Teatro, do grego θέατρον (théatron), é uma forma
de arte em
que um ator ou
conjunto de atores, interpreta uma história ou atividades para o público em um
determinado lugar. Com o auxílio de dramaturgos ou de
situações improvisadas, de diretores e
técnicos, o espetáculo tem como objetivo
apresentar uma situação e despertar sentimentos no
público. Também se denomina teatro o
edifício onde se desenvolve esta forma de arte, podendo também ser local de
apresentações para a dança, recitais, etc.
Segundo a Enciclopédia Britannica, a palavra teatro deriva do grego theaomai (θεάομαι)
- olhar com atenção, perceber, contemplar (1990, vol. 28:515). Theaomai não significa ver no
sentido comum, mas sim ter uma experiência intensa, envolvente, meditativa,
inquiridora, a fim de descobrir o significado mais profundo; uma cuidadosa e
deliberada visão que interpreta seu objeto (Theological Dictionary of the New
Testament vol.5:pg.315,706)
O teatro,
mais do que ser um local público onde se vê, é o lugar condensado da vivência
das ambiguidades e paradoxos, onde as
coisas são tomadas em mais de uma forma ou sentido. Robson Camargo assim
o define (2005:1):
O vocábulo
grego Théatron (θέατρον) estabelece o lugar físico do
espectador, "lugar onde se vai para ver" e onde, simultaneamente,
acontece o drama como
seu complemento visto, real e imaginário. Assim, o representado no palco é
imaginado de outras formas pela plateia. Toda reflexão que tenha o drama como
objeto precisa se apoiar numa tríade teatral: quem
vê, o que se vê, e o imaginado. O
teatro é um fenômeno que existe nos espaços do presente e do imaginário, nos
tempos individuais e coletivos que se formam neste espaço" ("O
Espetáculo do Melodrama").
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Jaco Guinsburg por
sua vez, descreve a expressão cênica como formada por uma "tríade
básica - atuante, texto e público", sem a qual o teatro não teria
existência (1980:5). Atuantes não são apenas os atores, podendo ser objetos
(como no teatro de bonecos) ou outras formas ou funções atuantes (animais ou
coisas); o texto, por outro lado, não é apenas o texto escrito ou o falado no
palco, pois o teatro não é uma arte literária ou, como afirma
Marco de Marinis (1982), no teatro há um texto espetacular. Greimas em seu estudo da narratologia usa o termo atante em
vez de atuante, para definir este primeiro elemento que desenvolve a narração
(Greimas, A. J. y Courtes, J., 1990). (Atante em: Semiótica.
Diccionario razonado de la teoría del lenguaje. Madrid: Gredos).
Aristóteles, ao
final de sua Poética, escrita
entre 335 e 323 AC,
aponta que a tragédia pode ser lida, e, mesmo assim, sem ter o movimento da
cena (gestos, etc), sem ser apresentada ao vivo, terá seu efeito sobre o
leitor, igualando-se assim a Epopeia na
forma lida. Entretanto, por possuir componentes extras, a música e o
espetáculo, a Tragédia, segundo
Aristóteles, torna-se superior a Epopeia, pois
contém "todos os elementos da epopeia" e, além
disso, contém o que não é pouco, a melopeia (música) e o espetáculo
cênico. Ambos acrescem a intensidade dos
prazeres e são próprios da tragédia. (trad. Eudoro de Souza, Os
Pensadores, 1462 a, p. 268.). O teatro também, ainda segundo
Aristóteles, além da vantagem de "ter evidência representativa
quer na leitura, quer na cena", possui poder de síntese, pois nele "resulta
mais grato o condensado que o difuso por largo tempo" (trad.
Eudoro de Souza, Os Pensadores, 1462b,p. 269.)
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Natya Shastra -
(Nātyaśāstra नाट्य शास्त्र), junto
com a Poética de
Aristóteles, é um dos mais antigos textos sobre o teatro, o trabalho do ator, a
produção de espetáculo e a dramaturgia clássica da Índia. Seus
escritos descrevem a dança e
a música clássica
da Índia, que são partes fundantes do teatro nesta cultura. Foi escrito
provavelmente entre os séculos 200 antes de Cristo e 200 da era cristã.
