Espaços que resumem uma capital. Jornalistas contam quais são as suas
ruas favoritas
*Matéria que tem como fonte o artigo ‘Quais são as 10 melhores ruas da
Europa?’, publicada por El País – O jornal global.
Uma loja na rua Flassaders, em Barcelona. / CONSUELO BAUTISTA
Ruas nas
quais se respira liberdade e boa vida; para se percorrer, principalmente, a pé
ou pedalando; que evidenciam a marca dos empreendedores locais e que resumem,
de diferentes maneiras, o espírito das cidades nas quais estão. Ruas com
paisagens, como a Dom Pedro V em Lisboa, que dá acesso ao melhor mirante da
cidade. Ou uma rua marcada por um pórtico barroco e na qual o pavimento é feito
apenas de pedras, como a Conde Duque em Madri. Ou, em Barcelona, a pequena e
estreita rua Flassaders, que introduz o visitante à atmosfera de lojinhas do
bairro do Born. Em Viena, a rua Spittelberg, que é o eixo da colina onde se
monta o mercado de natal mais famoso da capital austríaca. Também em Londres, a
rua Chiltern, onde os comerciantes conseguiram vetar a presença das grandes
redes em favor dos pequenos negócios originais e artesanais. No total, são 10
passeios para fazer compras, ver exposições em galerias ou se sentar em um
restaurante e ler um livro ou conversar. A realização de um relaxado modo de
vida genuinamente europeu.
A rua
chique do bairro
Por Pablo
Guimón
São poucas
as joias que ainda restam por descobrir no centro de Londres, os caçadores de
tendências já dirigem seus passos, há muito tempo, a bairros cada vez mais
periféricos. Mas há exceções. E a Chiltern Street é uma delas. Esta rua de
impressionantes edifícios neogóticos vitorianos de tijolos vermelhos é um
remanso de paz no meio do bairro de Marylebone e abriga alguns dos comércios
mais exclusivos da cidade. Uma rua elegante, sem ostentação, com uma seleção
cuidadosa e cosmopolita, à qual as grandes redes de lojas internacionais não
podem pertencer.
Situada
entre Baker Street e Marylebone High, a
transformação dessa rua teve muito a ver com o guru do bom gosto global Tyler
Brûlé. Na esquina, em Dorset Street, se encontram os escritórios
londrinos da revista Monocle, criada por ele. E esse foi um dos motivos que o
levaram a abrir, há dois anos, o Monocle Cafe. Um pequeno estabelecimento
que parece uma caricatura do estilo de vida que reflete a revista.
"Marylebone High estava se transformando em uma rua muito cara e
movimentada", explicou Brûlé. "Chiltern te permite estar um pouco
fora de tudo isso, é mais tranquila. Há um ambiente especial como o de
comunidade, todos nos conhecemos e nos damos bem".
Já antes, orbitava em ChilternStreet
outro planeta da excelente galáxia Monocle Trunk: um estabelecimento de
culto ao mundo da moda masculina, com peças que seu diretor, Mats Klingberg, parceiro
de Brûlé, obtém por todo o mundo. "Oferecemos um armário de clássicos
modernos, evitando as modas passageiras", explicou Klingberg. Devido ao
sucesso da loja, outra foi aberta em 2013 na mesma rua dedicada a acessórios.
Essas, junto com outras como John Simmons, Sunspel e GreyFlannel, transformam a
Chiltern em um destino fetiche da moda masculina de qualidade em Londres.
Mas há
outro fator que contribuiu para incluir esta rua no mapa da Londres descolada:
a abertura do hotel boutique Chiltern Firehouse, do americano André Balazs,
famoso pela restauração de edifícios emblemáticos. O novo estabelecimento ocupa
uma antiga estação de bombeiros, um dos exemplos mais importantes do estilo
neogótico do final do século XIX que sobrevivem até hoje. Seu restaurante, a
cargo do agraciado chef Nuno Mendes, é um dos preferidos das celebridades.
Cada
estabelecimento de Chiltern merece uma parada. Os amantes da
música encontrarão em Howarth (fabricantes e vendedores de oboés desde 1948)
uma alucinante quantidade de instrumentos de sopro, acessórios e partituras.
Caso a preferência seja por algo mais exótico, há instrumentos indianos na JAS
Musicals.
