Cidade pequena, porém charmosa
Turismo e história, tudo misturado no mesmo pedaço de chão.
Ericeira é
uma vila turística
situada a 35 km a noroeste do centro de Lisboa, a
18 km de Sintra e a
8 km de Mafra. É uma freguesia portuguesa do
concelho de Mafra, com 12,19 km² de área e 10260 habitantes (2011).
Densidade: 841,7 hab/km².
Reza a
lenda que o nome Ericeira significa, na origem, "terra de ouriços",
devido aos numerosos ouriços do mar que abundavam nas suas praias. No entanto,
investigações mais recentes apontam o ouriço-cacheiro e não
o do mar como inspirador do nome. Com a descoberta de um exemplar do
antigo brasão da
Vila, hoje no Arquivo-Museu da Misericórdia, confirmou-se que o animal ali
desenhado é, de facto, um ouriço-cacheiro.
A história da
Ericeira remonta, assim, a cerca de 1000 a.C.. O seu
primeiro foral data
de 1229, concedido
pelo então Grão-Mestre da Ordem de Aviz, Dom Frei
Fernão Rodrigues Monteiro, que assim instituiu o Concelho da
Ericeira.
É na carta
de foral que surgem as primeiras referências aos pescadores da
Ericeira, estando bem presente o cuidado do legislador em
acautelar os direitos e deveres dos que se encontravam sujeitos às tutelas dos
donatários:"(…) Quanto aos pescadores, deem a vigésima parte do pescado que
matarem no mar. De doze peixes, levem um para conduto antes de darem a vigésima
parte, e se matarem congro, comam-no.
Do pescado que encontrarem morto, não paguem foro. De baleia, deem a
vigésima parte. De toninhas e delfins sem
impedimento, em ocasiões de fome (…)".
No século XIII, a baleia,
toninha e delfim eram as espécies mais pescadas, tendo dado lugar, já no século XVI, à raia, ao rodo valho e à pescada. Em 1547, D. João III concede
aos pescadores ericeirences a permissão de venderem o peixe "a olho"
e não "a peso", costume que ainda há trinta anos se mantinha.
Novas
cartas de foro concedidas por D. Afonso IV, em 1369, e
por D. Manuel
I em 1513, vieram
nobilitar a vila concelhia, doada pelo mesmo D. Manuel ao infante D. Luís e por
este ao seu filho natural D. António, prior do Crato, forte
opositor à tomada do poder real por Filipe II de Espanha. Em 1589, no Forte de Milreu, D.
António fez uma gorada tentativa de desembarque de tropas com o objetivo de
conquistar o poder.
Em 1855, na
sequência de uma reordenação administrativa do território, a
Ericeira deixou de ser concelho para ficar na dependência de Mafra, sede
concelhia até aos dias de hoje.
A Ericeira
conheceu no século XIX, a sua
época áurea, enorme
incremento, porquanto foi o porto mais concorrido da Estremadura, com alfândega, por onde
se fazia o abastecimento de quase toda a província. A antiga
importância comercial tem hoje correspondente no notável movimento turístico,
resultante da situação e do clima privilegiado de que goza. O embarque para o
exílio da família real portuguesa, episódio que assinala o termo do regime monárquico nacional, fará
sempre do porto da Ericeira um dos locais mais dramáticos da geografia do concelho
de Mafra.
A Ericeira
é tão bem conhecida em termos de surf devido às ondas da zona, que os surfistas
dizem ser diferentes. Tem praias muito conceituadas para a prática do surf como
a Ribeira de ilhas (reserva mundial do surf), praia dos coxos, entre muitas
outras.
Praia de Ribeira d'Ilhas
Também e
bastante praticado o kitesurf, windsurf, bodyboard e stand-up paddle. A
Ericeira é de resto a 1ª reserva mundial de surf da Europa e 2ª do mundo. Esta
vila também é boa para os banhistas tendo bastantes hotéis e praias de boa
qualidade como a praia dos pescadores, praia do norte e praia de São Lourenço.
Deve-se ao
porto da Ericeira o desenvolvimento da vila, noutros
tempos habitada quase só por gente do mar, que formou durante muitos séculos um
grupo étnico-geográfico denominado Jagoz, diferente dos restantes habitantes da
região Saloia. O movimento comercial do porto da
Ericeira tornou-o num polo fundamental
da economia da região. Relatos
datados de 1834 dão
conta de que nesse ano ali fundearam 175 embarcações, que ora
transportavam produtos para a vila - principalmente cereais - que
de ali eram distribuídos para o interior do país, ora os
exportavam para os portos do Algarve, ilhas e
outros - especialmente vinhos e seus derivados.
