Uma prática de higiene ou um mandato
de Deus?
Circuncisão, exérese
do prepúcio, peritomia ou postectomia é
uma operação cirúrgica que consiste
na remoção do prepúcio, prega
cutânea que recobre a glande do pênis. Essa remoção é praticada há mais de 5 mil anos.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 30% dos homens no mundo são
circuncidados (algo em torno de 665 milhões de homens), a maioria por
motivos religiosos, uma vez que 68% deles são muçulmanos.
O Programa
de Combate a AIDS da Organização das Nações Unidas (ONU) defende que a circuncisão reduz o risco
de contágio do HIV, no caso de cópula vaginal, mas
também afirma que o uso do preservativo é
indispensável.
Depois do
corte do cordão umbilical – onfalotomia – a circuncisão talvez seja o mais antigo
tipo de cirurgia. O termo circuncisão deriva da junção de duas palavras latinas, circum e cisióne, e
significa literalmente «cortar ao redor».
Atualmente, a circuncisão masculina ainda é praticada como ritual religioso e
também social por vários povos, como judeus e muçulmanos. No século XIX e em
princípios do século XX, no mundo ocidental, a
circuncisão médica tinha em muitos casos como motivação principal a prevenção
da masturbação, pois o prepúcio é um tecido erógeno. A partir de meados do século XX, a circuncisão
tornou-se uma prática médica vulgar, especialmente nos Estados Unidos, onde se
estima que entre 20 e 80% dos homens sejam circuncidados. No entanto, a sua
frequência reduziu-se progressivamente, pois hoje a prática regular de hábitos
de higiene genital,
que têm o mesmo efeito da circuncisão, tornou-se cada vez mais comum.
Um motivo possível para o início da circuncisão
masculina era a distinção entre povos. Em muitas culturas, a circuncisão no
início da puberdade é encarada como um ritual de passagem -
marcando o início da adolescência e a
entrada do rapaz na vida adulta. Serve ainda como um sinal identitário
permanente, como prova de iniciação num grupo social ou religioso.
Embora
alguns acreditem que os hebreus tenham
assimilado a prática da circuncisão dos egípcios, não há sinais consistentes
que apoiem essa teoria. O mais
provável é que os próprios hebreus tenham, em suas raízes mais remotas da época
patriarcal, inserido tal prática em seus costumes de
maneira independente a quaisquer outros povos, mantendo a tradição em suas
práticas religiosas até à presente época.
No Antigo Israel, a circuncisão tinha de ser realizada no 8.º dia
do nascimento. Tem o
sentido de um sinal da aliança entre Deus e Abraão e
seus descendentes e de um rito de inserção no povo eleito. Deus terá tornado
obrigatória a prática da circuncisão masculina para Abraão, um ano antes de
nascer Isaque. Todos os
homens da casa de Abraão, tanto seus descendentes como dependentes, estavam
incluídos, e todos os escravos receberam
em si este «sinal do pacto», com o qual entregavam a Deus a sua aliança de
carne (anel prepucial), mostrando a reciprocidade deste ato de fé no corpo (Levítico).
A
desconsideração deste requisito era punível com a morte. A circuncisão torna-se
um requisito obrigatório na Lei dada a Moisés (Levítico
12:2,3). Isto era tão importante que, mesmo que o 8.º dia calhasse no Sábado, a
circuncisão teria de se realizar. No primeiro século da Era Cristã, era costume
social entre os judeus dar
nome ao recém-nascido do sexo masculino no momento da circuncisão. Mas os profetas do Antigo Testamento mostravam
que mais importante do que a circuncisão literal é a circuncisão figurativa ou
«circuncisão do coração» (Deuteronômio 10:16;
30:6; Jeremias 4:4; 9:25). Aos judeus insensíveis às
palavras dos profetas chama-se figurativamente «incircuncisos» (Jeremias 6:10; Atos 7:51).
A influência da cultura grega começou a predominar no Médio Oriente e
culminou no abandono da circuncisão por muitos povos. Mas, quando o rei sírio Antíoco IV Epifânio proscreveu a circuncisão, deparou-se com mães
judias dispostas antes a morrer do que a negar aos seus filhos o «sinal do
pacto». Anos mais tarde, o imperador romano Adriano (117-138) obteve a mesma reação quando
proibiu aos judeus circuncidar seus recém-nascidos. No intuito de evitar
zombaria e ridículo, alguns atletas judeus
que desejavam participar nos jogos helenísticos procuravam
tornar-se «incircuncisos» por meio de uma operação destinada a restabelecer
certa semelhança de prepúcio.
«Com
base na consideração das determinações de vitamina K e de protrombina, o dia
perfeito para se realizar uma circuncisão é o oitavo dia» (citação
de «Nenhuma Dessas Doenças», Dr. S. I. McMillen, 1986, pág. 21, em inglês). Seguir
esta regra ajudava a evitar o perigo de uma grande hemorragia. A
circuncisão era usualmente feita pelo chefe de família. Mais tarde, passou-se a
recorrer a uma pessoa especialmente preparada. Um mohel, no caso dos judeus, geralmente um médico, circuncidador, ou
então uma pessoa que tenha conhecimento da cirurgia, e das rezas realizadas,
no processo! Deus instituiu este ato
para distinguir o seu povo de outros povos, sendo que o homem deveria obedecer
ao mandado Dele. Uma outra
interpretação aponta para uma prática de higiene, para poupar o povo a doenças
indesejáveis, tornando-a uma prática de fé.
A circuncisão de Jesus.
De acordo
com a Bíblia,
completados os oito dias que determina a tradição judaica, Jesus Cristo foi
apresentado ao templo de Jerusalém por
sua família para ser circuncidado, quando então foi abençoado por Simeão e Ana. O prepúcio retirado
de Jesus é conhecido como prepúcio sagrado.
Considerado uma relíquia ao
longo da história, sua posse foi reclamada ou contestada por diversas igrejas e
catedrais. Há vários milagres e
poderes atribuídos a esta relíquia, muito cobiçada no período medieval.
Com a
fundação do Cristianismo, a
circuncisão deixou de ser um requisito religioso obrigatório para os judeus
cristãos, embora não fosse expressamente proibida (Atos 15:6-29). A perspectiva
da Igreja Católica é contrária à circuncisão (rito judaico)
desde
os
primeiros dias. Conforme o Papa Eugênio IV oficializou
na Bula de União com os Coptas, de 1442, a Igreja manda
a todos os seus fieis que «… não pratiquem a circuncisão, seja antes ou
depois do batismo, pois, ponham ou não sua esperança nela, ela não pode ser
observada sem a perda da salvação eterna».
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