Cadenhead's,
a histórica engarrafadora de uísques escoceses, tem aqui sua loja londrina. E
em Cire Trudon é possível comprar velas feitas por artesãos. Estabelecimentos
de beleza e de vestidos para noivas e o estúdio de arte floral de Javier
Salvador, remetem a um passado no qual Chiltern era uma rua especializada em
moda nupcial. E a galeria Atlas, que também está aí, é uma das mais importantes
de Londres dedicadas à fotografia.
Pessoas passeiam pela rua Francs-Bourgeois, em Paris.
Pessoas passeiam pela rua Francs-Bourgeois, em Paris.
O Le Marais
e seus jardins secretos
Por
Gabriela Cañas
No coração
de Le Marais, o bairro da moda de Paris, há uma humilde rua na qual
os edifícios de estilo haussmanniano não se alinham de maneira majestosa. Francs-Bourgeois é
uma rua onde se pode fazer compras sem se arruinar financeiramente, contemplar
os imponentes edifícios de pedra, parar para almoçar a qualquer hora do dia e,
sobretudo, ter a impressão de descobrir, por si próprio, esses cantinhos
secretos tão queridos pelos parisienses.
A rua só
tem 60 números, e por isso o visitante não poderá se cansar ao percorrê-la, mas
não convém se deixar enganar pelas vitrines simples e pelas fachadas de pedra
do Museu dos Arquivos e do palacete Albret.
Uniqlo, a
Zara japonesa de estilo informal que ainda não chegou à Espanha, é um dos
comércios recomendáveis, e não só por seus preços. O local dá a oportunidade de
descobrir parte das entranhas de Paris. Desça à planta do subsolo. O edifício
pertencia à Sociedade de Cinzas, uma cooperativa de joalheiros e relojoeiros
para trabalhar com as sobras de seus trabalhos em ouro e prata, e aí estão
expostas as velhas máquinas de fundição. É uma relíquia que remonta à história
da região marcada pelo judaísmo.
A fachada
do restaurante Le Dôme du Marais, no número 53 da Francs-Bourgeois, não anuncia
nada de especial, mas no interior, um recinto circular de cúpula transparente
minuciosamente decorado, é surpreendente. Não passe sem dar a devida
importância também ao número 8 da rua. Dentro, há um pátio tipicamente
parisiense, uma galeria de arte dedicada à fotografia, YellowKorner, e um
armarinho enorme e bem cuidado, herdado sem querer do passado, quando os
fiandeiros do século XIV deram vida a essa área. E estão também os jardins:
pequenos, quase secretos, nos cantos mais inesperados. Passear por Francs-Bourgeois,
que conduz à Praça dos Vosgos, é muito aprazível, sobretudo nos
domingos, quando a rua está fechada para veículos e uma banda compõe a trilha
sonora da multidão que caminha por aí.
É um bom
programa, mas essa idosa que dança ao compasso dos acordes atribui a eles o
sabor do extraordinário. O senhor Pierre, dono do bistrô Camille,
no número 24, aconselha: "É preciso vir também de noite. Tem um
encantamento particular".
O mercado de domingo na rua Swinemünder, em Berlim. / JULIA SOLER
O mercado de domingo na rua Swinemünder, em Berlim. / JULIA SOLER
Música de
Kraftwerk no mercadinho
Por Luis
Doncel
Berlim não
encanta por suas ruas. Não é Paris nem Roma, cidades que parecem pensadas para
deixar os pedestres boquiabertos. Aqui, interessam mais os locais que aparecem
em cada esquina, os cafés onde passar a tarde e edifícios de extraordinária
ligeireza como a Neue Nationalgalerie. Por isso, é muito difícil escolher
apenas uma rua. Mas, se for preciso fazê-lo, provavelmente ficaria com aSwinemünder
Straße. À primeira vista, ela não tem nada de excepcional. Gosto porque,
apesar de estar no gentrificado bairro de Mitte, ainda conserva casas sem
restaurar, o que permite ter uma — distante — ideia de como era esta área do
Leste há 25 anos, quando era uma das mais pobres da capital.
Os que
estão aqui há mais tempo contam que agora veem essa época "em preto e
branco". O passeio começaria na igreja de Sion, templo evangélico dos
tempos do kaiser Guilherme I que se tornou famoso nos anos oitenta, quando seu
porão acolhia uma sede de imprensa clandestina de onde se distribuíam folhetos
e revistas que criticavam o regime comunista.
