Município baiano
Suas riquezas: caprinocultura, vinicultura, turismo e as águas do Rio São
Francisco
Casa Nova é um município brasileiro do estado da Bahia no semiárido nordestino. Segundo o
IBGE, sua população em 2010 era
de 64.944 habitantes. Faz parte da Região Administrativa Integrada
de Desenvolvimento do Polo Petrolina e Juazeiro.
A
localidade de Casa Nova surgiu na primeira metade do século XIX, a partir
da descoberta e comercialização de sal em seu território. Algumas publicações
mencionam como seu fundador um português senhor Viana, sem revelar mais
Campo de
futebol sobre as dunas de Casa Nova
informações
sobre o personagem. Oficialmente o município foi criado por lei provincial de
1879, com área desmembrada do município de Remanso, que por sua vez já
pertencera a Pilão Arcado. Seu nome
original foi São José do Riacho de Casa Nova.
A distância
oficial de Salvador a Casa Nova é de 572 km. Durante boa
parte do século XX, era
normal ir-se de Casa Nova a Juazeiro de barco, vapor ou caminhão. De lá,
tomava-se o trem para
Salvador, uma vez que a ligação ferroviária Salvador-Juazeiro existia desde
1896. Na segunda metade do século XX, a progressiva decadência do transporte
ferroviário no Brasil terminou por atingir o trecho, que foi totalmente
desativado em meados da década de 90, depois de passar anos operando apenas
para o transporte de cargas. O último trem
de passageiros intermunicipal da Bahia, o “Marta Rocha”, que ligava Alagoinhas a Senhor do Bonfim, foi desativado em 1989.
Com o ocaso
das ferrovias brasileiras
e o não aproveitamento, por vários motivos, do São Francisco como hidrovia, a
comunicação de Casa Nova com o mundo passou a depender apenas das rodovias. A ligação
Casa Nova-Salvador é feita pela BA-235 (de Casa Nova a Juazeiro), BR-407 (de
Juazeiro a Capim Grosso) e BR-324 (de Capim Grosso a Salvador). Este caminho,
no entanto, nem sempre é o mais curto. Muito frequentemente, quem sai de
Salvador para Casa Nova opta por rodovias alternativas em melhor estado de
conservação , o que implica considerável aumento na distância percorrida. Como
a barragem de
Sobradinho provocou a mudança do local da cidade, Casa Nova, originalmente
situada no final de uma rodovia, passou a ser, a partir de 1976, uma cidade de
beira de estrada (no caso, a BA-235), com tudo o que isso implica de bom e de
ruim. Em anos recentes a rodovia BA-235 começou a ser usada como caminho
alternativo por caminhões vindos do Maranhão e Piauí, já que a BR-407 (que liga
Picos-PI a Juazeiro-BA) estava esburacada e perigosa (devido ao alto índice de
assaltos). O tempo passou, a situação da BR-407 não melhorou, e a BA-235 segue
sofrendo as consequências do tráfego pesado, particularmente no trecho entre
Casa Nova e Remanso.
Praia e
dunas do São Francisco em Casa Nova
Entre agosto de 1879 e janeiro de 1890, Teodoro Sampaio, engenheiro baiano da comissão
pelos estudos da navegação no interior do Brasil, percorreu o rio São Francisco
da foz até Pirapora (MG), voltando em seguida até Cariranha, de onde partiu
para explorar a Chapada Diamantina. A partir do que
observou nessa viagem, escreveu vários artigos, reunidos em 1906 no livro “O
Rio São Francisco e a Chapada Diamantina”. Um
dos capítulos do livro recebeu o título de “As Salinas de Casa Nova”. Nele
o autor aborda praticamente apenas a extração do sal, então mais importante
atividade econômica do município. Alguns anos antes, em 1867, o São Francisco
foi percorrido por Richard Burton, naturalista e explorador inglês conhecido
pelo empenho que dedicou à descoberta da nascente do rio Nilo (que terminou
sendo encontrada por um outro inglês ...). Nas proximidades de Santana Burton
escreveu “... o São Francisco (aqui) é
um grande espetáculo, de imensa amplitude, lustroso como óleo, e refletindo,
como um espelho sem aço, o céu e a terra”.
É provável
que o casanovense mais conhecido seja Luiz Viana, pois
trata-se de caso raríssimo na política brasileira. Formado em Direito na
Faculdade de Recife, foi promotor, juiz e finalmente conselheiro (desembargador) do então
Tribunal de Apelação de Revista (atual Tribunal de Justiça) da Bahia, casa que
veio a presidir. O título terminou incorporado a seu nome, e foi como
“Conselheiro Luiz Viana” que ele passou a ser definitivamente conhecido. Depois
de ter presidido o Poder Judiciário da Bahia, Luiz Viana foi também senador
estadual e presidente do Senado Estadual, o equivalente aos atuais deputado
estadual e presidente da Assembleia Legislativa. Finalmente, foi governador da
Bahia de 1896 e 1900. Completou, assim, a “tríplice coroa” do poder estadual à
época. Seu governo foi marcado pela guerra de Canudos (novembro de 1896 a
outubro de 1897). Da última década do século XIX até 1920, quando faleceu, o
conselheiro Luiz Viana exerceu grande influência na política baiana. Seu filho,
que foi senador e governador da Bahia, além de escritor e membro da Academia
Brasileira de Letras, nasceu em Paris, filho de mãe alemã (segunda esposa do
pai), tendo sido registrado como Henrique Luiz Viana. Somente anos mais tarde,
ao fazer seu registro de emancipação no cartório da Sé, em Salvador, passou a
se chamar oficialmente Luiz Viana Filho.
