sexta-feira, 27 de março de 2015

COMO DERRUBAR UM CASTELO

Por
Adilson Fonsêca

Nos meus idos de infância e adolescência, entre as décadas de 60 e 70,  morando na localidade de Itacaranha, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, a marca Petrobras não era  assim tão conhecida.  Ainda não havia os postos BR, com suas bandeiras verdes e amarelas, e  a marca da  estatal se diluía ante as multinacionais Atlantic, Texaco, Shell,  Esso - esta até patrocinadora do maior telejornal da época, o “Repórter Esso”- .  Mas nos orgulhávamos de olhar para o outro lado da Baía de Todos os Santos em direção à Madre de Deus, e vislumbrar as chamas das torres das chaminés da Refinaria Landulpho Alves, em Mataripe.

E nos orgulhávamos também de saber que ali perto de onde morávamos, escondido no matagal às margens da ferrovia, no bairro de Lobato, estava o monumento que marcava a descoberta do petróleo na Bahia, e no Brasil, em 1938, no então governo do presidente Getúlio Vargas.  Podíamos estufar o peito e encher os pulmões de ar para repetir o slogan que mais tarde deu origem à Petrobras, em 1953 (lei nº 2004 de 3 de outubro de 1953): “O petróleo é nosso!”.
Decorridos 77 anos e 62 anos, respectivamente, da descoberta do petróleo em Lobato, e da criação da Petrobras, pela Lei sancionada por Getúlio Vargas, em outubro de 1953, todo esse ufanismo, esse orgulho dos baianos, e por extensão, dos brasileiros, parece ser perder no ralo das denúncias de corrupção envolvendo a estatal.

Obviamente que existem arroubos de defesa da empresa, como uma espécie de defesa da nossa soberania nacional. Mas entre essa necessidade quase que num átimo de desespero, de uma defesa dos interesses nacionais, não há como deixar de constatar o quanto tem sido prejudicial para a imagem do país, do governo, das empresas como um todo, e mesmo da nossa autoestima, a atual situação.
Não se trata apenas de quantificar em milhões, bilhões de reais, dólares e euros, o tamanho dos prejuízos. Tampouco esses danos se resumem às responsabilidades deste ou daquele governo, deste ou daquele (s) partido (s) político (s). Trata-se de algo mais. O desmoronamento de toda uma história genuinamente brasileira, do simbolismo político- governamental-empresarial-nacionalista, que agora tem sido motivo de chacota no exterior, e de um misto de vergonha, decepção, revolta e tristeza para os brasileiros.
Os números diários da Bolsa de Valores, mostrando a desvalorização das ações da Petrobras. Os números que a cada dia inflam, mostrando quantos milhões e bilhões de reais escoaram pelo ralo da corrupção, não dimensionam o tamanho dos estragos que se faz no inconsciente de todos os brasileiros.
Aquele castelo de imensas torres que lançavam fogo, como em um conto de fadas, que víamos do outro lado da Baía de Todos os Santos, e o monumento simbólico da descoberta do chamado “Ouro Negro” , no bairro do Lobato, se transformaram em um castelo de cartas. Que sob os ventos das denúncias de corrupção, vai se desmoronando no inconsciente de todos os brasileiros.
O “petróleo é nosso”, mas a Petrobras parece cada vez mais ser de alguns.

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