A Vaquejada é
uma atividade recreativa-competitiva com características de esporte do Nordeste brasileiro, no qual
dois vaqueiros a
cavalo têm de perseguir o animal (boi) até emparelhá-lo
entre os cavalos e
conduzi-lo ao objetivo (duas últimas faixas de cal do parque de
vaquejada), onde o animal deve ser derrubado.
Na época dos
coronéis, quando não havia cercas no sertão nordestino, os animais eram
marcados e soltos na mata. Depois de alguns meses, os coronéis reuniam os peões
(vaqueiros) para
juntar o gado marcado. Eram as pegas de gado, que originalmente aconteciam no
Rio Grande do Norte. Montados em seus cavalos, vestidos com gibões de couro,
estes bravos vaqueiros se embrenhavam na mata cerrada em busca dos bois,
fazendo malabarismos para escaparem dos arranhões de espinhos e pontas de
galhos secos. Alguns animais se reproduziam no mato. Os filhotes eram selvagens
por nunca terem mantido contato com seres humanos, e eram esses animais os mais
difíceis de serem capturados. Mesmo assim, os bravos vaqueiros os perseguiam,
laçavam e traziam os bois aos pés do coronel. Nessa luta, alguns desses homens
se destacavam por sua valentia e habilidade, e foi daí que surgiu a ideia da
realização de disputas.
A primeira vaquejada ocorrida no mundo, foi na cidade de Morada Nova no Ceará. O historiador Câmara Cascudo dizia
que por volta de 1810 ainda não existia a vaquejada, mas já se
tinha conhecimento de uma atividade parecida. Era a derrubada
de vara de ferrão, praticada em Portugal e na Espanha, onde o peão utilizava
uma vara para pegar o boi. Mas derrubar o boi pelo rabo, a vaquejada
tradicional, é puramente nordestina. Na região Seridó do
Rio Grande do Norte, mais precisamente no município de CURRAIS NOVOS onde tudo
começou, era impossível o uso da vara, pois o campo era muito acidentado e a
mata muito fechada, e por essa razão tudo indica que foi o vaqueiro seridoense
o primeiro a derrubar boi pelo rabo.
Somente em 1874 apareceu
o primeiro registro de informação sobre vaquejada. O escritor José de Alencar escreveu
a respeito da "puxada de rabo de boi" no Ceará, mas não
como sendo algo novo, ele deixou claro que a prática já ocorria anteriormente.
E se existia no Ceará, era indiscutível que pudesse existir em estados vizinhos
como, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí, já que
eram regiões tão semelhantes nos hábitos, atividade econômica e social, e
ambiente físico. Foi isso que levantou a suspeita dos pesquisadores. Eles
descobriram pela tradição falada que muito antes de 1870 já se
praticava vaquejada no Seridó Potiguar. Uma indicação para isso era a
existência dos currais de apartação de bois, que deram origem ao nome da cidade
de CURRAIS NOVOS, também no Rio Grande do Norte. Esses currais foram feitos em
1760. E era entre 1760 e 1790 que acontecia em Currais Novos a
apartação e feira de gado. Foram dessas apartações que surgiram as vaquejadas.
O pátio de apartação de São Bento, no município de Currais Novos foi construído
em 1830.
No Nordeste, desde
a colonização, o gado sempre foi criado solto. A coragem e a habilidade dos
vaqueiros eram indispensáveis para que se mantivesse o gado junto. O vaqueiro
veio tangendo os bois, abrindo estradas e desbravando regiões. Foram eles os
grandes desbravadores do sertão nordestino, e muito especialmente do sertão do
Seridó, região cheia de contos e lendas de bois e de vaqueiros.
Sem registros
precisos de datas, sabe-se apenas que em meados de 1940 os
vaqueiros de várias partes do nordeste começaram a tornar público suas
habilidades, na Corrida do Mourão, que começou a ser uma prática popular na
região nordeste.
Os coronéis e
senhores de engenho passaram a organizar torneios de vaquejadas, onde os
participantes eram os vaqueiros, e os patrões faziam apostas entre si, mas
ainda não existiam premiações para os campeões. Os coronéis davam apenas um
"agrado" para os vaqueiros que venciam. A festa se tornou um bom
passatempo para os patrões, suas mulheres e seus filhos.
Após alguns anos,
pequenos fazendeiros de várias partes do nordeste começaram a promover um novo
tipo de vaquejada, onde os vaqueiros tinham que pagar uma quantia em dinheiro,
para ter direito a participar da disputa. O dinheiro era usado para a
organização do evento e para premiar os vencedores.
As montarias, que
eram formadas basicamente por cavalos nativos daquela região, foram sendo
substituídas por animais de melhor linhagem. O chão de terra batida e cascalho,
ao qual os peões estavam acostumados a enfrentar, deu lugar a uma superfície de
areia, com limites definidos e regulamento. Cada dupla tinha direito a correr
três bois. O primeiro boi valia 8 (oito) pontos, o segundo valia 9 (nove) e o
terceiro boi correspondia a 10 (dez) pontos. Esses pontos eram somados e no
final da vaquejada era feita a contagem de pontos, a dupla que somasse mais
pontos era campeã, e recebia um valor em dinheiro. Esse tipo de vaquejada foi e
ainda é chamada de "bolão".
Com o tempo, a
vaquejada se popularizou de tal forma que existem clubes e associações de
vaqueiros em todos os Estados do Nordeste, calendários de eventos e
patrocinadores de peso, envolvendo um espírito de competição que agrada a
muitos.
Derrubada
do boi na vaquejada.