Os
acontecimentos mais marcantes na história de Casa Nova são o movimento fanático
religioso de Pau-de-Colher, em 1938, e a mudança, em 1976, da localização da
cidade devido à construção da barragem de Sobradinho e a consequente inundação
da área original da cidade, com a formação do lago.
O movimento de Pau-de-Colher, localidade do
município, guarda várias semelhanças com o de Canudos, tendo terminado, assim
como este, com a intervenção de tropas estaduais e federais e a morte de
centenas dos fanáticos participantes. Foi assunto de
mais de um livro, sendo o mais recente “Pau-de-Colher – Um pequeno Canudos –
Conotações políticas e ideológicas”, do casanovense Raimundo Estrela, publicado
em 1997.
Banho de
rio – Casa Nova
O lago formado com a barragem de Sobradinho cobriu
as cidades originais de Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso e Sento Sé. A mudança
das cidades e das populações ribeirinhas por causa da barragem inspirou músicas
(“Sobradinho”, de Sá e Guarabira), literatura de cordel e trabalhos que
circularam no meio acadêmico. Mas, em plena década de 70, época do
“Brasil grande” do governo militar, só se falou sobre os benefícios da
gigantesca obra, ficando o grande público carente de uma visão menos parcial
sobre o assunto. Mais recentemente, com a discussão da transposição do rio São
Francisco, o tema passou a despertar novo interesse. Um exemplo foi a publicação, em 2005, do livro “Os Descaminhos do São
Francisco”, de Marco Antônio Tavares Coelho, em que o autor faz um histórico da
utilização do rio, abordando, entre outros assuntos, erros cometidos na
construção da barragem de Sobradinho.
Casa Nova
se situa às margens do rio São Francisco. Mais precisamente, fica no Médio São
Francisco, já que é comum dividir o rio geograficamente em Alto São Francisco
(da nascente até a cidade de Pirapora), Médio São Francisco (de Pirapora até a
cachoeira de Paulo Afonso) e Baixo São Francisco (da cachoeira de Paulo Afonso
à foz, entre Sergipe e Alagoas). A área total do município é de 9.657,51 km²,
o que o torna o quarto maior em território na Bahia, atrás de Sento-Sé
(12.871 km²), Correntina (12.242 km²) e Pilão Arcado
(11.700 km²). Para fins de comparação, Luxemburgo, país europeu com o
maior PNB (Produto Nacional Bruto) per capita do
mundo, tem 2.586 km². Ao longo de sua história, houve mais de uma
tentativa de emancipar de Casa Nova seu distrito mais desenvolvido, Santana do
Sobrado, o que terminou não ocorrendo até hoje.
Mais de 1 milhão de garrafas de vinho são produzidas anualmente em Casa Nova. Não é
pouco, considerando que se trata de indústria relativamente recente no município.
O Rio Grande do Sul, maior produtor do país, concentra aproximadamente
85% da produção vinícola brasileira e já tem marcas de valor reconhecido
nacionalmente. No município é normal serem colhidas duas safras de uva por ano.
Para a produção de vinho, porém, quantidade importa menos que qualidade.
Produzir bons vinhos a um preço competitivo é um desafio para o Brasil em geral
e para a região do Baixo Médio São Francisco em particular. Trata-se de mercado
com enorme potencial de crescimento, pois o consumo per capita anual da bebida
no Brasil é de modestos 1,61 litros/ano por habitante (dados de 2009 -
www.wineinstitute.org). Na França esse valor é de 45,23 litros/ano e na
Austrália, país de clima mais próximo ao nosso, de 23,19 litros/ano. Para
constar, o consumo médio de cerveja no Brasil é de 57 litros/ano por habitante
(dados de 2009 - Sindicerv - Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja).
Casa Nova tem o maior rebanho de caprinos da
Bahia, com 403.410 cabeças (dados
da pesquisa Produção Pecuária Municipal, realizada pelo IBGE em 2005). A Bahia, por sua vez, tem o maior rebanho
de caprinos do Brasil. São números importantes, mas que, sozinhos, pouco
dizem. A caprinocultura, tradicionalmente associada à
subsistência
no Brasil, só recentemente passou a
receber, na região de Casa Nova, um maior cuidado em relação à melhoria da
qualidade do rebanho. Essas medidas, aliadas ao beneficiamento local da carne e
o leite de cabra, podem, a médio prazo, multiplicar o potencial econômico da
criação de caprinos no município.
O turismo de Casa Nova está
estritamente ligado ao Rio São Francisco, constituído
principalmente de praias de água doce como as Dunas do Velho Chico e a Ilha dos
Moisés. A vinicultura é, também, um atrativo turístico no município.
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