Dança, luta e símbolo de resistência, a capoeira de
roda poderá ser reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Na próxima quarta-feira
(26.11), em Paris, o Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio
Cultural e Imaterial da Unesco anuncia sua decisão.
Foram feitos 46 pedidos de
registro pelos Estados-Membros, sendo que 32 foram recomendados pelo órgão
técnico do comitê, entre os quais está o da capoeira – o único apresentado pelo
Brasil e um dos três bens da América Latina na lista.
No dossiê de candidatura,
de 25 páginas, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
enumera uma série de ações para difundir a modalidade e propõe medidas de
salvaguarda orçadas em mais de R$ 2 milhões, como a produção de catálogos e
encontros.
O documento destaca que,
se aprovado, o registro vai favorecer a consciência sobre o legado da cultura
africana no Brasil e o papel da capoeira no combate ao racismo e à
discriminação. O dossiê
lembra que a prática chegou a ser considerada crime e foi proibida durante um
período da história. Hoje, a capoeira é praticada até fora do País.
“A capoeira é uma
manifestação cultural de muitas dimensões. É ao mesmo tempo luta, dança e
jongo, tão ligada à nossa história, à nossa sociedade, que é um pouco do que é
o povo brasileiro”, explicou a diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial
do órgão, Célia Corsino.
Já reconhecida como
patrimônio cultural pelo Iphan desde 2008, a capoeira envolve os praticantes
por meio do canto, dos instrumentos típicos como o berimbau e o atabaque, em
uma roda, onde os golpes se confundem com a dança. Uma prática que é, ao mesmo
tempo, jogo e brincadeira.
“A capoeira não é só um
jogo, a capoeira é muito mais do que isso, a história da capoeira se confunde
com a própria história do País, já foi utilizada até em guerra, como a do
Paraguai”, diz mestre Paulinho Salmon, capoeirista e professor por mais de 50
anos. Ele faz parte de um comitê de mestres de capoeira no Rio que discute
medidas de salvaguarda com o Iphan.
Os pedidos dos mestres
para proteger a capoeira e seu aval para registrá-la como patrimônio da
humanidade também foram levados em conta no dossiê entregue à Unesco. Entre
eles, a possibilidade de a capoeira se tornar disciplina obrigatória nas
escolas e nos encontros de troca de conhecimento. Segundo mapeamento do Iphan,
a modalidade é praticada por todo o país.
No documento que recomenda
o registro, o comitê técnico da Unesco destaca que a capoeira nasce da
resistência contra a discriminação e favorece a convivência social entre
pessoas diferentes. “[A roda] funciona como uma afirmação de respeito mútuo
entre comunidades, grupos e indivíduos e promove a integração social e da
memória da resistência à opressão histórica.”
No pedido, o Iphan também
cita ações como o registro nacional da capoeira de roda como um bem cultural, a
criação de grupos de trabalho, encontros e o prêmio Viva Meu Mestre,
desenvolvidos com a sociedade civil e órgãos de governo.
Para o futuro, como
patrimônio da humanidade, são sugeridas medidas para promover a capoeira,
contextualizá-la como legado africano no Brasil, além de mapear as rodas e seus
mestres.
Conhecido como um dos
maiores portos de desembarque de africanos, o Brasil organiza para 2015 o
pedido de registro como patrimônio da humanidade do Cais do Valongo, no
centro do Rio de Janeiro.
Estima-se que o País tenha
recebido 40% de todos os africanos escravizados que chegaram vivos às Américas
e, desses, cerca de 60% entraram pelo Rio de Janeiro, segundo o antropólogo e
fotógrafo Milton Guran, do Comitê Científico Internacional do Projeto Rota do
Escravo da Unesco. O Cais do Valongo é considerado sagrado por religiões de
matriz africana.
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