Poesias
Mário Cabral nasceu na cidade de
Aracaju, Sergipe, em 26 de março de 1914. Estudou no Ateneu Pedro II. A seguir
fez o curso superior. Bacharel em direito, pela Faculdade de Direito da Bahia.
Foi Promotor Público.
Voltando à cidade natal, advogou e
lecionou. Foi Professor da Faculdade de Direito e de Filosofia. Dirigiu o
Sergipe jornal. Fundou e dirigiu a Revista de Aracaju. Foi Prefeito da Capital.
Pertenceu à Academia Sergipana de Letras. Escreveu na época, para todos os
jornais da cidade. Conquistou o Primeiro Prêmio no Concurso Nacional de Contos
Moura Brasil, com o trabalho intitulado Superstição. No ano de 1955, veio viver
na cidade do Salvador. Dirigiu o Diário da Bahia, Escreveu para o Diário de
Notícias, Estado da Bahia e Jornal da Bahia. Foi publicado pelos maiores
jornais do país, como, também do exterior, Chile, Peru, Argentina França,
Alemanha e USA (Journal of Latin American Lore). Foi o primeiro diretor do
Teatro Castro Alves (Salvador). Fez parte do Instituto Geográfico e Histórico
da Bahia e da Associação Brasileira dos Escritores.
É vasto o conjunto de suas obras, que
tem sido elogiado pelos maiores valores da literatura brasileira, a exemplo de:
Jorge Amado, Amando Fontes, Érico
Veríssimo, Álvaro Lins do Rego Carlos Ciacchio, Luís da Câmara Cascudo.
Fez viagens de estudos a Roma,
Veneza, Sorrento, Madrid, Paris, Lisboa.
Publicou Cidade Morta, poesia;
Caderno de Crítica, crítica literária; Crítica e Folclore, folclore; Roteiro de
Aracaju, história; Confissão, ensaio; Caminho da Solidão, romance; Juízo Final,
poesia; Espelho do Tempo, memórias, Aracaju Bye Bye, contos; Jornal da Noite,
crítica; Seleções versos.
Dele disse José Lins do Rego: “A
tradição de crítica vigorosa de Sergipe, a Tradição de Tobias, Silvio, João
Ribeiro, não se perderá com vocações como a de Mário Cabral.”
Assinou Jorge Amado: “Poeta e
romancista, eis aí um homem de tetras que honra Bahia e Sergipe, prosador de
frase correta e densa, posta a serviço de um nobre humanismo.”
Concluiu Pedro Calmon: Mário Cabral,
o múltiplo, personifica e exprime o escritor numeroso, genuíno, que explora
quase todos os gêneros: o jornalismo, a crônica, o conto, o romance, o ensaio,
a poesia, a crítica, a história, a memória, o folclore. Mestre de várias
gerações. “Mário Cabral é aquele que melhor se aproxima da excelência.”
MISTÉRIO (Soneto)
Passo a vida a buscar o mistério da
vida,
como um cego, que em vão, buscasse a
luz do sol.
E ante cada pesquisa uma nova ferida
E nova solidão sem laivo de arrebol.
É o princípio do fim. A vaidade
homicida
tinge a terra, de sangue, em seu
rubro lençol.
E a humanidade, assim, de descida em
descida,
é qual se fora nau à mingua de um
farol.
No amor, ambição. No culto e na
colheita,
essa luta, sem par, que no orbe se
espalha,
essa angústia, sem fim, de glória
insatisfeita.
E a existência a rolar. A rolar nesse
horror.
E essa queda, em roldão, quando tudo
nos falha,
para o tédio, a amargura, o
desespero, a dor.
VOCÊ (Soneto)
Falam tanto de nós, minha querida,
em vão procuro descobrir porquê.
Mas o fato é que todos nesta vida
falam muito de mim e de você.
Você, por ser tão boa, não prevê
Que a gentileza, às vezes, vem urdida
de atroz perfídia e de veneno. E que
toda essa gente é falsa e fementida.
Falam muito de nós. E, todavia,
você traz, sem faltar, no lábio
ardente,
o seu beijo de amor para o meu dia.
Falam muito de nós. Mas ninguém vê,
que mais a quero e amo, justamente,
quanto mais fala o povo de você.
AMOR IMPOSSÍVEL (Soneto)
Um amor proibido. Velho tema.
Não se usa mais, dirão. É coisa
antiga.
O nosso amor, porém, vale um poema
e eu creio, com razão ele prossiga.
Por ser de luz e sombra, minha amiga,
mais seduz, esse amor, por ser dilema.
Proíbem-nos de amar! E assim mendiga,
há de findar, minha alma, em dor
suprema.
Ontem eu parti sem ti falar de amor.
Senti-me, em tal instante, emudecer,
ante a beleza do teu corpo em flor.
Enfim não penses mal, pobre querida!
Quem ama nunca sabe o que dizer,
no momento, cruel, da despedida...
OLHOS (Soneto)
Tens a mágoa ancestral de gerações
perdidas,
vagando, à intensa luz, dos lindos
olhos vagos.
Olhos cheios de dor que turbilhões de
vidas
evocam na beleza astral dos seus
afagos.
Quais sombras de arvoredo, ao luar
adormidas
descansam, os olhos teus –
profundíssimos lagos –
ao violáceo palor das olheiras
doloridas,
que atraem, o meu olhar, com o
fascínio dos magos.
Olhos vindos de aquém, das mais
remotas ânsias!
Olhos que já viveram em jardins de
Stambul!
Olhos que têm sabor de angústia e
distâncias!
Nunca os ei de esquecer! Por mil anos
que viva!
E serei, qual o mar, fitando o céu
azul,
nesse terno almejar de glória
fugitiva...
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