sexta-feira, 6 de março de 2015

AMÉRICO FACÓ, TIO DE RUI FACÓ

 
Pouco conhecido em sua terra natal, o Ceará, foi, sem dúvida, uma das suas maiores expressões literária e poeta de renome nacional.

 Américo de Queirós Facó (Beberibe, 21 de outubro de 1885  Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 1953) foi um poeta e jornalista cearense, viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Publicou poemas em vários periódicos de seu tempo, como o Jornal do Ceará e o Álbum Imperial, de São Paulo.


Era filho de Gustavo Francisco de Queirós Facó, primeiro subdelegado de Beberibe, e de Maria Francisca de Queirós Facó. Foi batizado na matriz de Beberibe pelo pároco, o padre Francisco Ribeiro Bessa, em 1 de janeiro de 1886.
Considerado pela crítica literária como surrealista, seus primeiros versos (em torno de 60 poemas) foram publicados no periódico Jornal do Ceará, de Fortaleza, entre 1907 e 1908. Lá publicou também artigos políticos de oposição ao governo de Nogueira Acioly ("um dos mais poderosos oligarcas do Norte", segundo Edigar de Alencar). Por causa desses artigos, em "21 de dezembro de 1908, dois ou três soldados da polícia à paisana deram violenta surra no poeta nas imediações da Praça Marquês do Herval", segundo afirma Gustavo Barroso, que diz ainda que "salvou-lhe talvez a vida a intervenção do Capitão do Exército Castelo Branco, morador na casa da esquina, atraído pelos seus gritos".



Em 1910, mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1911, já fazia parte dos círculos literários mais importantes do país. Sua obra, porém, só seria publicada em livro em 1946, com Sinfonia Negra. Em 1951, publicou Poesia Perdida, renegando tudo o que produzira no Ceará. Seus poemas revelam o cultivo da forma e das rimas raras, talvez reflexo da leitura dos clássicos portugueses.
Foi diretor da parte literária da revista Fon-Fon. Trabalhou no Instituto Nacional do Livro e no Senado Federal.
Foi grande amigo de Carlos Drummond de Andrade, que dedicou a Américo Facó o livro Claro Enigma. Em O Observador no Escritório, Drummond escreveu: "Na casa da rua Rumânia, durante três noites, confiei-lhe os originais do meu livro Claro Enigma e ouvi suas opiniões de exímio versificador. Eu convalescia de uma amarga experiência política [...]. Paciente e generoso, Facó passou um mínimo de nove horas, contando as três noites seguidas, a aturar minhas dúvidas e indecisões. Se não aceitei integralmente suas observações, a verdade é que as três vigílias me deram ânimo a prosseguir [...]. E me fizeram sentir a nobreza do seu espírito de autêntico homem de letras, mais preocupado com a linguagem e seus recursos estéticos do que com a fácil vida literária das modas e dos bares."
Segundo Vagner Camilo, no livro Drummond: da rosa do povo à rosa das trevas, "a interlocução Facó-Drummond merece e deve ser considerada marcante na composição do livro de 1951" (ou seja, Claro Enigma).
Dele diz Gilberto Araújo, em apreciado artigo: “Recorrente na obra de Américo Facó, o desejo de harmonia e de unidade em todas as instâncias da vida — da social à cósmica —, consuma-se no último poema de Sinfonia negra, Mestiça, cuja polimetria faz paralelo com a mestiçagem, “purpúrea síntese promessa de unidade”.
Tal anseio implica a reconexão do homem com suas matrizes desconhecidas e abissais, tema em primeiro plano no livro de 1951, Poesia perdida, que, não por acaso, procura a Poesia que se perdeu ou que nunca se achou. Nele, abundam imagens soturnas e caóticas. O assunto é nebuloso e diluído, justo numa época em que o crescente apelo a imagens concretas (João Cabral) ou a referências a temas universas e a figuras mitológicas (Geração de 45) aspiravam ao máximo de clareza. A aurora do livro é crepuscular: no primeiro poema, Noturno, uma floresta preserva o segredo de nossa origem (“imensa noite sem memória”), que só nos é imperfeitamente revelada pelo sonho: “Sonho!… E sonho, por ele a nua/ Negra floresta reverdece;/ Por ele, outra vez, no ar flutua/ A Presença, que não esquece.” Presentificar a ausência não significa apagá-la (cf.Presença); os sonhos tentam supri-la com imagens e nisso assemelham-se à poesia:

Imagem nunca mais perdida
Surta na sombra, que demora!
Noturno ardor, boca de aurora
Que oferta a fruta apetecida!
Forma de si mesma despida,
Imagem sempre a mesma — embora
Paire suspensa além da vida,
Penso que a vejo viva agora,
Não porque a veja revivida,
Só por sonhá-la a igual de outrora
.”
  


A convite de Américo Facó, Drummond trabalhou na frustrada remodelação do Departamento Nacional de Informações, antigo DIP.

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