A Alfândega da
Ericeira abrangia então uma área que se estendia de Cascais à Figueira da Foz, sendo o
seu porto considerado o quarto mais importante do país, atrás dos de Lisboa, Porto
e Setúbal. Com a
construção do caminho-de-ferro do Oeste e o
desenvolvimento dos transportes terrestres, o porto da Ericeira foi perdendo
importância. Nos finais do século XIX instalaram-se
na vila armações fixas de pesca da sardinha que
vieram alterar as antigas características piscatórias, mas que tiveram um papel
socioeconômico importante, chegando a empregar, só na faina do
mar, à volta de 500 homens.
Mas se a
vila deixou ao longo do século XIX de ser um entreposto comercial, nunca perdeu
a visita de "forasteiros", desta vez de veraneantes que
passaram a procurá-la devido às suas características climáticas e ao alto teor
de iodo das
suas praias. Charles Lepierre, engenheiro químico, considerou-as, há cinquenta anos, como
"o fulcro da
maior concentração de iodo de toda a costa portuguesa".
Hoje, a Ericeira continua a ser uma das zonas do litoral do
país mais procuradas para banhos.
Em 1958 depois
de fartos do elevado número de tragédias ocorridas na Ericeira, uma comissão de
moradores reuniu-se com o Ministro, Eng. Arantes e Oliveira para a construção
de um molhe.1 A
construção deste apenas começou em 1973, mas desde
cedo o seu desenho foi criticado pelos pescadores por estar na zona de
pancada do mar, onde a força da rebentação é mais forte. Isto veio a
ser demonstrado, quando em 1977 o mar
partiu o molhe em dois, seguido de muitos outros estragos ao longo dos tempos.
Um desses estragos levou à queda do farol que havia sido instalado na ponta do
molhe.
Fuga da Família Real
O episódio
da fuga de D. Manuel II para o exílio, da Praia
dos Pescadores, na Ericeira, tornou-se num marco da história da vila no
último século. Eram
cerca das 15 horas do dia 5 de Outubro de 1910 quando
D. Manuel II, então com vinte anos, acompanhado da mãe, a rainha D. Amélia, e da avó, a Rainha D. Maria Pia, vindos
de Mafra, surgiram de automóvel na
vila para embarcarem no Iate D. Amélia, fugidos da revolução republicana que estalara na véspera em Lisboa. Os
pormenores do que se passou naquele dia na Ericeira são-nos relatados por Júlio
Ivo, presidente da Câmara Municipal de Mafra no
tempo de Sidónio Pais, e que em 1928 inquiriu
a população da vila:"(…) os automóveis pararam e apeou-se a família real, seguindo
da rua do Norte para a rua de Baixo, pela estreita travessa que liga as duas
ruas, em frente quase da travessa da Estrela (…) Ao entrar na rua de Baixo, a
Família Real ia na seguinte ordem: na frente El-Rei D. Manuel; a seguir,
D. Maria Pia, depois, D. Amélia (…) El-Rei e quem os acompanhava subiram para
a barca,
valendo-se de caixotes e cestos de peixe (…) O sinaleiro fez sinal com o
chapéu, e a primeira barca, Bomfim, levando a bandeira azul e branca na popa,
entrou na água e seguiu a remos, conduzindo El-Rei (…)
A afluência
nas ribas era imensa. Tudo silencioso, mas de muitos olhos corriam lágrimas (…)
El-Rei ia muito pálido, D. Amélia com ânimo, D. Maria Pia, acabrunhada (…)
Ainda as barcas não tinham atracado ao iate, apareceu na vila, vindo do lado
de Sintra, um
automóvel com revolucionários civis, armados de carabinas e
munidos de bombas, que
disseram ser para atirar para a praia se
tivessem chegado a tempo do embarque (…)".
O turismo desempenha um papel fundamental na vida e
na economia da Ericeira. Sendo a única reserva mundial de surf na Europa e a
terceira no mundo, a freguesia é conhecida mundialmente pelas condições ideias
para a prática de surf e bodyboard, em particular nas praias da Foz do
Lisandro e
de Ribeira D'Ilhas, tendo nesta última passado uma das etapas do ASP World Tour. Nos
últimos anos tem-se assistido ao aumento de instalações de apoio à pratica
destes desportos, desde centros de treino, hotéis para surfistas, entre outro
tipo de infra-estruturas.
A vila
beneficia da sua proximidade à cidade de Lisboa e também da construção da
auto-estrada A21, sendo o local ideal, para milhares de pessoas que moram na capital e
arredores da mesma, passarem o fim-de-semana, aproveitando a óptima gastronomia
local e a tranquilidade da pitoresca vila e fugir das sempre cheias praias da
Costa da Caparica e da Linha de Cascais.
O Sumol
Summer Fest, maior evento de música reggae do país, realiza-se todos os anos no
Ericeira Camping, no mês de Junho, trazendo milhares de pessoas,
maioritariamente jovens, à Ericeira.
As praias e
os pesqueiros, bem assim
como o património monumental e o
gastronómico, com base numa variedade de peixes e mariscos, constituem os seus
maiores atrativos.
Praia da Ericeira (norte).
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