Mulheres que fizeram o mundo
O Livro de Ester é
um dos livros históricos do antigo testamento da Bíblia, vem depois do Livro de Neemias e
antes do Primeiro
Livro dos Macabeus nas Bíblias católicas ou antes do Livro de Jó, nas
Bíblias protestantes. Possui 10 capítulos (ou 16 na Vulgata que
reuniu as adições ao texto em hebraico encontrados
na Septuaginta em
seis capítulos ao final).
Conta como Ester,
uma jovem judia que estava entre os deportados, tornou-se imperatriz da Pérsia, ao se casar com o imperador Assuero
(geralmente identificado com Xerxes I), e como
seu primo e tutor Mordecai (Mordoqueu)
descobriu um complô contra a vida do rei; como o grão-vizir Haman (Amã)
procurou liquidar os judeus; como Ester interveio, arriscando a própria vida;
como Haman foi enforcado e os judeus autorizados a fazer um contra pogrom, cujo
aniversário celebram com a festa dos Purim.
O título deriva do nome de seu principal personagem. Os judeus o chamam de Meghil-láth És-tér,
ou simplesmente de o Meghil-láh, que significa "rolo",
"rolo escrito", porque constitui para eles um rolo muito estimado.
Uma forte evidência da autenticidade do livro é a festividade de Purim ou de Sortes, comemorada pelos judeus até
hoje. Nessa ocasião, o livro inteiro é lido nas sinagogas.
Diz-se que uma inscrição cuneiforme, evidentemente de Borsipa, menciona
um oficial persa de nome Mardukâ (Mordecai?), que
estava em Susa (Susã)
no fim do reinado de Dario I ou no
começo do reinado de Xerxes I.
O Livro de Ester está
de pleno acordo com o restante das Escrituras e complementa os relatos de Esdras e
de Neemias, contando o que aconteceu com o exilado povo
de Deus na Pérsia.
O autor do Livro de Ester é desconhecido. Pelas
pistas deixadas no livro, podemos deduzir que se trata de um judeu persa,
possivelmente residente na cidade de Susa. Também se lê neste livro o seu nacionalismo
intenso e preocupação com a festa do Purim, acredita-se que seja Mordecai.
Mordecai,
testemunha ocular e um dos principais personagens do relato, foi, mui
provavelmente, o escritor do livro; o relato íntimo e pormenorizado indica que
o escritor deve ter vivenciado esses eventos no palácio de Susa. Embora não
seja mencionado em nenhum outro livro da Bíblia, não há dúvida de que Mordecai
foi personagem real da história.
Os estudiosos
situam a composição deste livro algures entre os séculos IV e I a.C.. A maioria
dos teólogos prefere uma data no final do século V ou no século IV devido a
determinadas características da linguagem utilizada e à atitude favorável em
relação ao rei persa, as adições em grego (consideradas deuterocanônicas) surgiram
em meados do séc. II AC.
Por outro lado,
a Tradução Ecumênica da Bíblia sustenta que
a versão em hebraico foi escrita no final do Séc. II AC, por um autor que vivia
na Mesopotâmia, e que
haveria adições já no texto em hebraico (Est 9:20-Est 10:3) .
O objetivo central
do Livro de Ester é justificar a observância da festa do Purim. Isto era
muito importante já que se trata de uma festividade que não fazia parte das
ordenanças mosaicas (do Pentateuco, livros
de Moisés). Conta a
história de como, pela Providência, o povo foi salvo dos intentos destrutivos
dos seus inimigos.
O Purim é uma
festa anual judaica e o seu nome deriva de Pur. A festa enquadra-se
dentro do conjunto de práticas judaicas de jejum e lamentação. É celebrada nos
14º e 15º dias do mês de Adar (geralmente
em março).
A Edição Pastoral da Bíblia sustenta que
não se trata de uma narrativa histórica propriamente dita, sendo uma espécie de
conto que analisa a situação da comunidade judaica espalhada entre as nações
estrangeiras.
A Tradução Ecumênica da Bíblia sustenta que
a rainha da época se chamava Amastris e que nunca houve o anti-pogrom narrado
no livro.
A Bíblia de Jerusalém sustenta o decreto de extermínio dos judeus
não seria compatível com a política tolerante do Império Aquemênida (Persa), e que seria ainda menos verossímil a
autorização para o massacre de seus próprios súditos e que setenta e cinco mil
persas tenham se deixado matar sem resistência, além disso, se Mardoqueu fora deportado no tempo de Nabucodonosor (Est 2,6), teriam
mais o menos 150 anos no reinado de Assuero (transcrição hebraica de Xerxes I), e também
que Xerxes seria casado com Amastris. O livro reflete um contexto histórico em que era
necessário criar condições de sobrevivência e espaços no sistema vigente, já
que as circunstâncias históricas não permitiam transformações mais profundas.
Neste livro, não se pensa em tomar, mas apenas influenciar o poder,
desmascarando o abuso dos privilegiados, reformulando em favor do povo a legislação,
e valorizando as celebrações populares.
Ester nos ajuda a
pensar numa política que une transformações locais e nacionalistas a uma
política global e mundial, na qual a luta pela justiça ganhe espaços e os
oprimidos da terra recuperem a esperança de viver. É assim que se torna
possível, pouco a pouco, uma sociedade alternativa, na qual reinem a justiça, a
liberdade e a partilha.