Bharatamuni seria o autor do tratado, Bharata, significa 'ator', Bharatamuni
pode ser traduzido como o sábio Bharata ou o ator sábio (Mota, 2006)
Existem várias teorias sobre a origem do teatro.
Segundo Oscar G. Brockett, nenhuma delas pode ser comprovada, pois existem
poucas evidências e mais especulações. Antropólogos ao
final do século XIX e no início do XX, elaboraram a hipótese de que este teria
surgido a partir dos rituais primitivos (History of Theatre. Allyn e Bacon 1995
pg. 1). Outra hipótese seria o surgimento a partir da contação de histórias, ou
se desenvolvido a partir de danças, jogos, imitações. Os rituais na história da
humanidade começam por volta de 80.000 anos AC.
O primeiro evento com diálogos registrado foi uma
apresentação anual de peças sagradas no Antigo Egito do mito de Osíris e Ísis, por volta de 2500 AC (Staton e Banham 1996 pg.
241), que conta a história da morte e ressurreição de Osíris e a coroação de
Horus ( Brockett, pg. 9). A palavra 'teatro' e o conceito de teatro, como algo
independente da religião, só surgiram na Grécia de Pisístrato (560-510a.C.),
tirano ateniense que estabeleceu uma dinâmica de produção para a tragédia e que
possibilitou o desenvolvimento das especificidades dessa modalidade. As
representações mais conhecidas e a primeira teorização sobre teatro vieram dos
antigos gregos, sendo a
primeira obra escrita de que se tem notícia, a Poética de Aristóteles.
Aristóteles
afirma que a tragédia surgiu de improvisações feitas pelos chefes dos ditirambos, um hino
cantado e dançado em honra a Dioniso, o deus
grego da fertilidade e do vinho. O ditirambo, como descreve Brockett,
provavelmente consistia de uma história improvisada cantada pelo líder do coro
e um refrão tradicional, cantado pelo coro. Este foi transformado em uma
"composição literária" por Arion (625-585AC), o primeiro a registrar
por escrito ditirambos e dar a eles títulos.
As formas
teatrais orientais foram registradas por volta do ano 1000 AC, com o drama
sânscrito do antigo teatro Hindu. O que poderíamos considerar como 'teatro
chinês' também data da mesma época, enquanto as formas teatrais japonesas Kabuki, Nô e Kyogen têm
registros apenas no século XVII DC.
Gerald
Else, importante helenista norte americano (1908-1982), considera que o teatro
(drama) foi uma criação deliberada e não resultado de um processo evolutivo. Se
os festivais gregos, antes de 534 a.C eram desempenhados por rapsodos, na forma
oral, em 534 a.C Téspis junta
os elementos orais destas festividades com o coro, para criar uma forma
primitiva de drama que seria desenvolvida totalmente somente a partir de Ésquilo, com a
adição de um segundo ator (Brockett, p. 16).
O primeiro
diretor de coro conhecido foi Tespis, convidado pelo tirano Pisístrato oficialmente
para dirigir a procissão de Atenas. Téspis
desenvolveu o uso de máscaras para
representar, pois, em razão do grande número de participantes, era impossível todos
escutarem os relatos, porém podiam visualizar o sentimento da cena pelas
máscaras. O "coro" era composto pelos narradores da
história, rapsodos que
através de representação, canções e danças, relatavam
as histórias do personagem. Ele era o intermediário entre o ator e o espectador, e trazia
os pensamentos e sentimentos à tona, além de trazer também a conclusão da peça.
Também podia haver o "Corifeu", que
era um representante do coro que se comunicava com a plateia. Em uma dessas
procissões, Téspis inova ao subir em um "tablado"
(Thymele – altar), para responder ao coro, e assim, tornou-se o primeiro
respondedor de coro (hypócrites), surgindo assim os diálogos.
Os tragediógrafos
Muitas
das tragédias gregas
escritas se perderam e, na atualidade, são três os tragediógrafos conhecidos e
considerados importantes: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. As datas
abaixo são aproximadas.
Eurípedes (485
a.C. a 406 a.C.)
Os comediógrafos
Menandro (c.
341 a.C. - 290 a.C.)
Frontispício do Auto de Inês Pereira, de Gil Vicente.
