao mercado interno dos dois países, mas, também, do exterior, principalmente América Latina.

BCC – Quais os principais projetos que a AEB está desenvolvendo até 2016?
JRC - O Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) prevê o lançamento de cerca de dez satélites até 2020, incluindo os de observação da Terra (solos e oceanos), meteorológicos, comunicação e científicos. Também será dado forte incentivo para o desenvolvimento de pequenos satélites, até porque a atividade tem forte impacto na formação de recursos humanos, o que dará novo impulso ao desenvolvimento espacial do país nas próximas décadas.

BCC - O que faltou ao longo dos anos e o que deve ser feito nas próximas décadas para o Brasil diminuir o atraso em relação às potências espaciais?
JRC - Acreditamos que a motivação mais segura e correta para o desenvolvimento das atividades espaciais no Brasil está mais relacionada aos benefícios que esse desenvolvimento pode acarretar à sociedade brasileira e não necessariamente a qualquer corrida de potências espaciais. 

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