segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

CONHEÇA O ENREDO DE HAMLET, de WILLIAM SHAKESPEARE

Livro

“Ser ou não ser, eis a questão”

O protagonista de Hamlet é o Príncipe Hamlet de Dinamarca, filho do recentemente morto Rei Hamlet e sobrinho do Rei Cláudio, irmão e sucessor de seu pai. Após a morte do Rei Hamlet, Cláudio casa-se apressadamente com a então viúva Gertrudes, mãe do príncipe. No cenário histórico a Dinamarca está em disputa com a vizinha Noruega, e existe a expectativa de uma suposta invasão liderada pelo príncipe norueguês Fórtinbras.

Horácio, Hamlet, e o Fantasma (Artista: Henry Fuseli 1798).

A peça abre numa noite fria no Castelo de Elsinore, o Castelo Real Dinamarquês. Os sentinelas tentam convencer Horácio, amigo do Príncipe Hamlet, que eles têm visto o fantasma do rei morto, quando ele aparece novamente. Depois do encontro de Horácio com o Fantasma, Hamlet resolve vê-lo com seus próprios olhos. À noite, o Fantasma aparece para Hamlet. O espectro diz a Hamlet que é o espírito de seu pai morto, e revela que Cláudio o matou com um frasco de veneno, despejando o líquido em seu ouvido. O Fantasma pede que Hamlet vingue sua morte; Hamlet concorda, com pena do espectro, decidindo fingir-se de louco para não levantar suspeitas. Ele, contudo, duvida da personalidade do fantasma. Ocupados com os assuntos de Estado, Cláudio e Gertrudes tentam evitar a invasão de Fórtinbras. Um tanto preocupados com o comportamento solitário e errático de Hamlet, acrescido de seu luto profundo diante da morte do pai, eles convidam dois amigos do príncipe - Rosencrantz e Guildenstern - para descobrirem a causa da mudança de comportamento de Hamlet. Hamlet recebe os companheiros calorosamente, todavia logo discerne que eles estão contra ele.

Polônio é o conselheiro-chefe de Cláudio; seu filho, Laertes, está indo de viagem à França, enquanto sua irmã, Ofélia é cortejada por Hamlet. Nem Polônio nem Laertes acreditam que Hamlet nutra desejos sinceros com Ofélia, e ambos alertam para ela esquecê-lo. Pouco depois, Ofélia fica alarmada pelo comportamento estranho de Hamlet e confessa ao pai que o príncipe irá ter com ela num dos aposentos do castelo, mas olha fixamente para ela e nada se diz. Polônio assume que o "êxtase do amor" é o responsável pela loucura de Hamlet, e informa isso a Cláudio e Gertrudes. Mais tarde, Hamlet discute com Ofélia e insiste para que ela vá "a um convento".

O desmascaramento de Cláudio é atingido através de um recurso singular: o teatro no teatro (Artista: Maclise)

Hamlet continua sem saber se o espírito lhe contou a verdade, mas a chegada de uma trupe artística em Elsinore apresenta-se como uma solução para a dúvida. Ele vai montar uma peça, encenando o assassinato do pai - assim como o espectro lhe relatou - e determinar, com a ajuda de Horácio, a culpa ou a inocência de Cláudio, estudando sua reação. Toda a corte é convocada para assistir o espetáculo; Hamlet fornece comentários durante toda a encenação. Quando a cena do assassinato é realizada, Cláudio, "muito pálido, ergue-se cambaleante", ato que Hamlet interpreta como prova de sua culpabilidade. O rei, temendo pela própria vida, bane Hamlet à Inglaterra em um pretexto, vigiado por Rosencrantz e Guildenstern, com uma carta que manda o portador ser assassinado.
Gertrudes, "em grandíssima aflição de espírito", chama o filho em sua câmara e pede uma explicação sensata sobre a conduta que resultou no mal-estar do rei. Durante o caminho, Hamlet encontra-se com Cláudio rezando, distraído. Hamlet hesita em matá-lo, pois raciocina que enviaria o rei ao céu, por ele estar orando. No quarto da rainha, mãe e filho têm um debate fervoroso. Polônio, que espia tudo por detrás das cortinas, denuncia-se ao fazer um barulho; Hamlet, acreditando ser Cláudio, dá uma estocada através do arrás e descobre Polônio morto. O Fantasma aparece, dizendo que Hamlet deve acolher sua mãe suavemente, embora volte a pedir vingança.

Hamlet e Horácio com os dois rústicos. (Artista: Eugène Delacroix).