Ao deixar
para trás a igreja, a fachada dos edifícios da esquerda vai mudando de cor —
grená, azul, verde...— sob a sombra dos gigantescos bordos (um tipo de árvore)
que, como é habitual em Berlim, são mais altos do que os edifícios. A alguns
metros de distância, no número 120, vive Ilona Fichtner. Em sua sala, o líder
da República Democrática Alemã (RDA) Erich Honecker tomou um café no dia 9 de
fevereiro de 1984, para comemorar os dois milhões de imóveis restaurados pelo
Estado.
Imediatamente
depois, aparece a Arkonaplatz, praça onde, aos domingos, se
organiza um dos mercados mais encantadores da cidade. Ao som do Fahr'n fahr'n fahr'n
auf der Autobahn de Kraftwerk, que sai de um toca-discos à venda, se pode
bisbilhotar histórias em quadrinhos antigos e edições do jornal Der Spiegel da
semana dos atentados de 11 de Setembro. "O ataque do terror. Guerra no
século XXI", anuncia a manchete.
Como tantas
ruas nessa cidade composta por larguíssimas avenidas, percorrer a Swinemünder serve
para conhecer as várias facetas de Berlim. Depois de passar pelos apartamentos
de luxo recém-construídos na altura da Bernauer Straße, a rua se
transforma em uma zona cheia de jardins e que termina em Wedding, que
dizem há anos que vai a ser o próximo bairro da moda de Berlim, mas que nunca
consegue se popularizar.
A entrada do centro cultural de Conde Duque, em Madri. / ALFREDO ARIAS
Modernos e
barrocos
Por
Mercedes Cebrián
Se somente
tivéssemos a oportunidade de conhecer uma rua em Madri, por que escolher a rua
do Conde Duque? Porque está ao lado da praça de Cristino Martos,
essa atalaia que nos comunica, por sua vez, após descer umas escadas de pedra,
com a rua Princesa, perto da Praça de Espanha, e que,
ao mesmo tempo, nos isola desse xarope de franquias que reinam por aí abaixo.
E também
porque no outro extremo, se a percorremos pela noite, se pode ver, iluminado, o
posto de gasolina racionalista Gesa, projetado em 1927 por Fernández-Shaw
(Alberto Aguilera, 18), e, felizmente, reconstruído nos anos 90.
E aí se
pode encontrar tudo o que caracteriza Madri; ou seja, não somente edifícios
galdosianos com sacadas, mas também o bloco feito de tijolos com terraços
cobertos por vidro, árvores que prometem crescer mais e seus correspondentes
bares galego e asturiano, este último com queijos tetilla, expostos por
exigência.
E estão aí O
Jardim Secreto, um café-restaurante muito adequado para primeiros encontros de
casais que esperam trocar seus primeiros beijos nesse ambiente de país dos
gnomos; e também oSportivo, uma das lojas pioneiras em oferecer aos meninos
madrilenhos roupa e acessórios importados, à qual se somou a sapataria Duke.
Além disso,
a rua do Conde Duque conta com sua própria praça — a dos Guardias de
Corps —, com solo de areia seca (poucas coisas são tão madrilenhas),
ideal para tomar um vermute contemplando o busto de Clara Campoamor antes de ir
a um espetáculo na imensidade militar que se transformou no emblema do bairro:
oCentro Conde Duque. Ele foi construído a princípios do século XVIII por Pedro
de Ribera, e seu portão churrigueresco (estilo de ornamentação exagerada
empregado por Churriguera, um arquiteto e escultor barroco do final do século
XVII), chama a atenção imediatamente, por contrariar o sóbrio padrão estético
propagado pelo resto do edifício.
O centro
está composto por três amplos pátios com terraço e cinemas de verão, por
bibliotecas municipais e por sua estupenda sala de concertos. A poucos metros,
está também o Museu ABC de Desenho e Ilustração. E ao redor de tudo isso,
surgiram estabelecimentos como Panic, uma padaria com fogaças e mesa
comunitária que causa furor entre os vizinhos; Cultivo, uma loja de laticínios
cuja preciosa e tosca vitrine convida, mais do que a vender, a "despachar"
os queijos artesanais, elaborados aí mesmo por mestres queijeiros da região que
utilizam leite cru; e Tiradito, um restaurante peruano com seu próprio
pisco-bar.
