ROSALVO SANTANA – MARAGOGIPONHO, BAHIA

Escultor baiano é prata da casa

Escultor ceramista

Por Israel Matos

Maragogipinho é a terra das olarias construídas com chão de terra batida e paredes de palha. São 157 no eixo do porto do rio Jaguaripe que margeia a localidade e mais umas 25 olarias nos fundos dos quintais das casas dos oleiros, segundo os registros da Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho – AAMOM. Predominam na produção local as peças utilitárias e decorativas: pote, moringa, prato, travessa, porco-cofrinho, peixe, abajur. A população gira em torno de 1.900 a 2.200 pessoas, sendo a localidade um distrito de Aratuípe, distante apenas 12 km da cidade de Nazaré das Farinhas-BA.

Rosalvo Santana nasceu em 24.04.1964 em Maragogipinho onde sempre viveu e reside. Filho de Maria das Dores Araújo e do ceramista Amiordes Santana, mais conhecido pelo apelido de Mestre Roxinho, contemporâneo do Mestre Almerentino e do Mestre Idelbrando. Do pai ceramista herdou o gosto pela arte observando os trabalhos na Olaria Santana, próxima às margens do rio, onde eram fabricadas louças vidradas (cerâmica revestida com uma mistura de zarcão e chumbo). O pai cuidadoso não permitia que o filho pequeno participasse dos trabalhos da olaria, devido ao elevado grau tóxico dos materiais com que trabalhava. Mas aos cinco anos Rosalvo já brincava com as outras crianças fazendo figuras da arte popular regional: passarinhos, burrinhos, homem cortando lenha, porquinhos, cachorrinhos. Tudo o que tentava fazer dava certo, e fazia melhor no outro dia.

Aos 18 anos, numa ida a Salvador-BA chamou atenção pela sua facilidade para desenhar e foi aconselhado a modelar Santos. Sua primeira criação surgiu na imagem de Nossa Senhora da Conceição, parecida com as que modela hoje em dia. A peça foi vendida na centenária feira dos Caxixis, que acontece na Semana Santa em Nazaré das Farinhas. 

Rosalvo, em meio a tantos oleiros fabricantes de peças utilitárias e decorativas, se destaca como o principal ceramista de arte sacra de Maragogipinho, tendo sido, durante muito tempo, o único santeiro do local. Seu trabalho se caracteriza pelo esmero nos detalhes e maestria nata na arte sacra barroca em cerâmica. Hoje com 42 anos, Mestre Rosalvo Santana e sua companheira Rosane Maltez têm dois filhos: Rosalvo nascido em 2000 e Rosiel nascido em 2003, prole que poderá dar continuidade na atividade do barro tradição herdada do avô e do pai. O artista tem também uma filha de outra união, Elane nascida em 2004.

O trabalho do ceramista exige paciência no lento processo de produção. Primeiro o barro vermelho ou branco da região é decantado e homogeneizado para se retirar as impurezas. Depois é modelado sem uso do torno de oleiro, utilizando apenas as mãos como principal ferramenta. Para fazer os pequenos detalhes dos olhos, cabelos e desenhos nas roupas, usa para riscar a espinha dorsal do peixe arraia, arames, palitos - ferramentas bem rudimentares. A peça é sempre oca. Na técnica utilizada pelo Mestre Rosalvo, sua feitura começa a partir de um cone, e sobre ele vai sendo modelada a imagem. Depois de pronta, durante uma semana, a peça fica secando na sombra e após vai para o sol, técnica que visa tirar toda a umidade, evitando assim rachaduras quando for ao forno. A queima dura umas doze horas num forno artesanal a lenha e leva umas 5 horas para esfriar. Detalhes como a base ou pedestal e as mãos, são modelados e queimados em separado. A confecção da imagem em terracota, considerando a modelagem e a queima leva uns quinze dias.

O Mestre em arte sacra, ceramista autodidata, desenhista e restaurador, surpreende e provoca admiração instantânea pela singularidade do seu estilo. Suas obras se caracterizam pelo barroco exuberante, com forte influência do Rococó. Os detalhes e nuances dos mantos em movimentos se multiplicam em infinitas dobras e mais dobras, além de pregueados, criando um efeito de leveza esvoaçante. É incrível a perfeição dos detalhes. Ele modela o barro como se fosse pano, em texturas superfinas, em contornos e dobras quase impossíveis, tornando o inusitado uma realidade na arte da cerâmica. São frágeis e finas formas quase da espessura de uma folha de papel. Ao modelar o barro com a mão, inventa intuitivamente novas técnicas geradas a partir de sua vontade criativa de valorizar os detalhes das roupagens. Com movimentos harmônicos e gentis suas imagens são composições que transmitem e inspiram delicadeza, elegância, quietude e contemplação. 

No belo estilo do Mestre Rosalvo Santana surge a Arte Sacra em suas principais obras: Pietá, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Desatadora dos Nós, Anjos, Presépios, Santo Antonio, São Jorge, Nossa Senhora Rainha dos Anjos, e outros.