quarta-feira, 25 de março de 2015

DE PEQUENA NOTÁVEL A ESTRELA INTERNACIONAL, A TRAJETÓRIA DE CARMEN MIRANDA

ENTRETENIMENTO


Publicado Giseli Rodrigues
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Nasceu em Portugal, foi criada na Lapa e conquistou fama internacional. Maria do Carmo, apelidada de Carmen Miranda, foi a primeira artista multimídia do Brasil. A maior estrela da música, do cinema, do teatro e dos cassinos brasileiros. A única latino-americana a gravar pés e mãos no cimento da calçada da fama de Los Angeles. A pequena notável faz parte da cultura brasileira e conquista corações até hoje.


Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu em 9 de fevereiro de 1909 em Portugal. Dez meses depois a família desembarca no Brasil e passa a morar na Lapa, Rio de Janeiro. Conhecido como um bairro boêmio, com noite efervescente, músicas de todos os estilos e pessoas de todos os tipos, Carmen Miranda, como foi apelidada pelo tio, construiu ali a sua personalidade artística. E marcou para sempre a história da música.

Desde pequena ela demonstrava talento para a música e a dança, mas provavelmente ninguém imaginava que aquela luso-brasileira que pisara em terras tropicais ainda bebê, que abandonou os estudos aos 16 anos e trabalhou como vendedora de loja se tornaria um verdadeiro fenômeno, fosse conhecida mundialmente, marcaria para sempre a história da música e fosse eternizada por meio de sua arte. Mas foi o que aconteceu.


Ela eternizou os mais importantes compositores de seu tempo, de Lamartine Babo a Ary Barroso, de Dorival Caymmi a Pixinguinha. Embora gostasse de tango, investiu na gravação de marchinhas de carnaval e sambas, que cantava de maneira singular, muitas vezes trocando a letra das músicas, acrescentando uma bossa própria, um jeito de sublinhar as palavras com seus muitos erres vibrantes. Afinal de contas, ela é cria da Lapa.
Para dar uma ideia da dimensão do sucesso da Carmen Miranda, a música “Para você gostar de mim”, de autoria de Joubert de Carvalho, bateu o recorde de 35 mil exemplares vendidos em um mês. “Você tem que me dar seu coração...”, diz o trecho desse estrondoso sucesso. Mas quem não o entregaria a uma artista carismática, que além de cantar dançava como poucos e se vestia de maneira única?


Até os americanos entregaram a ela seus corações, mesmo sem saber uma palavra da Língua Portuguesa, como escreveu Carmem Miranda ao seu amigo Almirante: "Aqui vai uma cartinha contando-te que a tua amiga, segundo jornais, é a grande sensação da Broadway. A minha estreia foi algo indescritível. Eles não entendem patavinas do que eu canto, mas dizem que sou a artista estrangeira mais sensacional que até hoje apareceu aqui.” E assim, ela passa a ser chamada de Brazilian Bombshell.
Carmen era Carmen. Simplesmente. Tinha um estilo próprio durante suas apresentações, fazia movimentos únicos com as mãos e quadris, revirava os olhos verdes e conseguia ser elegante, simples e sensual ao mesmo tempo. Estilizou a baiana com badulaques, cores vibrantes, brilhos e batom vermelho. Sempre sorridente, foi imitada, amada e parodiada em todos os cantos do mundo. Graças ao seu estilo único, foi a primeira cantora de rádio a assinar contrato, quando a praxe era o cachê por participação.


Sobre o seu estilo incomparável fez a seguinte afirmação: “nunca segui o que dizem que "está na moda". Acho que a mulher deve usar o que lhe cai bem. Por isso criei um estilo apropriado ao meu tipo e ao meu gênero artístico.”
Conhecida como sambista, Carmen Miranda gravou mais de vinte tangos, um dos seus estilos favoritos, além de foxtrote e marchas de carnaval. Excursionou por todo o Brasil e fez uma turnê internacional. Estrelou vários filmes, sete deles feitos no Brasil. O cinema americano atrelou sua imagem à caricatura da mulher latina, ciumenta, irritada, de sotaque carregado e exagerado, ainda que Carmen, na vida real, falasse inglês muito bem. Enquanto isso, o Brasil a acusou de ser instrumento da estratégia americana de boa vizinhança com os países latino-americanos antes da Segunda Guerra e também de servir ao populismo de Getúlio Vargas - foi e acentuar os estereótipos do Brasil, de rebuscar os gestos, de “americanizar-se”.
apresentações e alegria. Carmen Miranda, massificada pela agenda de shows, começou a tomar remédios para dormir, comer, acordar. O consumo de barbitúricos, permitido e incentivado em Hollywood naquela época, somado a dependência de álcool e cigarro, potencializou o efeito destrutivo dos remédios, fazendo com que ela ficasse muito doente e voltasse ao Brasil, por recomendação médica, depois de quatorze anos de ausência.


Ao retornar aos Estados Unidos, em abril de 1955, ela voltou ao trabalho para cumprir a agenda lotada de shows. Apresentou-se em cassinos por todo país, foi a programas de televisão e cantou em Havana, Cuba. Em 4 de agosto de 1955, enquanto se apresentava no Jimmy Durante Show, em um roteiro feito especialmente para ela “Carmen Miranda do Brasil”, desfaleceu no número de dança e foi amparada pelo apresentador. Essa foi sua última aparição ao público.
Em 5 de agosto, de madrugada, morre em Los Angeles, aos 46 anos, de enfarte. Para quem dizia que odiava hospitais e desejava morrer de maneira fulminante, parece que os céus ouviram e atenderam seus pedidos. Muito amada, Carmen foi velada por 60 mil pessoas, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, e sepultada no dia 13 de agosto, no Cemitério de São João Batista, onde mais de 500 mil pessoas acompanharam o cortejo e se despediram da estrela.
Como a verdadeira arte é atemporal, Carmen Miranda, a pequena notável, vive até hoje. Mesmo aqueles que não conhecem sua trajetória e dizem não conhecê-la, já cantaram, dançaram e se alegraram ao som de suas músicas, nem que tenha sido num baile de carnaval. A quantidade de fãs que conquistou mundo afora, ao longo de todos esses anos, mesmo depois de sua morte estão aí para provar que tudo que é bom dura para sempre.

“Taí, eu fiz tudo p'rá você gostar de mim
Ah! meu bem, não faz assim comigo não!
Você tem, você tem que me dar seu coração!”


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