E nessa rua
estão todos junto, com vontade de receber qualquer um que passe por aí.
Uma loja na rua Flassaders, em Barcelona. / CONSUELO BAUTISTA
Uma loja na rua Flassaders, em Barcelona. / CONSUELO BAUTISTA
Microcosmos
em 46 números
Por Clara
Blanchar
Parece
mentira como pode caber tanta oferta em uma rua de apenas 46 números. Há uma
adega, um herbanário centenário, um teatro de pequeno porte, uma joalheria
artesanal, uma confeitaria de luxo, um restaurante de comida orgânica, um
mercado de tapas espanholas para turistas (as típicas porções de comida para
petiscar), uma loja de produtos alimentícios administrada por um paquistanês,
outra de reformas de banheiros e várias de moda de alta e media costura.
Estamos em Flassaders, uma estreita rua do bairro de Born,
em Barcelona.
A palavra
Flassaders vem de flassada, manta em catalão, e, como outras tantas ruas da
área, antigamente concentrava aos artesãos do grêmio. No começo da manhã e nas
últimas horas da tarde, às vezes, cheira a amaciante de roupa. O que é normal
em uma passagem tão estreita.
Flassaders
nasce um pouco mais em cima da rua Princesa e morre no passeio
de Born. No meio, se alarga na praça de Jaume Sabartés,
onde o Museu Picasso abriu um novo acesso e três espaços ao ar livre
para tomar algo. Assim como as fachadas dos edifícios, não há local que não
tenha uma longa história.
O mercado
de tapas Princesa, com 17 postos de degustação, está em um palácio que data de
1400. O restaurante La Báscula, de comida orgânica, era uma antiga fábrica de
doces e chocolates e tem esse nome porque se entra nele, literalmente,
caminhando por cima da balança onde os carros eram pesados. Suas proprietárias
foram corajosas, já que quando chegaram aí, em 2001, Born ainda
não era um bairro famoso.
Antes
disso, em 1997, foi inaugurada a loja Èstro, que vende sapatos e acessórios de
couro e roupas de fibras naturais. Tudo desenhado e fabricado na Itália. Nessa
rua, também se instalou JS Heritage, a linha casual de Javier Simorra; a
loja de roupas para noivas e festas de Roser Marcè; e a joalheria artesanal
Elisa Brunells, um clássico da cidade.
Outros
locais são multimarcas, como Loisaida, que vende roupas de vários estilistas
catalães, além de antiguidades. Tudo amenizado por música dos anos quarenta e
cinquenta. É um luxo de local que ocupa o que foram os estábulos da antiga
fábrica de moeda, La Seca, que hoje é um teatro de duas salas com uma
estupenda programação.
O mirante de São Pedro de Alcântara, em Lisboa.
O mirante de São Pedro de Alcântara, em Lisboa.
À sombra
das magnólias
Por Javier
Martín
Há ruas que
são e ruas que levam; ruas do dia e ruas da noite; ruas para crianças e ruas
para amantes das compras; para caminhar e para dirigir. Em seus escassos 500
metros, a Dom Pedro V reúne tudo isso. Começa com o melhor
mirante da cidade de um lado e oconvento de São Pedro da Alcântara do
outro, pois nesta rua têm igual atrativo ambas as calçadas, que nascem com
exuberantes jacarandás roxos. Satisfeito o espírito, o resto é para os pecados
do corpo. Vale a pena desfrutar da confeitaria São Roque e
também – o dinheiro não será obstáculo – das empadas de frango da Doce
Real um pouco mais à frente; entre uma e outra, o início da rua
Rosa, íntima de dia, diabólica de noite; deixem-na para mais tarde, pois
não convém desviar-se antes de chegar a uma fileira de boutiques que competem
em última moda, para depois, cruzando a pista, retroceder cinco séculos.
Se há
monumentos que justificam a visita a uma cidade, em certas ocasiões também
ocorre o mesmo com algumas lojas. É o caso daSolar. Lucilia, sua
apaixonada atendente, explica em um minuto a história do azulejo do século XVI
ao XX com essas obras-primas em nossas mãos. A loja é uma tentação, pois quem
não tem 20 euros para adquirir uma antiguidade? Ao contrário de todo mundo,
Lucilia se ofende com os turistas que entram e saem em um piscar de olhos:
"Mas se não viram nada!", recrimina-os no idioma que convier. O velho
e o novo combinam tão bem como o luxo e os almoços econômicos de 5,95 euros (20
reais) por um correto arroz com peixe mais água e café no Tascardoso, já no
outro extremo da rua.
