TEATRO BURLESCO
A apresentação burlesca ou a arte do burlesco se refere a um tipo de apresentação teatral que consiste em uma paródia ou sátira (que muitas vezes implica uma apresentação de striptease e às vezes lembra a chanchada). Alguns
autores definem o teatro burlesco como descendente direto da Commedia dell'arte,
"farsa" ou "burla" para uma paródia ou comédia de costumes
aparece aproximadamente ao mesmo tempo em que surge a primeira aparição da
Commedia dell'arte. Burlesco faz parte da categoria estética grotesca, sendo
uma representação teatral ou dança. Representação de caráter exagerado,
parodiando temas dramáticos com alto teor farsesco, esta forma cômica trata de
personagens extravagantes e bufonas. Autores que discorrem sobre o grotesco,
citam o burlesco como variante ligada a encenação. Procurar Mickhail Bakhtin,
Wolfang Kayser, Muniz Sodré, Raquel Paiva, Patrice Pavis.
O Burlesco é uma arte
performativa que remonta a 1600 e que pode misturar vários tipos de disciplinas
(teatro, circo, ballet, pantomina, entre
outros) . É um descendente da Commedia dell'arte, tendo por isso uma grande
componente de comicidade. O renascimento do Burlesco na década de 80, com
performers como a Dita Von Teese a trazerem o Burlesco para um circuito mais
mainstream (o que não tinha acontecido até então), adicionam ainda mais
variedade à disciplina, gerando um movimento - Neo Burlesque, com números muito
mais risqué, como os da performer Empress Stah. Passamos agora por um momento
único na história do Burlesco, com o nascimento do Boylesque - performers
masculinos de Burlesco.
Ao contrário do que se pode
pensar, o Burlesco não se trata de um grupo de strippers que se apresentam num
palco, muito pelo contrário.
O Burlesco é um direto
descendente da chamada Commedia dell'arte, uma forma de teatro de improviso que
se realizava em Itália, muito popular entre os séculos XV e XVII. Eram pequenas
companhias compostas no máximo por 10 elementos que viviam das contribuições
populares aquando das suas performances ao ar livre. Versavam temas
convencionais da época como o ciúme, o adultério, os afetos e mesmo alguns
peças de comédias romanas e gregas perdidas no tempo. Muitas dessas peças
romanas e gregas tinham personagens que satirizavam escândalos locais, eventos
da altura, gostos regionais, piadas variadas de caríz cultural, etc. Ainda hoje
conseguimos identificar muitas dessas personagens que se foram afirmando na
Commedia dell'arte, como o Arlequim, a Colombina, o
Brighella, entre outros.
(...)Sendo Commedia dell'arte uma
das fontes principais de muitas das artes performativas modernas (ballet, marionetas, stand-up comedy, sátira,
pantomina, striptease, dança erótica, entre muitas outras) naturalmente ela
acabou por ter expressão num país recente como os Estados Unidos da América.
O
Burlesco surge assim no século XIX nos chamados Music Hall dos EUA e do
Canadá, sendo estes espaços um conceito
inglês, onde em resultado da urbanização e da industrialização, se criou uma
espécie de teatro britânico de entretenimento popular composto essencialmente
por música, comédia e performances especiais (muitas vindas do circo, como
trapesistas, ventríloquos, comedores de fogo, marionetistas, entre muitos
outros). Esses espaços surgiam como
contraposição à ‘ordem dos teatros tradicionais, sendo que nos ‘Music Hall
se podia consumir álcool, estar em pé, sentarem-se em mesas, muito mais próximo
da cultura popular da época e consequentemente menos elitista.
Estes espaços foram muito
populares entre 1850 e 1960 em Inglaterra, E.U.A. e Canadá. Após a IIª Guerra
Mundial entram em declínio com a afirmação da televisão nas práticas culturais
e com uma nova linguagem musical radicalmente diferente que surgia e encontra
outros espaços para se afirmar: o rock’n’roll. No
entanto, deixou um legado muito relevante na produção artística, desde a música
ao teatro, sendo que o seu apogeu é considerado no período entre as duas Grandes
Guerras.
