Música/Dança
O samba é um gênero musical, que
deriva de um tipo de dança, de
raízes africanas, surgido
no Brasil e
considerado uma das principais manifestações culturais populares
brasileiras. Dentre suas características originais, possui dança
acompanhada por pequenas frases melódicas e refrões de criação anônima,
alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano. Apesar de ser um gênero musical resultante
das estruturas musicais europeias e africanas, foi com os símbolos da cultura
negra que o samba se alastrou pelo território nacional. Embora houvesse
variadas formas de samba no Brasil (não apenas na Bahia, como
também no Maranhão, em Minas Gerais, em Pernambuco e em São Paulo), sob a
forma de diversos ritmos e danças populares regionais que se originaram do
batuque, o samba como gênero musical é entendido como uma expressão
musical urbana do Rio de Janeiro, então capital do Brasil Imperial, onde
chegou durante a segunda metade do século XIX levado
por negros oriundos
do sertão baiano.
No Rio de Janeiro, a dança praticada pelos escravos libertos entrou em
contato e incorporou outros gêneros musicais populares entre os cariocas, como
a polca, o maxixe, o lundu e
o xote,
adquirindo um caráter totalmente singular nas primeiras décadas do século XX. Um marco
dentro da história moderna e urbana do samba ocorreu em 1917, no
próprio Rio de Janeiro, com a gravação em disco de "Pelo Telefone",
considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil (segundo os registros
da Biblioteca Nacional). O sucesso alcançado pela canção contribuiu para
a divulgação e popularização do samba como gênero musical.
A partir de então, esse estilo de samba urbano surgido no Rio começou a
ser propagado pelo país e, na década de 1930, foi alçado da condição "local" à
símbolo da identidade nacional brasileira. Inicialmente, foi um samba
associado ao carnaval e
posteriormente adquirindo um lugar próprio no mercado musical. Surgiram muitos
compositores como Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Pixinguinha e Sinhô, mas os
sambas destes compositores eram amaxixados,
conhecidos como sambas-maxixe. Os
contornos modernos desse samba urbano carioca viriam somente no final da década
de 1920, a partir de inovações em duas frentes: com um grupo de compositores
dos blocos carnavalescos dos bairros do Estácio de Sá e Osvaldo Cruz e com
compositores dos morros da cidade como em Mangueira, Salgueiro e São Carlos. Não por acaso, identifica-se esse formato de
samba como "genuíno" ou "de raiz". A medida que o samba no
Rio de Janeiro consolidava-se como uma expressão musical urbana e moderna, ele
passou a ser tocado em larga escala nas rádios,
espalhando-se pelos morros cariocas e bairros da zona sul do Rio de Janeiro. Inicialmente
criminalizado e visto com preconceito, por suas origens negras, o samba
conquistaria o público de classe média também.
O samba moderno urbano surgido a partir do início do século XX, no Rio de
Janeiro, tem ritmo basicamente 2/4 e andamento variado, com aproveitamento
consciente das possibilidades dos estribilhos cantados ao som de palmas e ritmo
batucado, e aos quais seriam acrescentados uma ou mais partes, ou estâncias, de
versos declamatórios.1 Tradicionalmente,
esse samba é tocado por instrumentos de corda (cavaquinho e
vários tipos de violão) e
variados instrumentos de percussão, como o pandeiro, o surdo e o tamborim. Com o
passar dos anos, outros instrumentos foram sendo assimilados, e se criaram
novas vertentes oriundas dessa base urbano carioca de samba, que ganharam
denominações próprias, como o samba de breque, o samba-canção, a bossa nova, o samba-rock, o pagode, entre
outras. Em 2005, o samba de roda se
tornou um Patrimônio da Humanidade da Unesco.
Por muitos anos da história do Brasil, o termo "batuque" era
a denominação comum a qualquer manifestação que reunisse canto, dança e uso de
instrumentos dos negros, por
extensão designando festejos. Esse sentido amplo permaneceu na literatura
colonial até o início do século XX, quando a
palavra "samba" passou a suplantar "batuque". Em
meados do século XIX, a palavra
"samba" definia diferentes tipos de música introduzidas pelos
escravos africanos, sempre conduzida por diversos tipos de batuques, mas que
assumiam características próprias em cada Estado brasileiro, não só
pela diversidade das tribos de escravizados, como pela peculiaridade de cada
região em que foram assentados. Algumas destas danças populares conhecidas
foram: bate-baú, samba-corrido, samba-de-roda, samba-de-chave e
samba-de-barravento, na Bahia; coco, no Ceará;
tambor-de-crioula (ou ponga), no Maranhão; trocada,
coco-de-parelha, samba de coco e soco-travado, no Pernambuco; bambelô,
no Rio Grande do Norte; partido-alto, miudinho, jongo e caxambu, no Rio de Janeiro;
samba-lenço, samba-rural, tiririca, miudinho e jongo em São Paulo.
Existem
algumas versões acerca do nascimento do termo "samba". Uma delas
afirma ser originário do termo "Zambra" ou "Zamba",
oriundo da língua árabe, tendo
nascido mais precisamente quando da invasão
dos mouros à Península Ibérica no século VIII. Uma
outra diz que é originário de um das muitas línguas africanas, possivelmente do quimbundo,
onde "sam" significa "dar",
e "ba" "receber" ou "coisa
que cai". Ainda há uma versão que diz que a palavra samba vem de outra
palavra africana, semba, que significa umbigada.