Demente em luto pela morte do pai, Ofélia caminha por Elsinore cantando libertinagens. Laertes retorna da França enfurecido pela morte do pai e melancólico pela loucura da irmã. Cláudio convence Laertes que Hamlet é o único responsável pelo acontecido; e é então que chega a notícia de que o príncipe voltou à Dinamarca porque seu barco foi atacado por piratas no caminho da Inglaterra. Rapidamente Cláudio propõe a Laertes uma luta de espadas entre ele e Hamlet onde o primeiro dos dois utilizará uma espada envenenada, sendo que na ocasião será oferecido ao príncipe uma taça de vinho com veneno, se o "plano A" falhar. Até que Gertrudes interrompe a conversa dizendo que Ofélia afogou-se.

Vemos depois dois rústicos discutindo o aparente suicídio de Ofélia num cemitério, preparando-se para cavar sua sepultura. Hamlet aparece com Horácio e se aproxima de um dos rústicos, que depois segura um crânio que conta ser de Yorick, um bobo da corte que Hamlet conheceu na infância. Quando o cortejo fúnebre de Ofélia aparece liderado por Laertes e Hamlet descobre que o rústico cavava a sepultura da moça, ele e Laertes se investem em luta, na cova, dizendo amar Ofélia, mas o conflito é separado pelos demais.

Gustave Moreau retrata o momento em que Hamlet vinga-se de seu pai envenenando o tio e pondo fim à peça.

No regresso a Elsinore, Hamlet conta a Horácio como escapou do destino mortal que foi entregue a Rosencrantz e Guildenstern. Interrompendo a conversa, Orisco aparece para convidar o príncipe a um combate de armas brancas proposto pelo rei. Quando o exército de Fórtinbras cerca Elsinore, a competição começa e ambos os cavalheiros tomam posição. O rei, como planejou anteriormente, separa a taça envenenada e deposita dentro do líquido uma pérola, oferecendo-a a Hamlet, que deixa a bebida para depois. Hamlet vence o primeiro e o segundo assalto, e a rainha toma a taça envenenada, "bebendo a sua sorte".

Enquanto a mãe enxuga a face do filho, Laertes decide feri-lo com a arma envenenada. Hamlet, usando sua força, atraca-se com o inimigo e, no corpo-a-corpo, trocam as espadas. Ele penetra profundamente em Laertes o item envenenado. A rainha confessa que morre por conta do veneno, enquanto Laertes revela que o rei é o culpado de toda a infâmia. A rainha morre envenenada.

Hamlet fere o rei com a espada envenenada, mas ele diz estar apenas machucado. Furioso, o sobrinho obriga Cláudio a beber a taça com veneno à força, e o mata, vingando a morte de seu pai. Laertes, morrendo aos poucos, despede-se de Hamlet, ambos perdoam-se. Quando é a vez de Hamlet, Horácio diz que será fiel ao príncipe morrendo junto com ele, mas o primeiro não permite, tombando para trás e dizendo que a eleição cairá certamente em Fórtinbras. Hamlet morre, dizendo "O resto é silêncio." Fórtinbras invade o castelo com seu exército e ordena que "quatro capitães conduzam Hamlet como um soldado, para o cadafalso". Os soldados carregam o corpo do príncipe; soa a marcha fúnebre, e depois uma salva de canhões.

Apreciação crítica


FELIPE PIMENTA

Professor. Sou graduado em filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Meus maiores interesses são a Metafísica, a História, a política e a psicologia. Meus filósofos preferidos são Pitágoras, Parmênides, Platão, Aristóteles, Euclides de Alexandria, Santo Agostinho, Proclo, São Tomás de Aquino, Duns Scotus, Nicolau de Cusa, Leibniz, Berkeley, Kant, Schopenhauer e Heidegger. Em filosofia política, eu gosto de Giambattista Vico, Tocqueville, Hannah Arendt, Eric Voegelin e John Rawls. Estudo também a obra de Carl Gustav Jung.

Resenha de Hamlet, de William Shakespeare

Professor. Sou graduado em filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Meus maiores interesses são a Metafísica, a História, a política e a psicologia. Meus filósofos
Morrer…Dormir!…Talvez Sonhar! Uma Crítica de Hamlet
Um dos grandes mistérios da vida se Shakespeare era sua religião. Tendo nascido em um país que se tornou protestante de forma mais lenta do que em outros casos na europa, o poeta e dramaturgo inglês parecia estranhamente próximo ao catolicismo, por seus personagens simpáticos ao catolicismo, e seus dramas e comédias muitas vezes ambientados em um país católico como a Itália.

De maneira muito diferente de seus compatriotas, como o filósofo Thomas Hobbes e o poeta John Milton, que eram abertamente hostis ao catolicismo, Shakespeare apresentava padres, freiras e dogmas católicos de uma maneira muito realista e simpática.

O ambiente de Hamlet, no entanto, parece, de início, ser um drama protestante, pois a história se passa na Dinamarca, e Hamlet volta de Wittenberg, onde estudava, no coração da reforma protestante. Mas isso, na minha opinião, não impede que Hamlet seja uma obra profundamente católica.