Ao Burlesco (que era
essencialmente composto pela sátira, performances e espetáculo de adultos), nos
E.U.A. e Canadá, junta-se uma linguagem especifica, mas mais alargada, o Vaudeville (termo que foi adulterado do francês, “voix
de ville”, a voz da cidade), que era uma forma de arte que se
afirmou essencialmente desde o inicio de 1800 até 1930 e foi buscar as suas
origens aos espetáculos que se realizavam nos saloons, freak shows e nos
chamados Dime Museums (instituições criadas para o entretenimento e educação
moral das classes pobres norte-americanas), bem como à literatura burlesca. O Vaudeville foi um das formas de arte mais
populares nos E.U.A. nos fins do século XIX. Todos os dias nos já referidos
Music Hall eram apresentados uma série de performances sem qualquer relação
entre eles, desde músicos (clássicos e populares), dançarinas, comediantes,
animais amestrados, mágicos, imitadores, acrobatas, pequenas peças de teatro e
inclusive a dada altura, pequenos filmes.
O
Burlesco trata-se assim de uma rica forma de arte musical e cómica nos Estados
Unidos da América que remonta aos anos de 1830/40 e que se foi redefinindo ao
longo de décadas até essencialmente 1960. No seu inicio, no século XIX, o
Burlesco teve um papel fundamental na mudança de costumes, principalmente na
visão sexual da mulher. Pela primeira vez a mulher norte-americana
podia mostrar o seu corpo, fato esse que iria marcar decisivamente toda a
cultura popular associada ao género feminino, e posteriormente desenvolvida
pelas chamadas Indústrias Culturais. Expressava
igualmente o confronto entre a cultura aristocrata da época Vitoriana e a nova
cultura operária que surgia em massa.
Assim, no
século XIX o termo burlesco era ainda usado para um conjunto de espetáculos
cómicos, que pretendia satirizar o modo de vida das elites socioeconômicas dos
E.U.A. e da Inglaterra. O
seu sucesso junto das classes mais desfavorecidas e da classe média em muito
deve a essa linguagem de crítica social em forma de comédia. A história
mostra claramente isso quando olhamos para os enormes sucessos no século XIX
das peças de burlesco produzidas e protagonizadas por atores da época como
William Mitchell, John Brougham e Laura Keene. O declínio do Vaudeville e do Burlesco inicia-se com a afirmação do
cinema no inicio do século XX e com a utilização daqueles espaços populares
usualmente utilizados por esses espetáculos, para a apresentação de películas
cinematográficas. A competição com os preços baixos do cinema e o cariz
claramente popular do mesmo deixavam pouca margem de manobra para uma expressão
artística que se tinha afirmado no século anterior. A redução dos grandes
circuitos que tinham sido construídos no século XIX para a apresentação destas
novas expressões de arte popular contribuíram para uma lenta decadência dessas
mesmas expressões artísticas. O seu fim acelerou-se
no período pós IIª Guerra Mundial, com o surgimento da televisão,
redefinindo por completo as práticas culturais dos ingleses, norte-americanos e
canadianos.
O
Vaudeville e o Burlesco acabaram por fazer a sua migração para outras
plataformas de exposição pública, como a rádio e a televisão, sendo que muitos
dos programas da televisão devem a este conceito o seu sucesso, como
foi o caso nos E.U.A. do The Ed Sullivan Show. Hoje se assiste a um revivalismo do
Burlesco e do Vaudeville, que se iniciou nos anos 90 com alguns grupos
interessados em renovar e revitalizar esta expressão de arte, essencialmente em
Nova York e em Los Angels. Essas iniciativas nos anos 90 de revivalismo
permitiram inspirar toda uma nova geração de performers nos E.U.A. e no Canadá,
constituindo-se hoje como uma verdadeira expressão de cultural popular, à
semelhança da sua origem. Hoje o novo
Burlesco é composto por muitas artes perfomantivas, interdisciplinares,
incluindo desde o striptease (de uma forma muito mais sensual e menos sexual
que no seu inicio), adereços vistosos, humor negro, cabaré, magia, entre muitas
outras expressões de arte performativa.
Nova York, Los
Angels e São Francisco são hoje das cidades que mais contribuição estão a dar
ao revivalismo deste conceito, sendo a primeira cidade aquela que mais contribuí para isso, com a sua vida noturna e os seus
equipamentos de entretenimento culturais.É neste contexto que surgem novas propostas
artísticas, espetáculos e festivais de Burlesco, como o Tease-O-Rama, New York
Burlesque Festival, The Great Boston Burlesque Exposition, Lucent Dossier
Vaudeville Cirque, Yard Dogs Road Show, Miss Exotic World Pageant, etc.
Inclusive, esta centenária linguagem artística que hoje se renova, encontra
expressão mundial plataformas, como a utilização
de todo o conceito do Burlesco no
teledisco da banda norte-americana Panic! at The Disco, onde participaram os
Lucent Dossier Vaudeville Cirque."
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