terça-feira, 13 de janeiro de 2015

GUERRA DO PARAGUAI


Por Joaquim L. De Souza
Extraído do livro, Encilhamento Na História do Brasil – Crise financeira do governo da República

Quando parecia que o Brasil poderia, enfim, consolidar um período de tranquilidade e progresso material, a situação internacional na região do Rio Prata, iria complicar-se. A região Sul, em  realidade, desde o período colonial, era alvo de intermináveis conflitos de fronteiras decorrentes de antigas rivalidades entre os países surgidos na bacia do Prata. O Brasil, não estava fora dessas disputas.
O fato é que, em 1864 a tranquilidade do período seria abalada por um conflito que vitimou milhares de paraguaios, brasileiros, argentinos e uruguaios, sendo por isso considerado o conflito Sulamericano mais sanguinolento e o de mais longa duração (entre 1864 e 1870), o qual, além do mais, aumentou a dívida do Brasil com os ingleses, reabriu a divisão da elite quanta a forma do governo, aumentou as dúvidas sobre a duração da escravatura e abalou a fé brasileira de modo mais geral em sua força como nação.
“Estava o território coalhado de moribundos e feridos inimigos. Vários de nossos soldados, ébrios de pólvora e de folgo, queriam acaba-los. Horrorizados, debalde esforçavam-se os nossos oficiais em lhes arrancar as vítimas das mãos, exprobando-lhes a indignidade de semelhante chacina...” Assim, Alfredo d’Escragnoll Taunay, em sua obra de 1871, A Retirada da Laguna (escrita em francês e depois traduzida para o português pelo filho do autor) descreveu as cenas selvagens ocorridas durante a guerra do Paraguai.
Conflito que se acreditava fosse um embate curto, quase cirúrgico, no dizer de Del Priori, liderado por um “rei guerreiro” o jovem D. Pedro II, que teria visto a guerra como uma oportunidade de o Brasil provar seu brio no cenário internacional, imaginando, ainda, que a vitória sobre o Paraguai faria o Brasil ganhar, finalmente, tanto do Velho como do Novo Mundo. A realidade, entretanto, se abateria sobre o Imperador, cuja barba começaria, então a embranquecer, não só pelo conflito ter se prolongado, cheio de lances de glória e sofrimento para o Império até 1º de março de 1870, como pelos novos e onerosos empréstimos contraídos com a Inglaterra para financiar a guerra.
Os testemunhos dos documentos referentes ao recrutamento para a guerra mostram que foi um vale-tudo no alistamento, que teve por base as mais diferentes formas e expedientes: prisões foram esvaziadas, assim como crianças e vadios eram caçados pelas ruas das principais cidades brasileiras. Nem mesmo os meninos escravos, “propriedades alheias”, conseguiram escapar. Havia outra origem de voluntários da pátria, que dizia respeito aos escravos que assentavam praça usando nomes falsos, legitimando um projeto de fuga e garantindo casa e comida nas fileiras do Exército. Não é preciso muita imaginação para perceber que esses recrutas saídos direto das senzalas para o campo de batalha acabavam tendo um desempenho medíocre no front, e muitos, por temerem a reescravização, desertavam na primeira oportunidade, como ocorreu durante a Retirada da Laguna, célebre batalha de 1867, quando registrou a morte de 30 soldados e cerca de 200 praças desaparecidos. A falta de organização também se refletiu no abastecimento: os soldados acabavam tendo de se alimentar quase que exclusivamente de frutas silvestres, colhidas nos campos paraguaios. Mal alimentados, com vestimentas não preparadas para o clima local, os soldados adoeciam facilmente de beribéri, varíola, malária e pneumonia.
Em relação ao Brasil, esse conflito – que terminou em 1º de março de 1870, quando Solano Lopez foi cercado e morto por forças brasileiras em Cerro Corá – originou repercussões muito além dos campos de batalha, não só por resultar em onerosos empréstimos para financiá-lo, aumentado déficit do país e anulando os esforços desenvolvidos estabilizar o orçamento da nação, como por transformar o Exército em um importante agente político. Justificadamente Joaquim Nabuco ao referir-se a esse conflito o considerou como: “o apogeu e o declínio do Império.” Ao longo dos anos dessa guerra, consolidou-se entre os oficiais a opinião de que o principal inimigo do Exército eram os políticos do Império pelo abandono da instituição em favor da Guarda Nacional. 

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