A cena inicial mostra alguns soldados que estavam de sentinelas que avistam a alma do falecido rei, pai de Hamlet. Eles então avisam a Hamlet sobre o acontecimento. A alma então fala com Hamlet, e diz que foi assassinada, para a surpresa do personagem principal.

Ela continua sua história: diz que está condenada a vagar pela noite e durante o dia a jejuar nas chamas, até que estejam extintos os pecados de sua vida terrena. Aqui está uma clara representação do dogma católico do purgatório. Não acredito que se Shakespeare fosse hostil ao catolicismo, ou seja, se fosse protestante, jamais criaria uma cena como essa sem condená-la explicitamente.

A alma do pai de Hamlet quer vingança pelo seu assassinato, e ele conta ao filho como foi que tudo aconteceu, tendo sido morto por seu próprio irmão, tio de Hamlet, que se torna então, amante da rainha.

O espírito lamenta, como católico que era, que tenha morrido sem a extrema-unção, sem confissão e os sacramentos. Hamlet então acredita no relato da alma de seu pai e jura vingança.

O drama da peça começa aí: como o espírito de Hamlet reage ao saber de tamanha traição ao seu pai e a perfídia de sua mãe e de seu tio. Hamlet então diz que há mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa filosofia. Isso tanto pode referir-se à alma de seu pai ter aparecido aos vivos, como a traição que reinava na sua família, que era mais do que todos podiam imaginar.

A forma como Hamlet reage ao saber da verdade de tamanha tragédia é a questão central nesse drama. Hamlet, que era uma pessoa justa, não parece conseguir suportar tamanha história de horror e começa a agir como se estivesse perturbado. Passa a falar com palavras estranhas com sua mãe, seu tio, e sua provável futura esposa, Ofélia.

Então, no meio da peça, Hamlet faz o seu famoso monólogo do ser ou não ser. O que Hamlet queria dizer com isso?

Poderia ser uma reflexão sobre a possibilidade do suicídio em quem está sofrendo com tamanha dor. Hamlet questiona se vale a pena suportar todas as misérias dessa vida, e se o suicídio seria um meio de escapar a tudo isso de maneira válida.

Será que existe alguma coisa depois da morte? Isso é o que Hamlet questiona. A resposta ele mesmo encontra em sua consciência cristã quando pensa na existência de uma outra vida, e na possibilidade que o inferno realmente exista, porque ele tem medo de que evitando os males de nosso mundo, possamos cair um tormentos ainda maiores no inferno, que é o local que ele imagina que exista de verdade.

Hamlet então rejeita o amor de Ofélia por causa da sua obsessão com a vingança; Ofélia vê-se rejeitada por Hamlet e termina se suicidando. Hamlet contempla a possibilidade de se tornar um assassino para fazer justiça. Essa é também a questão de saber se ele deve ser ou não ser um assassino. Em Hamlet, existe a possibilidade de que o filho ame a própria mãe, e seu desejo era o de matar seu tio justamente para viver esse caso proibido. Teria também desejado a morte de seu pai secretamente, mas foi surpreendido pela notícia de que sua própria mãe era responsável pela tragédia. Essa é uma interpretação psicológica do drama.

Eu prefiro a interpretação cristã. Hamlet é a própria existência do pecado original, em que o homem deseja o mal em sua alma. Lembra a advertência de Deus ao próprio Caim dizendo para que ele se controlasse, pois se isso não acontecesse, o pecado estava à porta, e isso seria o desejo de Caim, mas que sobre o pecado, ele deveria dominar e triunfar.

Shakespeare conhecia essa passagem da Bíblia, e a reproduz em Hamlet. Primeiro ele se sente triste e abandonado; não sabe o que fazer. Com isso segue que o desejo de vingança domine a sua vontade, e que o pecado do assassinato torne-se o seu desejo dominante. Com isso, como no livro do Gênesis, Hamlet estava com o pecado na porta de sua imaginação, no entanto, como Caim, Hamlet não foi forte o suficiente para suportar a provação e deixou-se dominar pela tristeza, que era conhecida pelos medievais como um dos sete pecados capitais.

Não irei contar o final, mas como em outras peças de Shakespeare, o mal triunfa, pois o dramaturgo inglês, como percebeu o filósofo alemão Schopenhauer, queria mostrar ao homem o próprio pecado de termos nascido. É o própria queda do homem e a maldade que reina em seu coração e mente, que Shakespeare pretende reproduzir em seus personagens.

A peça é dramática e tem momentos tensos e profundos, como quando Hamlet questiona se o suicídio é uma saída para os sofrimentos desse mundo. Nunca vi essa peça, que deve ser ainda melhor assistida do que lida. Uma obra fundamental para entendermos o próprio sentido do sofrimento e da vida.

A apreciação crítica foi extraída: http://felipepimenta.com/

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