Higiene
Vários estudos demonstram os diferentes hábitos de higiene pessoal.
Franceses, espanhóis e norte-americanos ficam na média.
IÑAKI LAGUARDIA 28 JUN 2015
EL PAÍS – O JORNAL GLOBAL
Cena do filme 'Banhos'.
Entre as
promessas não cumpridas da globalização não é difícil encontrar batalhas
relacionadas com a fome, ecologia ou a desigualdade. O que não sabíamos
até agora era a preocupante diferença refletida pelos indicadores de asseio dos
países. Desta vez, e sem que sirva de precedente, as condições econômicas
e os níveis de desenvolvimento das diferentes nações não parecem ser fatores
determinantes ao julgar hábitos de higiene.
De acordo
com uma pesquisa realizada há alguns meses pela consultoria de análise de
tendências Euromonitor, os brasileiros podem tomar banho, em média, até 12
vezes por semana. Além do Brasil, os sociólogos colocam a Colômbia e
a Austrália entre as nações menos alérgicas à água, com dez e oito banhos
semanais por pessoa, respectivamente. Indonésia e México vêm logo atrás, com
cerca de sete banhos cada. Na lanterninha dessa pesquisa estão os chineses que,
aparentemente, só tomam banho uma vez a cada dois dias.
Os
franceses, norte-americanos e espanhóis ficam na média da ducha diária. Como os
indianos que, por outro lado, só lavam o cabelo uma vez por semana. Os
últimos da fila além dos chineses? Turquia, Alemanha, Reino Unido e,
surpreendentemente, Japão, com costumes mais do que questionáveis. Há quem
argumente que a sinceridade dos entrevistados deveria ser rigorosa para validar
as conclusões – um fator mais do que razoável se levamos em conta que os seres
humanos adoram mentir —, mas os responsáveis pela pesquisa destacam as
variáveis climáticas como argumentos que fundamentam o resultado. Resumindo:
quanto maior a umidade, maior a necessidade de se refrescar.
Há dois
anos, o jornal britânico Daily Mail causou espanto quando revelou
que quase metade dos britânicos não tomava banho diariamente. E davam como
exemplo o príncipe Harry, irmão do futuro rei William, que uma vez admitiu
ter ficado dois anos, dia e noite, sem lavar o cabelo. Por mais estranho que
pareça, seu caso é apenas a ponta do iceberg de uma tendência em alta. Além de
designers de moda que na temporada passada lançaram campanhas publicitárias com
modelos de cabelo emaranhado e com aparência suja, os defensores de
flexibilizar os padrões estabelecidos são muitos.
Enquanto
alguns ecologistas defendem a necessidade de limitar o consumo de água em
casa — e, com isso, economizar os litros que escapam pelo ralo do banheiro
— outras correntes eco-friendly alertam sobre os perigos do uso de produtos de
limpeza que contêm sulfato, parabeno e silicone. Nenhum deles tem o apoio da
maioria dos dermatologistas e outras partes interessadas, mas muitos
especialistas alertam que tudo o que envolve a literatura da higiene pessoal é
exagerado.
A coisa vem
de longe. Em fevereiro deste ano, a jornalista Sarah Zhang, do site Gizmodo,
destacava a estratégia de marketing que no início do século XX motivou os
norte-americanos a criar hábitos que beiravam a obsessão. Segundo seu
depoimento, os fabricantes de sabonetes, desodorantes e cremes dentais criaram
anúncios que modificaram os hábitos da sociedade, forçando as pessoas a gastar
enormes quantias de dinheiro e ameaçando-as com ostracismo social se elas não
se preocupassem com o mau hálito ou sudorese.
No século
XX, a higiene pessoal também é uma batalha entre os sexos. A empresa sueca SCA
publicou há alguns anos um estudo no qual a Suécia aparecia – surpresa – como
uma referência de igualdade também na hora do banho: se no restante de países
pesquisados as mulheres tomam mais banhos do que os homens, no paraíso
escandinavo elas ficam atrás. O relatório também destacava outros costumes,
como depilação, usar cosméticos, acessórios ou fazer as unhas. Segundo o
estudo, para 84% dos homens e mulheres pesquisados, em um cenário ideal elas
sempre devem depilar as pernas. Apenas 51% das pessoas acreditavam que "o
homem ideal" deve usar colônia.
Na era da
heterodoxia higiênica, com os campeões da modernidade que defendem métodos como
o No Poo – lavar o cabelo com água da torneira ou com bicarbonato e vinagre --,
qualquer conclusão parece precipitada. A higiene pessoal pode significar uma
coisa no Rio de Janeiro e outra em Xangai e, provavelmente, nunca se chegaria a
um acordo. Mas há duas coisas universais que fariam um favor coletivo: evitar
o banho checo e o nobre costume de perfumar-se até revirar o
estômago.
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