Publicado em recortes por Maria Brockerhoff,
em obviusmagazine
Os vulcões, como os seres humanos, trazem grandeza e destruição dentro
de si mesmos.
Foto:
Rainer Brockerhoff
De Quito, a Avenida de los Volcanes avança para as
montanhas, em direção ao Cotopaxi, um dos mais altos, com 5.897m. A
Avenida dos Vulcões justifica o apelido dado pelo alemão Humboldt, naturalista,
historiador e geógrafo, que esteve por 5 anos pelas Américas no século
XIX. Ao largo da Cordilheira dos Andes — um maciço espetacular de,
aproximadamente, 8000km — este caminho conecta o norte ao sul do país e
abriga lugarejos remotos, vales, formas pitorescas, canions, rios e
lagos. Nesta surpreendente avenida, com dezenas de soberbos vulcões,
a vida ainda gira em torno das tradições e costumes andinos.
Chegamos
ao Parque Nacional Cotopaxi e, daí, a rodovia se estende ao infinito,
numa paisagem em 360 graus. O Cotopaxi, o segundo mais alto do ‘Ecuador’, se
apresenta com o cumbre coberto de neve.
Foto: Rainer
Brockerhoff
Nesta
região dos Andes, o paramos guardam um ecossistema tão simples
quanto admirável e eficaz:
• a
vegetação baixa alpina, típica dos locais frios e úmidos, forma uma esponja
natural, a maior do mundo, coletora de água gota a gota. Este incrível processo
contínuo forma fontes cristalinas de pequenos riachos, sem origem glaciar,
fundamentais para todos os seres vivos destas paragens.
• É um
sistema eficiente, mas frágil, e a pecuária é uma ameaça séria.
Foto: Ayuda
Directa
Chegamos ao
estacionamento do Parque, de onde só se prossegue a pé ou de bicicleta. O
Cotopaxi, por ser um cone perfeito com o formato de “ombros”
arredondados, tem o apelido de cuello de la luna (colo da lua);
isto se vê quando a lua cheia “pousa” na cratera.
A uma
altura de 4660m começamos a subida. O vento castiga e a partir de um ponto a
respiração é curta, a cabeça vira um insistente tambor-tum-tum, obrigando-nos a
parar a cada dez passos. Cristian, nosso guia bem-humorado, nos
empurrava morro acima. A 4864m está o Refúgio, um pequeno abrigo para os
corajosos aspirantes ao cume.
Foto: Rainer
Brockerhoff
As erupções
do Cotopaxi, cuja cratera mede 480m, são arrasadoras; podemos ver a força da
lava pelo extenso canion sulcado pela erupção de 1904.
Foto: Rainer
Brockerhoff
A terra
negra faz um belo contraste com um manto macio de neve que, egoísta,
esconde o Cotopaxi. Aqui uma pedra! Oba! É um camarote para recuperar o fôlego
e aproveitar o silêncio cheio de sons desse lugar especial. O Cotopaxi, de
longe, é gentil e convidativo, mas… vamos dar meia-volta. Alguns continuam
o aclive e já se transformam em pequenas figuras lááá em cima.
A descida “es
papaya”, como dizem por aqui. Sim, agora, todo o santo ajuda, ainda mais
com um caldo quente e chá de coca, aliás, muito raro no
Ecuador. Além de artesanías, há no Parque um pequeno museu
sobre vulcões e a demonstração dos danos da pecuária e agricultura quando
ocupam o lugar das matas nativas.
… Saímos
daqui leves, quietos, trazendo a beleza do Cotopaxi com a gente…
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