No Brasil, acredita-se que o termo "samba" foi
uma corruptela de "semba" (umbigada), palavra de origem africana -
possivelmente oriunda de Angola ou Congo, de onde veio a maior parte dos escravos para o Brasil. Um dos registros mais antigos da palavra samba
apareceu na revista satírica pernambucana O
Carapuceiro, datada de 3 de fevereiro de 1838, quando
Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama escrevia contra o que chamou de "samba
d'almocreve" - ou seja, não se referindo ao futuro gênero
musical, mas sim a um tipo de folguedo (dança dramática) popular de negros
daquela época. De acordo com Hiram da Costa Araújo, ao longo dos séculos, as festas de danças dos
negros escravos na Bahia eram
chamadas de "samba". No Rio de Janeiro, no
entanto, a palavra só passou a ser conhecida ao final do século XIX, quando
era ligada aos festejos rurais, ao universo do negro e ao "norte" do
país, ou seja, a Bahia.
Samba de
roda
Tendo herdado o status de capital desde 1763 sob
o Brasil Colônia, o Rio de Janeiro registrou um crescimento vertiginoso de seus
índices demográficos nos 25 anos finais do século XIX, época na
qual a cidade se consolidava como o epicentro político, social e cultural do
país. No início da década de 1890, havia mais de meio milhão de habitantes no
Rio, dos quais apenas a metade era natural da cidade - os demais vinham de
outras províncias, como Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo e,
principalmente, Bahia. Eram
migrantes principalmente entre as populações negra e mestiça, bem como
de ex-soldados da Guerra de Canudos do
final daquele século, que povoavam as imediações do Morro da Conceição, Pedra do Sal, Praça Mauá,Praça Onze, Cidade Nova, Saúde e Zona Portuária. Estes povoamentos formariam comunidades pobres
que estas próprias populações denominaram de favela (posteriormente,
o termo se tornaria sinônimo de construções irregulares das classes menos
favorecidas).
Ala das
baianas
Estas comunidades seriam cenário de uma parte significativa da cultura negra brasileira,
especialmente com relação ao candomblé e
ao samba
amaxixado daquela época. Dentre os primeiros destaques, estavam o músico e
dançarino Hilário Jovino Ferreira - responsável
pela fundação de vários blocos de afoxé e ranchos carnavalescos - e
das "Tias Baianas" - termo como
ficaram conhecidas muitas baianas descendentes de escravos no final do século XIX.
Dentre as principais "tias baianas", destacaram-se Tia Amélia
(mãe de Donga), Tia
Bebiana, Tia Mônica (mãe de Pendengo e Carmem Xibuca), Tia Prisciliana (mãe
de João da Baiana), Tia Rosa Olé, Tia Sadata, Tia Veridiana (mãe de
Chico da Baiana). Talvez a mais conhecida delas tenha sido Hilária Batista de Almeida - a Tia Ciata. Assim,
o samba propriamente como gênero musical nasceria nos primórdios do século XX nas
casas destas "tias baianas", como um estilo descendente do lundu, das
festas dos terreiros entre umbigadas (semba) e
pernadas de capoeira, marcado no pandeiro,
prato-e-faca e na palma da mão.
SAMBA
O samba baiano rural adquiriu denominações suplementares, conforme as
variações coreográficas - por exemplo, o "samba-de-chave",
em que o dançarino solista fingia procurar no meio da roda uma chave, e quando
a encontrava, era substituído. A estrutura poética do samba baiano obedecia à
forma verso-e-refrão - composto de um único verso, solista, a que se segue
outro, repetido pelo coro de dançarinos de roda como estribilho. Não
havendo refrão, o samba é denominado samba-corrido, variante
pouco comum. Os cantos tirados
por uma cantador, que é um dos instrumentistas ou o dançarino solista.
Outra peculiaridade do samba baiano era a forma de concurso que a danças às
vezes apresenta, que era uma disputa entre os participantes para ver quem
melhor executava seus detalhes solistas. Afora a umbigada, comum a
todo o samba, o da Bahia apresentava três passos fundamentais: corta-a-jaca, separa-o-visgo e apanha-o-bago.
Há também outro elemento coreográfico, dançado pelas mulheres: o miudinho (este
também aparecia em São Paulo, como
dança de solistas em centro de roda.). Os instrumentos do samba baiano
eram o pandeiro, o violão, o chocalho e, às
vezes, as castanholas e
os berimbaus.
Em São Paulo, o samba
passou do domínio negro para
o caboclo. E,
na zona rural, pode se
apresentar sem a tradicional umbigada. Há também
outras variantes coreográficas, podendo os dançarinos se dispor em fileiras
opostas - homens de um lado, mulheres de outro. Existem referências a este tipo
de samba de fileiras em Goiás, com a
diferença de que lá foi conservada a umbigada. É possível que a disposição
primitiva de roda, em Goiás, tenha sido alterada por influência da quadrilha ou do cateretê. De acordo
com o historiador Luís da Câmara Cascudo, é possível
observar a influência da cidade no
samba pelo fato de ele ser também dançado por par enlaçado. Os
instrumentos do samba paulista eram as violas, os adufes e
os pandeiros.
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