sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

MÁRIO CABRAL

Poesias

Era um senhor artífice das rimas ricas: ei-lo em frente e versos

Mário Cabral nasceu na cidade de Aracaju, Sergipe, em 26 de março de 1914. Estudou no Ateneu Pedro II. A seguir fez o curso superior. Bacharel em direito, pela Faculdade de Direito da Bahia. Foi Promotor Público.
Voltando à cidade natal, advogou e lecionou. Foi Professor da Faculdade de Direito e de Filosofia. Dirigiu o Sergipe jornal. Fundou e dirigiu a Revista de Aracaju. Foi Prefeito da Capital. Pertenceu à Academia Sergipana de Letras. Escreveu na época, para todos os jornais da cidade. Conquistou o Primeiro Prêmio no Concurso Nacional de Contos Moura Brasil, com o trabalho intitulado Superstição. No ano de 1955, veio viver na cidade do Salvador. Dirigiu o Diário da Bahia, Escreveu para o Diário de Notícias, Estado da Bahia e Jornal da Bahia. Foi publicado pelos maiores jornais do país, como, também do exterior, Chile, Peru, Argentina França, Alemanha e USA (Journal of Latin American Lore). Foi o primeiro diretor do Teatro Castro Alves (Salvador). Fez parte do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Associação Brasileira dos Escritores.
É vasto o conjunto de suas obras, que tem sido elogiado pelos maiores valores da literatura brasileira, a exemplo de:  Jorge Amado, Amando Fontes, Érico Veríssimo, Álvaro Lins do Rego Carlos Ciacchio, Luís da Câmara Cascudo.
Fez viagens de estudos a Roma, Veneza, Sorrento, Madrid, Paris, Lisboa.
Publicou Cidade Morta, poesia; Caderno de Crítica, crítica literária; Crítica e Folclore, folclore; Roteiro de Aracaju, história; Confissão, ensaio; Caminho da Solidão, romance; Juízo Final, poesia; Espelho do Tempo, memórias, Aracaju Bye Bye, contos; Jornal da Noite, crítica; Seleções versos.
Dele disse José Lins do Rego: “A tradição de crítica vigorosa de Sergipe, a Tradição de Tobias, Silvio, João Ribeiro, não se perderá com vocações como a de Mário Cabral.”
Assinou Jorge Amado: “Poeta e romancista, eis aí um homem de tetras que honra Bahia e Sergipe, prosador de frase correta e densa, posta a serviço de um nobre humanismo.”
Concluiu Pedro Calmon: Mário Cabral, o múltiplo, personifica e exprime o escritor numeroso, genuíno, que explora quase todos os gêneros: o jornalismo, a crônica, o conto, o romance, o ensaio, a poesia, a crítica, a história, a memória, o folclore. Mestre de várias gerações. “Mário Cabral é aquele que melhor se aproxima da excelência.”
MISTÉRIO (Soneto)

Passo a vida a buscar o mistério da vida,
como um cego, que em vão, buscasse a luz do sol.
E ante cada pesquisa uma nova ferida
E nova solidão sem laivo de arrebol.

É o princípio do fim. A vaidade homicida
tinge a terra, de sangue, em seu rubro lençol.
E a humanidade, assim, de descida em descida,
é qual se fora nau à mingua de um farol.

No amor, ambição. No culto e na colheita,
essa luta, sem par, que no orbe se espalha,
essa angústia, sem fim, de glória insatisfeita.

E a existência a rolar. A rolar nesse horror.
E essa queda, em roldão, quando tudo nos falha,
para o tédio, a amargura, o desespero, a dor.

VOCÊ (Soneto)

Falam tanto de nós, minha querida,
em vão procuro descobrir porquê.
Mas o fato é que todos nesta vida
falam muito de mim e de você.

Você, por ser tão boa, não prevê
Que a gentileza, às vezes, vem urdida
de atroz perfídia e de veneno. E que
toda essa gente é falsa e fementida.

Falam muito de nós. E, todavia,
você traz, sem faltar, no lábio ardente,
o seu beijo de amor para o meu dia.

Falam muito de nós. Mas ninguém vê,
que mais a quero e amo, justamente,
quanto mais fala o povo de você.

AMOR IMPOSSÍVEL (Soneto)

Um amor proibido. Velho tema.
Não se usa mais, dirão. É coisa antiga.
O nosso amor, porém, vale um poema
e eu creio, com razão ele prossiga.

Por ser de luz e sombra, minha amiga,
mais seduz, esse amor, por ser dilema.
Proíbem-nos de amar! E assim mendiga,
há de findar, minha alma, em dor suprema.

Ontem eu parti sem ti falar de amor.
Senti-me, em tal instante, emudecer,
ante a beleza do teu corpo em flor.

Enfim não penses mal, pobre querida!
Quem ama nunca sabe o que dizer,
no momento, cruel, da despedida...

OLHOS (Soneto)

Tens a mágoa ancestral de gerações perdidas,
vagando, à intensa luz, dos lindos olhos vagos.
Olhos cheios de dor que turbilhões de vidas
evocam na beleza astral dos seus afagos.

Quais sombras de arvoredo, ao luar adormidas
descansam, os olhos teus – profundíssimos lagos –
ao violáceo palor das olheiras doloridas,
que atraem, o meu olhar, com o fascínio dos magos.

Olhos vindos de aquém, das mais remotas ânsias!
Olhos que já viveram em jardins de Stambul!
Olhos que têm sabor de angústia e distâncias!

Nunca os ei de esquecer! Por mil anos que viva!
E serei, qual o mar, fitando o céu azul,
nesse terno almejar de glória fugitiva...

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