Por
Vitor
Hugo Soares,
Cujo
excelente Blog que subscreve deve ser visitado.
Neste
sábado, 28, fim de fevereiro para não esquecer, o Consórcio Estaleiros
Paraguaçu(CEP) - formado pelas empreiteiras OAS, UTC e Odebrecht -
confirma o triste desenlace de um engodo anunciado: o encerramento das
atividades na obra monumental de engenharia naval em Mararagogipe, coração do
Recôncavo Baiano. Prometia empregar 5 mil pessoas na fase de construção e mais
6 mil em seguida à inauguração, anunciada para o ano eleitoral de 2014.
O
megaempreendimento de infraestrutura nacional, realizado na Bahia, foi vendido
pelo governo federal, desde o lançamento da pedra fundamental em julho de 2012,
como sonho dourado no Nordeste. Atravessou assim a campanha que reelegeu
presidente da República a petista Dilma Rousseff. De quebra, fez de Rui Costa
(empurrado pelo muque do então ocupante do Palácio de Ondina e atual ministro
da Defesa, Jaques Wagner) governador do estado já no primeiro turno.
A
miragem de R$ 2 bilhões prometida com pompa e circunstância, em badalação sem
tamanho no lançamento da pedra fundamental, foi um festival de guisos e
euforia. Presentes Dilma, Wagner, Rui, Graça Foster, Gabrielli e a nata do
poder no governo petista. Todos ao lado de poderosos empresários nacionais e
estrangeiros, acatados executivos de empresas (antes da Lava Jato), prefeitos,
parlamentares e a gente humilde e trabalhadora do lugar.
Tudo,
ou quase, desmorona agora em meio ao silêncio quase completo. De omissão ou
cumplicidade.
Propagava-se
o ressurgimento da indústria pesada Off-Shore na Bahia (plataformas e
equipamentos para exploração, transporte e distribuição de petróleo). Tudo
antes de explodir a Lava Jato, que arrola corruptos e corruptores no maior
escândalo da história brasileira, e tem como pano de fundo a Petrobras, empresa
do coração de todos. Executivos das empresas brasileiras do Consórcio estão
presos, há meses, na carceragem da PF em Curitiba. Dilma, então, disse em seu
discurso sobre a construção do estaleiro, "ser esse o jeito -
diferentemente dos europeus - do governo brasileiro enfrentar a crise
econômica: criando mais emprego e promovendo desenvolvimento". Uma peça
histórica de retórica e enganação, que está na Internet e merece
consulta.
O
saudoso humorista Zé Trindade, honra da Era de Ouro do Rádio e glória do
chamado cinema de chanchada no Brasil, fez o seu povo sorrir e espantar o mau
humor durante décadas. Mesmo em épocas as mais bicudas, e em governos os mais
caóticos e mais desastrados, ou os mais intolerantes, partia dele a tirada, a
galhofa, o chiste ou a piada que levava às gargalhadas, ajudava sua gente a
suportar e resistir ao tranco.
Zé
Trindade usava duas expressões que funcionavam como cartão de visita em suas
apresentações e filmes. A primeira era uma espécie de registro de identidade
geográfica e afetiva que ele afirmava alto e bom som em todo lugar: "Eu
sou baiano de Maragogipe!", marca registrada ainda mais engraçada pelo o
acento genuíno que o artista emprestava ao pronunciar o nome da sua cidade.
A
segunda, de cunho político e social (além de alcance nacional), era um bordão
crítico. Provavelmente, se vivo estivesse, o fabuloso humorista o estaria
repetindo com frequência nestes dias cavernosos do segundo mandato presidencial
da petista Dilma Rousseff: "Nossa situação é lamentável", dizia o
maragogipano famoso, acentuando com seu sotaque e jeito inimitáveis cada sílaba
da palavra la-men-tá-vel.
Difícil imaginar, apesar de seu prevalente bom
humor, o sentimento de Zé Trindade, diante do quadro destes dias em sua terra.
Gritos de desempregados e familiares que se multiplicam. Choro de desiludidos e
indignados diante da situação que se delineia na véspera do encerramento das atividades
no estaleiro do Paraguaçu, como mostrou ontem a Tribuna da Bahia,
em esclarecedora reportagem.
Ô,
Bahia! É triste, dramático até em algumas passagens. Mas é necessário relembrar
sem esconder ou escamotear fatos, a tragicomédia que se desenrola em
Maragogipe. Uma chanchada eleitoral com todos os ingredientes para terminar em
clamoroso desastre social na terra de Zé Trindade. A conferir.
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