(Lisboa, 1528 – 1569) Estudou
em Coimbra e
também foi o discípulo mais
famoso de Sá de Miranda, tendo sido um dos impulsionadores da cultura renascentista em
Portugal. Escreveu em 1587 a
primeira tragédia do classicismo renascentista português, Castro,
inspirada nos amores de D. Pedro I e D. Inês de Castro, traduzida
para o inglês em 1597, e posteriormente,
para o francês e o alemão.
D. José, rei de Portugal
Após a
morte de D. João V (em 1750), D. José inicia uma profunda reestruturação da
política cultural. Para tal conta com o apoio de Sebastião de Carvalho e Mello
entre outros. Os esforços comuns proporcionam a contratação dos melhores
castrados, compositores e instrumentistas. Simultaneamente é contratada uma
equipa encabeçada pelo arquitecto e cenógrafo bolonhês Giovanni Carlo Sicinio
Galli Bibiena, que concebe entre 1752 e 1755 três teatros de corte em Portugal.
O Teatro do Forte, igualmente denominado por Teatro da Sala do Embaixadores, e
que estava localizado no Torreão erigido por Filippo Terzi no Palácio da
Ribeira, tendo sido inaugurado em Setembro de 1752. O segundo dos teatros
construídos pelo arquiteto Galli da Bibbiena foi
o Teatro Real de Salvaterra de
Magos, localizado no palácio real dessa vila ribatejana, tendo sido
inaugurado a 21 de janeiro de 1753. Finalmente é inaugurado em Lisboa, a 31 de março de 1755, a Casa da Ópera (na
continuação do Palácio da Ribeira), mais conhecido por Ópera do Tejo, por se situar
junto ao rio do
mesmo nome, num espaço entre os atuais Terreiro do Paço (Praça do Comércio) e Cais do Sodré. Seria a
estrutura mais luxuosa e inovadora do género na Europa, que
cairia totalmente por terra com o terrível Terramoto de 1755 e
contando apenas sete meses de vida.
Teatro Nacional D. Maria II
(Porto, 1799 – Lisboa, 1854) Foi um
proeminente escritor e dramaturgo romântico, que
fundou o Conservatório Geral de Arte Dramática, edificou o Teatro Nacional D. Maria II em Lisboa e
organizou a Inspeção-geral dos Teatros, revolucionando por completo a política
cultural portuguesa a partir de 1836, no
rescaldo das Guerras Liberais. Frei Luís de Sousa é a
sua obra maior.
Outros
Já no século XX encontram-se
grandes nomes da literatura portuguesa
a escrever para teatro, como é o caso de Júlio Dantas, Raul Brandão e José Régio. Às portas
da década de 1960, o contexto político fomentou uma nova literatura de
intervenção, que se estendeu aos palcos através dos nomes de Bernardo Santareno, Luiz Francisco Rebello, José Cardoso Pires e Luís de Sttau Monteiro, que produziram
grandes e intensas obras.
Neste
momento existe em Portugal um
teatro que se renova constantemente e que prima pela sua abundante diversidade,
apesar do fraco investimento por parte do Ministério da Cultura e das fracas
condições com que a maior parte dos artistas ainda trabalha. São vários os
grupos que se têm destacado na cena contemporânea portuguesa: Casa Conveniente, Teatro Praga, Cão Solteiro, As Boas
Raparigas, Teatro da Garagem, Teatro Meridional, Se surround, Assédio e
A Escola da Noite). Esses grupos têm renovado um panorama que
até a década de 1990 era ainda dominado pelos encenadores
carismáticos dos grupos independentes da década de 1970,
como Luís Miguel Cintra (Teatro da Cornucópia), João Mota (Comuna - Teatro de Pesquisa), Jorge Silva Melo (Artistas Unidos) e Joaquim Benite (Companhia
de Teatro de Almada), que são ainda detentores da maior parte dos subsídios
atribuídos pelo Ministério da Cultura.
Destaca-se
ainda as companhias de teatro que desenvolvem um trabalho de itinerância por
todo o território do país, como são os casos do Teatro ACERT (Tondela), dos Cães
à Solta (Castelo Branco),do Teatro da Serra do Montemuro (Castro Daire), o Grupo
Cultural e Recreativo de Rossas (Arouca), Pim
teatro (Évora),
Urze-Teatro (Vila Real), Teatro
das Beiras (Covilhã),
Entretanto Teatro (Valongo), Teatro
do Mar (Sines) entre
outros. Estas companhias que trabalham com inúmeras dificuldades, em particular
ao nível das condições técnicas, representam uma parte bastante reduzida do
orçamento do Ministério da Cultura.
