Publicado por Bruna Kalil Othero
em obviusmagazine
(Opinião do Blog do Facó: Bruna é mais que uma promessa, é uma
reconfortante realidade. Franca possibilidade de arearmos o cubículo decadente
donde se encontra atualmente a nossa literatura. Siga em frente menina! Axé)
(Sei que só me chamo Bruna / Porque rima com
lacuna)
Estudo Letras na UFMG, pois quero ser professora e escritora. Sou amante das artes em geral - especialmente literatura e cinema. Entrei na universidade pra me imergir no mundo literário, e estou cada vez mais apaixonada pelo curso. Poesia é o meu guia permanente: procuro observar o mundo com uma perspectiva poética, e fazer da minha uma vivência lírica. Sou fã confessa da cultura brasileira, da música, das letras, das personagens. Somos um povo maravilhoso, do qual eu amo fazer parte. Ah, é isso: eu amo. Tô aqui pra amar e sigo amando tudo que merece ser amado. Vem amar também!
Estudo Letras na UFMG, pois quero ser professora e escritora. Sou amante das artes em geral - especialmente literatura e cinema. Entrei na universidade pra me imergir no mundo literário, e estou cada vez mais apaixonada pelo curso. Poesia é o meu guia permanente: procuro observar o mundo com uma perspectiva poética, e fazer da minha uma vivência lírica. Sou fã confessa da cultura brasileira, da música, das letras, das personagens. Somos um povo maravilhoso, do qual eu amo fazer parte. Ah, é isso: eu amo. Tô aqui pra amar e sigo amando tudo que merece ser amado. Vem amar também!
“Ali vem a nossa comida pulando.” Hans Staden
“Só me interessa o que não é meu.” Oswald de Andrade
“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente.” Mário de Andrade
“Só me interessa o que não é meu.” Oswald de Andrade
“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente.” Mário de Andrade
O Batizado
de Macunaíma, de Tarsila do Amaral (Foto: Divulgação)
Nesse fim
de semana, eu e o pessoal da faculdade organizamos uma calourada com essa
temática: Macunaíma - de volta às origens, com uma pegada antropofágica. Não
poderíamos ter escolhido tema melhor. As pessoas que compareceram à festa
comprovaram a velha teoria dos Andrades, de que o brasileiro é um camaleão
maravilhoso e colorido.
Para
contextualizar o leitor perdido, darei um ‘resumão’ dos dois textos literários
que nos serviram de base para o evento. Tanto “Macunaíma - o herói sem nenhum
caráter”, de Mário de Andrade, quanto o “Manifesto Antropófago”, de Oswald de
Andrade, foram publicados em 1928, depois do furor estético da Semana de Arte
Moderna, que aconteceu em fevereiro de 1922. O manifesto foi um brado que
unisse os modernistas, procurando sintetizar todas aquelas mudanças
vanguardistas ocorridas alguns anos antes.
Manifesto Antropófago publicado na Revista de Antropofagia (1928). Foto:
site do Teatro Oficina
Afinal, que
é ‘antropófago’? De acordo com costumes de algumas tribos indígenas, quando se
ganhava de um bom guerreiro, era interessante comer sua carne para ingerir,
junto dela, as características de bravura do derrotado. Nessa perspectiva, ser
degustado era uma honra, porque significava ser um adversário de valores.
Portanto, a antropofagia se difere do canibalismo nesse ponto: a comilança aqui
tem um propósito espiritual e ideológico.
Oswald
acreditava piamente na sua teoria, de que o brasileiro era por definição um
antropófago cultural. Ou seja, a nossa cultura teria sido baseada na digestão
do estrangeiro. Entendamos, aqui, o estrangeiro como algo diferente de nós -
tanto influências vindas do exterior, quanto nacionais. E foi essa ideia que
Mário tentou materializar no seu livro. Macunaíma seria a personalização do
brasileiro, passando pelos três estágios da formação da nossa etnia híbrida:
nasce índio negro e vira branco.
Cena do filme "Macunaíma", de 1969 (Gif: Tumblr)
Porém, o
que eu gostaria de dar destaque é ao subtítulo do livro: o herói sem nenhum
caráter. Na linguagem comum, essa expressão tem tom pejorativo, levando a crer
que o ‘sem caráter’ é ‘mau caráter’. Só que: não. No caso de Macunaíma e do
brasileiro, o que se verifica é a ausência mesmo de caráter - essa falta de
identidade que nos assombra. A nossa especificidade é não ter especificidade, e
essa é a graça: podemos ser o que quisermos. O legado do camaleão. Há diversas
discussões sobre o cunho imitativo da cultura brasileira, como o artigo
“Nacional Por Subtração”, de Roberto Schwarz, que aborda com muita precisão
esse problema na crítica literária.
E o que
isso tem a ver com a calourada da Letras? Simples: expressamos, na pele e na
literatura, o que é ser antropófago. Como brasileiras e brasileiros, nos
utilizamos do nosso poder de adaptação e mimetismo, ingerindo informações
alheias, somando às nossas e criando algo totalmente novo. As roupas externaram
o desejo tupiniquim de misturar tudo. Eu mesma me vesti à caráter: com um
corpete e meia arrastão, característicos das vedetes - herança do teatro de
revista, que aparece na montagem d’O Rei da Vela (peça de Oswald), pelo Grupo
Oficina em 1967 -; uma saia de paetê; all star; adornos e maquiagem indígena.
Antropofagia pura: fui comendo tudo que achei no meu guarda roupa.
Depois
dessa festa - que foi sensacional, para não passar batido -, conclui de vez
que, aos meus olhos, a teoria louca de Oswald é a que possui mais
verossimilhança ao nosso cotidiano brazuca. Somos, sim, canibais. Comemos a
cultura do outro, a agregamos à nossa no estômago, vomitamos o que não presta,
e no fim, sobra uma mestiçagem maravilhosa que não existia antes. Nem
estrangeiro, nem nacional: eis o brasileiro. Nós, um monte de Macunaímas,
formamos orgulhosamente essa linda nação sem caráter.
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