Internacional
BBC BRASIL
Em
meio à grave crise econômica, ao impasse na negociação com a União Europeia e a
uma corrida emergencial da população para sacar dinheiro, a Grécia anunciou que
os bancos do país ficarão fechados nesta segunda-feira.
O primeiro-ministro Alexis Tsipras fez um
pronunciamento na televisão e disse que "os depósitos bancários estavam
seguros", ainda que nenhum saque pudesse ser feito.
A crise se agravou nos últimos dias, já que a
renegociação da dívida grega com a União Europeia ainda não saiu. O Banco
Central Europeu (BCE) disse que irá manter seu fundo emergencial a bancos
gregos em seu nível atual e que atuará de perto com o Banco da Grécia.
Os bancos do país dependem de assistência do órgão.
O BCE tem enviado fundos emergenciais ao Banco Central grego diariamente e o
fim desta ajuda empurraria a Grécia para fora da zona do euro.
O teto deste fundo, acertado na sexta-feira, é de
89 bilhões de euros. Não está claro se todo este dinheiro já foi usado.
Segundo o editor de Economia da BBC, Roberto
Peston, a notícia de que o BCE não disponibilizará dinheiro adicional à Grécia
levará à grande pressão para adoção de controle de capitais.
Controles de capitais são restrições na retirada de
dinheiro dos bancos. Até agora, o governo grego tem sinalizado que não deseja
impor tal medida.
Nas últimas semanas, gregos retiraram bilhões de
euros dos bancos e longas filas se formaram no sábado em meio a temores de que
bancos não abrirão na segunda-feira.
O pacote de resgate da Grécia vence na terça-feira,
e impasses têm impedido um acordo. Uma moratória de Atenas poderia resultar na
saída do país da zona do euro.
Crise
As origens da atual crise remetem a dez anos atrás,
quando autoridades europeias descobriram que a Grécia havia maquiado suas
contas, ao longo de vários anos, para conseguir entrar na zona do euro.
Endividado, o país sucumbiu durante a crise
financeira de 2008 e precisou pedir dois pacotes milionários de resgate e
aplicar, em contrapartida, um doloroso plano de austeridade.
Agora, depois de três anos de cortes de gastos
públicos, o recém-eleito governo esquerdista do premiê Alexis Tsipras, do
partido Syriza, volta a tentar negociar com a União Europeia, o FMI (Fundo
Monetário Internacional) e o Banco Central Europeu.
Os credores exigem do governo novos cortes de
gastos e de aposentadorias, enquanto Tsipras propõe aumentar a arrecadação via
elevação de impostos sobre empresas e fortunas. Enquanto isso, a economia vive
paralisação, o desemprego cresce e muitos gregos estão ameaçados de pobreza.
A BBC apresenta algumas cifras-chave da crise
grega:
25% de
queda do PIB
Nos últimos sete anos, o Produto Interno Bruto
(PIB, soma de tudo o que é produzido na economia) caiu cerca de 25% na Grécia,
fazendo com que a crise nos demais países europeus pareça, comparativamente, um
mero resfriado.
Em 2011, pior ano da atual crise, a contração foi
de 8,9%.
Após três anos de intenso recuo econômico, a Grécia
saiu da recessão no início de 2014 e conseguiu crescer 0,8%, cifra que não se
traduziu na melhoria das condições de vida da maioria dos cidadãos mais pobres.
E a alegria durou pouco: a economia voltou a se
contrair no final do ano passado.
As previsões para 2015 tampouco são animadoras: o
Banco Central Europeu prevê crescimento de apenas 0,5%.
Os credores pedem um superávit primário (economia
de recursos públicos feitas para pagar os juros da dívida) de 1% do PIB neste
ano e elevá-lo gradativamente até 3,5% em 2018.
O cumprimento disso exigirá duras medidas de
austeridade: calcula-se que o governo teria de cortar gastos e aumentar
impostos em quantidade equivalente a 1,5% do PIB neste ano.
52% dos
jovens não têm emprego
Ainda que, mesmo antes da recessão, a Grécia já
tivesse elevado nível de desemprego entre jovens e de dívida pública, a
situação se deteriorou fortemente nos últimos anos.
O desemprego triplicou, alcançando 26% da força
laboral. E três quartos dos desempregados estão há 12 meses ou mais sem
trabalhar.
Se a situação é ruim para a população em geral, é
mais crítica para os menos experientes: mais de 52% dos jovens estão sem
emprego. Em 2013, essa cifra chegou a 58,3%.
45% dos
aposentados são pobres
O pagamento de pensões é uma das frentes de batalha
entre Tsipras e os credores.
O premiê grego assumiu o poder prometendo não
cortar mais as aposentadorias, mas os detentores dos títulos da dívida grega
insistem em mais reformas nessa área.
A questão é que as aposentadorias são o principal
sustento na metade dos lares do país, o que dá uma ideia dos efeitos que teriam
eventuais novos cortes.
Ainda que a Grécia seja um dos países europeus que
mais gastam com pensões (15% do PIB), muitos pensionistas vivem sob a linha de
pobreza.
Os credores pedem um corte de 1% do PIB nas pensões
até 2017 e reformas no sistema de pagamento; o governo também aceitou eliminar,
pouco a pouco, as aposentadorias antecipadas.
40% das
crianças estão sob a linha de pobreza
Segundo a Unicef, a Grécia tinha em 2013 597 mil
crianças vivendo abaixo da linha de pobreza. Entre elas, 322 mil não tinham
supridas suas necessidades nutricionais mais básicas.
Um relatório do Escritório Orçamentário do
Parlamento grego estimava em 2,5 milhões o número de gregos vivendo em pobreza
no fim de 2014.
200 mil
funcionários a menos
A Grécia aceitou cortar 15 mil funcionários
públicos durante as negociações do primeiro pacote de resgate.
Em abril deste ano, os cortes subiram para
totalizar 200 mil funcionários públicos demitidos desde 2009, reduzindo o custo
salarial em 8 bilhões de euros anualmente.
Em maio, porém, o governo anunciou que voltará a
contratar 4 mil pessoas demitidas.
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