Como dito, o livro
tem duas versões: Uma menor (com 167 versículos), usada nas bíblias hebraicas e
outra, bem mais extensa (com 260 versículos), que era usada
pelos judeus gregos
(Septuaginta).
As Adições em Ester buscam dar maior religiosidade ao escrito,
que encontrava dificuldades de canonização, esta versão maior contém orações
de Mordecai e Ester, além de um sonho de Mordecai, onde previa tudo o
que iria acontecer, e mais os decretos lançados pelo rei Assuero (tanto
o da morte dos judeus quanto o da morte dos que intentavam contra estes).
Contém também os detalhes do encontro de Ester com Assuero, no capítulo 5 e um epílogo,
relacionando o sonho de Mardoqueu a
tudo o que tinha acontecido.
A versão menor é usada hoje em dia pelos judeus, pelos protestantes e
pelas denominações cristãs de cunho pentecostal. A versão maior é usada
pelos católicos e ortodoxos.
Naquela
época, Hamã,
funcionário da corte, vira um homem de confiança de Assuero. Entretanto, ao
recusar-se a prestar-lhe as honras que o rei havia decretado que lhe
pertenciam, Mordecai ganha o ódio de Hamã que, daí em diante, decide destruir
Mordecai e todo o seu povo. É neste contexto que Hamã consulta o Pur para
decidir qual seria a melhor data para o extermínio dos judeus. Logo
depois, Hamã vai até a presença do rei para convencê-lo do massacre, usando o
falso argumento de que os judeus eram um grande povo que não respeitava os
decretos do rei. O rei, então, é enganado, e lança o decreto (cujo texto só é
encontrado na versão grega) para o extermínio dos judeus, que cairia no dia 13
de Adar, o
duodécimo e último mês do calendário hebraico. É a partir daqui que se cria uma
grande tensão.
Ester e Mordecai então começam a ficar
desesperados, e fazem duas belíssimas orações a Deus, implorando pela vida do
povo santo exilado (estas orações só se encontram na versão grega). Então, a
rainha Ester, atendendo ao pedido de Mordecai, inicia a sua intervenção junto
do rei onde pede pela sua vida e pela do seu povo, denunciando Hamã como o
terrível inimigo. Num ato de desespero e durante a breve ausência de Assuero
que se retirara por instantes, Hamã pede perdão a Ester e cai sobre ela no divã
onde se esta se encontrava. Assuero, que entra nesse momento, imaginando que se
tratava de uma tentativa de assédio, manda enforcar Hamã na forca que este preparara
para Mordecai.
Um dado importante:
as leis decretadas e seladas com o selo do rei não podiam ser revogadas. Por
isso, Assuero dá a Mordecai e Ester liberdade para decretarem e selarem com o seu
selo e em seu nome, uma lei que se possa opor à primeira. Assim, é editada uma
lei que indicava que todos os judeus do império deviam-se juntar no dia 13 de
Adar (o mesmo dia em que estava decretado o extermínio dos judeus), e assim
matar todos os que intentassem contra as suas vidas e as suas posses. A pedido
de Ester, foi concedido mais um dia para que os judeus
perseguissem e matassem os seus inimigos. Assim, nos dias 13 e 14 do mês
de Adar, foram
mortos, só em Susa, 800 homens
e enforcados os dez filhos de Hamã. Nas províncias restantes, o número de
mortos chegou aos 75.000. No dia seguinte, este acontecimento foi celebrado com
banquetes.
A inclusão de Ester
no Cânon bíblico é polêmica, dividindo muitos teólogos, tanto cristãos como judeus, devido a
estar ausente de algumas das mais antigas listas dos livros canônicos, por
nunca ser mencionado nos livros do Novo Testamento, por não
possuir referências claras a Deus e as
práticas religiosas, pelo seu excessivo nacionalismo judaico e espírito de
vingança.
Nem Esdras, nem Neemias nem
o Sirácida mencionam
esta história , em Qumran (Manuscritos do Mar Morto) não foram
encontrados fragmentos deste livro, enquanto que foram encontrados manuscritos
de todos os demais livros da Septuaginta, inclusive
de todos os deuterocanônicos.
A favor de
sua canonicidade, verifica-se que II Macabeus 15,36 se
refere ao Dia de Mardoqueu5 e
existem os argumentos de que Ester dá testemunho da invisível
Providência em favor do Seu povo, assim como da situação particular vivida no
contexto do livro (os judeus encontravam-se
sob uma ameaça de extermínio e, de acordo com o relato, muitos inimigos estavam
preparados para os matar e saquear).
Uma versão mais
extensa deste livro foi descoberta e adotada pelos judeus gregos, que a
incluíram em sua Septuaginta. Passagens como uma profecia de Mordecai e
orações, tanto de Mordecai como de Ester pelo livramento do povo amenizaram a polêmica
em cima do livro. Esta versão também é usada atualmente na Igreja Católica. Entretanto, com a Reforma Protestante, as
denominações cristãs que surgiram dessa divisão escolheram a versão primitiva
para integrar as suas Bíblias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário