segunda-feira, 16 de março de 2015

SALVADOR DALÍ E GALA

 Por: Autoria de LuDias BH
Fonte: VÍRUS DA ARTE & CIA  


(UM TUMULTUOSO CASO DE AMOR)

“Ela, Eu, a Totalidade do Mundo, Gala é ela e todas as mulheres; e também o cosmos.” (Dalí sobre Gala)
“Gala trouxe-me, no verdadeiro sentido da palavra, a ordem que faltava à minha vida. Eu existia apenas num saco cheio de buracos, mole e delicado, sempre à procura de uma muleta. Ao juntar-me a Gala, encontrei a minha coluna vertebral e, ao fazer amor com ela, preenchi a minha pele.” (Dalí)


Quando se estabeleceu em Paris, Dalí travou inúmeros contatos, sendo um deles com o poeta Paul Eluard, que fazia parte do grupo dos surrealistas, casado com a russa Helena Ivanovna Diakanova, a famosa Gala, com quem teve uma filha, Cécile, muito maltratada pela mãe, que abominava a maternidade. Até então, Dalí não tinha tido nenhuma relação amorosa com uma mulher. Embora negasse, mantinha uma relação homoafetiva com o poeta andaluz, Gabriel Garcia Lorca, obcecado por ele, havendo provas claras de tal relacionamento. Dalí alegava não ter tido nenhuma relação com uma mulher, porque ainda não encontrara a “fêmea” idealizada: jovem, de costas e formas perfeitas, não se importando se ela fosse bonita ou feia, ou em que lugar fosse encontrada. E foi justamente em Gala, 10 anos mais velha do que ele, que encontrou a sua tão sonhada musa, amiga, amor, incentivadora, marchand e dominadora mulher.



Ao receber a visita dos amigos do surrealismo, dentre os quais estavam Buñel, René Magritte e Paul Eluard, acompanhado de suas esposas, Dalí teve um ataque de riso, que só cessou depois que confessou o seu amor a Gala, na frente de seu marido. Segundo o casal, foi amor à primeira vista. O marido de Gala não se mostrou enciumado, pois achava se tratar de mais um capricho da esposa. Só temia que os dois caíssem das rochas, de tão eufóricos que se encontravam, correndo entre as escarpas. Quando o grupo partiu, Gala permaneceu com Dalí por mais duas semanas, iniciando um relacionamento que duraria até a morte dela.


O pai do artista não gostou de sua relação com uma mulher casada e bem mais velha do que o filho, e de ver a litografia do Sagrado Coração, onde ele gravara a frase: “Às vezes cuspo por prazer sobre o retrato de minha mãe.”. A relação entre os dois foi quebrada, o que fez o artista pintar compulsivamente, como se a pintura fosse uma válvula de escape.


Dalí casou-se com Gala em 1934, aos 30 anos de idade e ela aos 40. Como estivesse passando por problemas financeiros, Picasso emprestou dinheiro ao casal para que viajasse aos Estados Unidos, onde o pintor inauguraria sua exposição. Ali conseguiu vender seus quadros por valores exorbitantes. Naquele país, Dalí e Gala tiveram uma vida de reis, fazendo tudo que lhes trouxesse fama e dinheiro: decoração de vitrines, desenho de joias, preparação de cenografias, organização de festas grandiosas, etc. Contudo, o casal jamais pagou o empréstimo feito pelo amigo.

O apego de Dalí e Gala pelo dinheiro era tão grande, que o artista recebeu, em espanhol, o apelido de “Avida Dollars” (Ávido por Dólares). Ele chegou a perder a noção de seu trabalho, ao assinar telas e papéis em branco para que se transformassem em obras falsificadas. Segundo alguns, chegaram à vergonhosa cifra de 50.000, recebendo o artista 10 dólares por cada um.

Gala

No início da Segunda Guerra Mundial, quando muitos artistas europeus deixaram o continente rumando para os Estados Unidos, Dalí e Gala também para ali seguiram. Contudo, o modo como o casal agia, mostrando despreocupação, indiferença e certa insolência para com os acontecimentos que dilaceravam a Europa, irritava os seus antigos amigos. A união dos dois representava, de um lado, um pintor visionário, criativo, ganancioso e egocêntrico e, do outro, uma mulher fria, calculista e ambiciosa, formando um casal “ávido por dólares”. O orgulho era a tônica do par, que agia sempre de acordo com as conveniências, mesmo que tivesse de abrir mãos de antigos princípios, como ao dar apoio ao ditador espanhol Franco, pois lhes favoreceria o retorno à Espanha com facilidade.


Dalí possuía uma personalidade profundamente narcisista, egocêntrica, cínica e era uma figura provocativa até no modo de se vestir, que fazia uso de delirantes comportamentos autopromocionais. De uma feita, chegou a uma conferência num Rolls Royce cheio de couves-flores. Foi denunciado em Paris por explorar o racismo. Acabou sendo expulso do movimento surrealista sob a acusação de ter “vendido a arte”. O artista tinha realmente uma grande gana por dinheiro, estando sempre rodeado por mecenas e colecionadores. Sua vaidade era tamanha, que decorou uma das paredes de sua casa com as capas das revistas que davam destaque a ele e suas obras. As festas à fantasia, jantares e exposições em Nova York separavam cada vez mais o casal de seus amigos distantes, muitas vezes passando por severas dificuldades financeiras.


O lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima aflorou o lado místico do artista, que acompanhava os avanços científicos e estudava as religiões, em especial a católica, obcecado pela Santa Inquisição e pelas superstições populares espanholas. Para ele, parecia não haver diferença entre ciência e religião. Rompeu amizade com Buñel, com quem fizera o filme Um Cão Andaluz, cuja tônica seria a de que nenhuma imagem tivesse lógica, ao revelar que o cineasta era ateu. Isso fez com que o cineasta fosse expulso de onde trabalhava. Também se posicionou ao lado do ditador Franco.

A relação de Dalí e Gala não foi um poema de amor até o fim. Ele fingia não ver sua mulher em busca dos garotões. Com o passar dos anos, ela passou a lhe dispensar cuidados maternais, enquanto vivia cercada de jovens, numa furiosa vida sexual, mas sempre de olho nos negócios, enquanto ele era cercado de modelos e transexuais. Ou seja, ambos rezavam na mesma cartilha. Mas, quando ela morreu, ele entrou em profunda depressão, pois era  quem direcionava a sua vida, tomando para si todas as responsabilidades. Além disso, ela também foi muito importante para ele, pois o ajudou na sua libertação pessoal.

Dalí sofreu sérias queimaduras por ocasião de um incêndio no seu Castelo de Púbol.
Morreu aos 85 anos de idade. Para muitos, ele foi maior do que a sua obra.

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