·
De 1880 a 1910: A prática
era com a lida do boi, a apresentação nos sítios e fazendas. Não existia
formalmente o termo Vaquejada. O Brasil vivia um momento de transição da
Monarquia para a República. As músicas de Chiquinha Gonzaga estouravam
nas paradas de sucesso.
·
De 1920 a 1950: A ideia da festa da vaquejada
começava a existir com as brincadeiras de argolas e corridas de pé-de-mourão.
Nesse período, o temido Lampião costumava participar das festinhas com
argolas, em fazendas de amigos. Na época destacavam-se, na música, Noel Rosa, Ari Barroso, e surgia
um garoto chamado Luiz Gonzaga no
Brasil republicano, onde brilhou a estrela de Getúlio Vargas.
·
De 1960 aos anos 70: Começam a ser disputadas as
primeiras vaquejadas na faixa dos seis metros. Ainda eram eventos de pequeno
porte, em sua maioria festinhas de amigos, com participação mínima de
vaqueiros. O Brasil vivia a época da ditadura. O forró de Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Marinês e
outros animavam as festas.
·
De 1980 aos anos 90: Mudanças nas regras da
vaquejada. A faixa dos seis metros, que exigia força do vaqueiro, passou a ser
de dez metros, cuja principal característica é a técnica. Começam a ser distribuídos
prêmios para os competidores, mas o público ainda era pequeno. Época em que o
País inteiro foi às ruas gritar pelas eleições diretas que foram consolidadas
em 1988.
·
Anos 90 até a
atualidade: A vaquejada é encarada como um grande negócio. Os organizadores
começam a cobrar ingressos e o público entende a proposta. O vaqueiro é
reconhecido como um atleta da pista. Nasce um novo forró com o surgimento de
bandas como "Mastruz com Leite".
Resultado: parques lotados e, a cada ano, surgem mais pessoas interessadas pela
atividade.
·
Depois de muito tempo, a vaquejada só tende a
crescer como um bom esporte para o povo nordestino e também para amantes da
vaquejada em outras regiões. O crescimento veio pelo fato da criação das
categorias (aspirante, amador, profissional), fazendo com que a prática desse
esporte se expanda.
·
As fazendas de antigamente com o passar do tempo vão
se estruturando de acordo com as atualidades e novas vão se criando. Suas
estruturas, formas de criação dos animais, qualidades são melhoradas para obter
ótimos vaqueiros e animais, que na vaquejada, dão o seu melhor para levar
resultado para sua equipe (Fazenda, Rancho, Haras). Dentre uma pesquisa
realizada em alguns estados encontra-se os seguintes parques e haras de
vaquejada com maiores títulos em disputas pelas regiões brasileiras:
- Parque Nacional do Vaqueiro, Serrita
(Pernambuco) - Parque Haras VM,
Pernambuco. - Parque Milani, Pernambuco.
- Parque Rancho do Pinguim, João
Pessoa, Paraíba. - Parque Ivandro Cunha Lima, Campina
Grande, Paraíba. - Parque Maria do Carmo, Serrinha,
Bahia. - Parque Miguel da Hora -
Jaguaquara - Parque Sant'Ana Campo Grande, Rio Grande
do Norte. -Parque Porcino Park Center, Mossoró,
Rio Grande do Norte. - Clube do Vaqueiro,
Fortaleza. - Parque Sossaite, Maragogi,
Alagoas. - Parque de Vaquejada Zezé Rocha, Lagarto,
Sergipe, Parque de Vaquejada Camaleão das Folhagens, Iaçu, Bahia. - Parque Dois Irmãos, PIO XII, Maranhão
As disputas são
entre várias duplas, que montados em seus cavalos perseguem
pela pista e tentam derrubar o boi na faixa
apropriada para a queda, com dez metros de largura, desenhada na areia da pista
com cal.
Cada vaqueiro tem
uma função: um é o batedor de esteira, o outro é o puxador.
O Batedor de Esteira
É o encarregado de
"tanger" o boi para
perto do derrubador no momento da disparada dos animais e pegar o rabo do boi e imediatamente
passar para o colega, além de empurrar com as pernas do seu cavalo, o boi para
dentro da faixa caso o boi tente levantar-se fora da faixa.
O Puxador
É o encarregado de
puxar o rabo do boi e de derrubá-lo dentro da faixa apropriada, e também quem
faz quase todo o trabalho, não desmerecendo o esteira.
O Juiz
O juiz serve
como árbitro na
disputa entre as duplas e deve ficar ao alto da faixa onde o boi será
derrubado. Ao boi cair na pista, dependendo do local, pontos são somados ou não
a dupla.
Se o boi for
derrubado dentro da faixa apropriada para esse fim, com as quatro patas para o
ar, ele grita para o público: "Valeu Boi", então, soma-se pontos a
dupla, se isso não acontecer, ele fala: "Zero", a dupla não consegue
somar pontos. E ganha aquele que tiver mais ponto somada, e aí é só festejar
mais uma vitória.
O Peão de vaquejada
hoje é regulamentado pela Lei nº 10.220, de 11 de abril de 2001, que
considera "atleta profissional o peão de rodeio… Entendem-se como provas
de rodeios as montarias em bovinos e equinos, as vaquejadas e provas de laço,
promovidas por entidades públicas ou privadas, além de outras atividades
profissionais da modalidade organizadas pelos atletas e entidades dessa prática
esportiva".
Empresários de todo
o país veem o evento como um grande e próspero negócio. As vaquejadas são
consideradas "Grandes Eventos Populares" deixando de ser uma simples
manifestação Cultural Nordestina, e atraindo um excelente público onde quer que
aconteçam.
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