Por
Adilson
Fonsêca
Nos meus
idos de infância e adolescência, entre as décadas de 60 e 70, morando na
localidade de Itacaranha, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, a marca
Petrobras não era assim tão conhecida. Ainda não havia os postos
BR, com suas bandeiras verdes e amarelas, e a marca da estatal se
diluía ante as multinacionais Atlantic, Texaco, Shell, Esso - esta até
patrocinadora do maior telejornal da época, o “Repórter Esso”- . Mas nos orgulhávamos
de olhar para o outro lado da Baía de Todos os Santos em direção à Madre de
Deus, e vislumbrar as chamas das torres das chaminés da Refinaria Landulpho
Alves, em Mataripe.
E nos orgulhávamos também de saber que ali perto de onde morávamos,
escondido no matagal às margens da ferrovia, no bairro de Lobato, estava o
monumento que marcava a descoberta do petróleo na Bahia, e no Brasil, em 1938,
no então governo do presidente Getúlio Vargas. Podíamos estufar o peito e
encher os pulmões de ar para repetir o slogan que mais tarde deu origem à
Petrobras, em 1953 (lei nº 2004 de 3 de outubro de 1953): “O petróleo é
nosso!”.
Decorridos
77 anos e 62 anos, respectivamente, da descoberta do petróleo em Lobato, e da
criação da Petrobras, pela Lei sancionada por Getúlio Vargas, em outubro de
1953, todo esse ufanismo, esse orgulho dos baianos, e por extensão, dos
brasileiros, parece ser perder no ralo das denúncias de corrupção envolvendo a
estatal.
Obviamente
que existem arroubos de defesa da empresa, como uma espécie de defesa da nossa
soberania nacional. Mas entre essa necessidade quase que num átimo de
desespero, de uma defesa dos interesses nacionais, não há como deixar de
constatar o quanto tem sido prejudicial para a imagem do país, do governo, das
empresas como um todo, e mesmo da nossa autoestima, a atual situação.
Não se
trata apenas de quantificar em milhões, bilhões de reais, dólares e euros, o
tamanho dos prejuízos. Tampouco esses danos se resumem às responsabilidades
deste ou daquele governo, deste ou daquele (s) partido (s) político (s).
Trata-se de algo mais. O desmoronamento de toda uma história genuinamente
brasileira, do simbolismo político- governamental-empresarial-nacionalista, que
agora tem sido motivo de chacota no exterior, e de um misto de vergonha,
decepção, revolta e tristeza para os brasileiros.
Os números
diários da Bolsa de Valores, mostrando a desvalorização das ações da Petrobras.
Os números que a cada dia inflam, mostrando quantos milhões e bilhões de reais
escoaram pelo ralo da corrupção, não dimensionam o tamanho dos estragos que se
faz no inconsciente de todos os brasileiros.
Aquele
castelo de imensas torres que lançavam fogo, como em um conto de fadas, que
víamos do outro lado da Baía de Todos os Santos, e o monumento simbólico da
descoberta do chamado “Ouro Negro” , no bairro do Lobato, se transformaram em
um castelo de cartas. Que sob os ventos das denúncias de corrupção, vai se
desmoronando no inconsciente de todos os brasileiros.
O “petróleo
é nosso”, mas a Petrobras parece cada vez mais ser de alguns.
Nenhum comentário:
Postar um comentário