Com grande divulgação encontra-se o Festival Alkantara, Festival de Almada, FITEI (Porto), Festival Internacional de Teatro Cómico da
Maia Maia e
Citemor (Montemor-O-Velho), entre outros, que acolhem o que de melhor se faz
em teatro em Portugal e no mundo inteiro.
José de Anchieta
O teatro
no Brasil surgiu
no século XVI, tendo como
motivo a propagação da fé religiosa.
Dentre uns poucos autores, destacou-se o padre José de Anchieta, que escreveu alguns autos (antiga
composição teatral) que visavam a catequização dos indígenas, bem como
a integração entre portugueses, índios e espanhóis.3 Exemplo
disso é o Auto de São Lourenço, escrito
em tupi-guarani, português e espanhol.
Um hiato de
dois séculos separa a atividade teatral jesuítica da continuidade e
desenvolvimento do teatro no Brasil. Isso porque, durante os séculos XVII e XVIII, o país
esteve envolvido com seu processo de colonização (enquanto
colónia de Portugal) e em
batalhas de defesa do território colonial. Foi a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, que
trouxe inegável progresso para o teatro, consolidado pela Independência, em 1822.
O
ator João Caetano estimulou a formação dos atores brasileiros e
valorizou o seu trabalho3 e
formou, em 1833, uma
companhia brasileira. Seu nome está vinculado a dois acontecimentos
fundamentais da história da dramaturgia nacional: a estreia, em 13 de março de 1838, da
peça Antônio José ou O Poeta e a Inquisição, de autoria de Gonçalves de Magalhães, a primeira
tragédia escrita por um brasileiro e a única de assunto nacional; e, em 4 de outubro de
1838, a estreia da peça O Juiz de Paz na Roça, de autoria de Martins Pena, chamado
na época de o "Molière brasileiro",
que abriu o filão da comédia de costumes, o gênero mais característico da tradição cênica
brasileira.
Gonçalves de Magalhães, ao voltar
da Europa em 1867,
introduziu no Brasil a influência romântica, que iria
nortear escritores, poetas e dramaturgos. Gonçalves Dias (poeta
romântico) é um dos mais representativos autores dessa época, e sua peça Leonor de Mendonça teve
altos méritos, sendo até hoje representada. Alguns romancistas, como Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, e poetas
como Álvares de Azevedo e Castro Alves, também
escreveram peças teatrais no século XIX.
Oswald de Andrade, nos anos 1920
O século XX despontou
com um sólido teatro de variedades, mescla do varieté francês e
das revistas portuguesas. As companhias estrangeiras
continuavam a vir ao Brasil, com suas encenações trágicas e suas óperas bem
ao gosto refinado da burguesia. O teatro
ainda não recebera as influências dos movimentos modernos que pululavam
na Europa desde
fins do século anterior.
Os ecos da
modernidade chegaram ao teatro brasileiro na obra de Oswald de Andrade, produzida
toda na década de 1930, com destaque para O Rei da Vela, só
encenada na década de 1960 por José Celso Martinez Corrêa. É a partir da
encenação de Vestido de Noiva, de Nélson Rodrigues, que nasce o moderno teatro brasileiro, não
somente do ponto-de-vista da dramaturgia, mas também da encenação, e em pleno Estado Novo.
Surgiram
grupos e companhias estáveis de repertório. Os mais significativos, a partir
da década de 1940, foram: Os Comediantes, o TBC, o Teatro Oficina, o Teatro de Arena, o Teatro dos Sete, a Companhia Celi-Autran-Carrero, entre
outros.
Quando tudo
parecia ir bem com o teatro brasileiro, a ditadura militar veio
impor a censura prévia
a autores e encenadores, levando o teatro a um retrocesso produtivo, mas não
criativo. Prova disso é que nunca houve tantos dramaturgos atuando
simultaneamente.
Com o fim
do regime militar, no início da década de 1980, o teatro
tentou recobrar seus rumos e estabelecer novas diretrizes. Surgiram grupos e
movimentos de estímulo a uma nova dramaturgia.
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