Colaboração: Por Fernando Alcoforado*
A vitória
do partido Syriza nas últimas eleições da Grécia sinaliza na direção de que é possível
reverter a situação vivida pelos povos do mundo inteiro de serem governados pelos
detentores do capital financeiro que vem impondo sua ditadura em escala mundial
a partir de 1990 quando foi implantado o modelo neoliberal na quase totalidade
dos países do mundo, inclusive no Brasil, pelo governo Fernando Collor e
mantido pelos governos Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma
Rousseff que aceitaram de forma pusilânime as imposições do capital financeiro
nacional e internacional e contribuíram para provocar uma verdadeira devastação
na economia brasileira de 1990 a 2014.
O modelo
econômico neoliberal em vigor no Brasil mostra claros sinais de esgotamento em
2015 agravado pelo ajuste econômico recessivo adotado pelo governo Dilma Rousseff
com a economia brasileira apresentando tendência à estagflação (recessão com inflação),
queda acentuada nas vendas de bens e serviços, aumento das taxas de inflação (8%
ao ano), aumento vertiginoso do desemprego que se alastra por toda a economia, carga
tributária extremamente elevada (40% do PIB), tarifaço de energia elétrica (aumento
de 28% em relação a 2014), aumento acentuado dos preços dos combustíveis (20%
só para gasolina), endividamento público crescente, precariedade da
infraestrutura de transporte e energia, falência dos serviços públicos de
educação e saúde, desindustrialização, gargalo logístico e queda vertiginosa na
balança comercial. Até o FMI projeta a estagnação do Brasil por 2 anos.
O modelo
neoliberal implantado no Brasil contribuiu para o incremento de suas vulnerabilidades
econômicas internas e externas. A vulnerabilidade interna da economia brasileira
provocada pelo modelo neoliberal reside no fato de não gerar poupança interna
suficiente para investir na expansão do PIB da qual resulta na dependência crescente
do Brasil de capitais externos que faz com que o governo brasileiro tenha de elevar
a taxa básica de juros da economia (Selic) para atrair capitais externos que,
por sua vez, contribui para elevar ainda mais a dívida pública interna que
alcançou R$ 2,12 trilhões em 2014 correspondendo a 56,8% do PIB. A continuada
elevação da dívida pública interna faz com que o governo brasileiro tenha de
destinar atualmente quase metade do orçamento da União para pagar o principal e
os juros a seus credores que faz com que o Estado brasileiro não disponha de
recursos para atender as necessidades mais elementares do País em educação,
saúde, habitação, infraestrutura de energia e transportes, entre outras.
A
vulnerabilidade externa da economia brasileira provocada pelo modelo neoliberal
está materializada no fato de que, em 2014, a dívida externa do Brasil cresceu
48% em relação a
2013 alcançando US$ 750 bilhões e superando os US$ 379 bilhões das reservas
do país. Isto significa dizer que nossas reservas não lhes ofereceriam
cobertura.
Cabe
observar que o Brasil saiu da sexta posição em 2013 para a terceira posição em 2014 na
lista dos países com o maior volume de dívida junto a credores estrangeiros, apontou
relatório divulgado pelo FMI, ficando atrás apenas da Espanha, segundo país mais
endividado, e dos Estados Unidos que lidera o ranking mundial (Ver o
artigo Dívida
externa do Brasil cresce 48% e vai a US$ 523,7 bilhões publicado
no website
<http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2014/08/16/internas_economia,442650/divida-externa-do-brasil-cresce-48-e-vai-a-us-523-7-bilhoes.shtml>).
Diante da
piora da situação atual da economia brasileira, o povo brasileiro precisa se mobilizar
para exigir dos atuais detentores do poder que busquem a imediata renegociação
com os credores da dívida interna pública do país visando a redução dos encargos
com seu pagamento para 1/3 ou ¼ do orçamento do governo federal. Esta ação deveria
ser acompanhada da realização de uma redução drástica do gasto público de custeio
reduzindo o número de ministérios de 39 para 15 ou 20 e a eliminação ou redução ao
mínimo necessário dos cargos comissionados que são cerca de 20 mil. Ao
invés de
praticar o arrocho fiscal, que onera as famílias e as empresas e compromete o
desenvolvimento
do País, o governo Dilma Rousseff deveria, portanto, reduzir os encargos
com o pagamento da dívida pública alongando-a no tempo e também os gastos públicos ao mínimo necessário a fim de que
disponha de poupança suficiente para investir na expansão da economia
brasileira evitando sua estagnação.
Ao anunciar
à nação o conjunto de medidas acima descrito, Dilma Rousseff deveria montar
também um gabinete de crise composto por pessoas da mais alta competência e do
mais alto gabarito e respeitabilidade ética e moral para obter o respeito da
nação para assegurar a governabilidade de seu governo e evitar o ocaso de seu
governo antes do final de seu mandato. A adoção destas medidas deveria ser
acompanhada de outras como, por exemplo, a substituição do modelo neoliberal em
vigor por outro de caráter nacional desenvolvimentista de abertura seletiva da
economia brasileira para promover o desenvolvimento do Brasil em novas bases e
evitar a estagnação econômica em curso.
Só com a
realização de mudanças efetivas na economia brasileira, Dilma Rousseff poderá
evitar a queda de seu governo antes de concluir seu mandato.
O modelo
nacional desenvolvimentista de abertura seletiva da economia brasileira contemplaria:
1) a substituição do câmbio flutuante em vigor pelo câmbio fixo para evitar a
elevação vertiginosa do dólar em curso; 2) o controle do fluxo de entrada e saída de
capital, sobretudo do especulativo; 3) a nacionalização dos bancos para
garantir a liquidez aos cidadãos e às empresas; 4) a importação seletiva de
matérias-primas e produtos essenciais do exterior para reduzir os dispêndios em
divisas do País; 5) a reintrodução da reserva de mercado em áreas consideradas
estratégicas para o
desenvolvimento
nacional; e, 6) a reestatização de empresas estatais privatizadas consideradas
estratégicas para o desenvolvimento nacional. Pelo exposto, percebe-se que o
projeto nacional desenvolvimentista permitiria fazer com que o Brasil assumisse os rumos
de seu destino, ao contrário do modelo neoliberal em vigor que faz com que o futuro
do País seja ditado pelas forças do mercado todas elas comprometidas com o capital
financeiro nacional e internacional.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação,
engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), entre outros.
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