A Dom
Pedro V desemboca nos jardins do Príncipe Real, com seu
velho cipreste e suas imensas magnólias ao redor do café da Esplanada.
Ao cair da tarde, os dois quiosques da praça se enchem de gente bonita. É o
lugar e a hora de passear os poodles e os Porsches, jantar no A Cevicheria e
rematar no Pavilhão Chinês, outro lugar ímpar; tudo isso do dia
para a noite, do convento para o bar, na Dom Pedro V, a rua das
ruas.
A Via dei Coronari, em Roma.
A Via dei Coronari, em Roma.
O profano e
o sagrado, de mãos dadas
por Pablo
Ordaz
Nas
luxuosas lojas de antiguidades situadas no início da Via dei Coronari, a
dois passos da praça Navona, Silvio Berlusconi costumava comprar os
presentes para as jovens convidadas de suas famosas festas. E ao final da rua à
esquerda, Jorge Mario Bergoglio rezou diante da Madonna Dell'Archetto sua
última oração antes de entrar no conclave de que saiu vestido de branco. Como
diz o humorista Maurizio Crozza, Roma é a única cidade do mundo que é capital
de dois Estados: "Um deles acredita em Deus e está sempre à espera do
grande milagre; o outro é o Vaticano". A rua que, através da beleza, serve
para unir esses dois mundos tão contraditórios se chama Via dei
Coronari. Reúne, em seu meio quilômetro de estranha retidão – "na
Itália, a distância mais curta entre dois pontos é o arabesco", dizia o
escritor Ennio Flaiano –, os alicerces sobre os quais range a glória da cidade:
o sagrado e o profano, o histórico e o efêmero, a praça com fonte e igreja e o
beco – que dizem ser o mais estreito da cidade – que conduz a um palacete que
no século XV pertencia a Fiammetta, a mais famosa cortesã da cidade, e que
agora abriga a sede de um instituto financeiro.
Na metade
da rua, e logo depois do pitoresco beco que abriga a Sorveteria do Teatro,
está a igreja de San Salvatore in Lauro,construída no século XVI
sobre a velha paróquia do século XI. Ali dentro, para admiração dos descrentes
e devoção dos fiéis, são exibidas as relíquias de vários santos, sobretudo do
capuchinho padre Pio (1887-1968), famoso pelos estigmas que tinha nas mãos. O
percurso em direção à ponte de Sant'Angelo vai deixando
registrado semana após semana que o pesadelo denunciado pelos moradores meses
atrás já é uma realidade. Os velhos, discretos e belos estabelecimentos
comerciais estão sendo substituídos a uma velocidade endemoniada por lojas de
quinquilharias e bares de comida rápida. Também sobre os sampietrini – os
típicos paralelepípedos romanos – da Via dei Coronari se
constata a cada dia que a beleza de Roma é também sua maior ameaça.
Uma cervejaria no bairro de Spittelberg, em Viena.
Uma cervejaria no bairro de Spittelberg, em Viena.
Uma colina
com atmosfera de povoado
Por José
Miguel Roncero
Em grandes
capitais como Viena, muitas ruas são amplas e majestosas, lembranças de um
passado glorioso (este ano se comemora o 150º aniversário da Ringstrasse, a via
circular que articula a expansão vienense). E outras ruas são pequenas,
acolhedoras e evocam um passado em que a cidade mais parecia um grande povoado.
O Spittelberg (o hospital da colina), situado no sétimo
distrito vienense (Neubau) e a dois passos do bairro dos museus, é um bom
exemplo.
O
Spittelberg consiste, na realidade, de três ruas paralelas: Spittelberggasse,
Schrankgasse e Gutenberggasse. A sensação, ao chegar ali, é de ter entrado em
um pequeno povoado com calçamento de pedras, sem carros, silencioso. O passado
rural e camponês dessa colina ainda respira em suas casas, algumas do século
XVII. Vários edifícios parecem se erguer sobre a colina para obter a melhor
vista. O Spittelberg foi, em outros tempos, uma área bem conhecida pela
prostituição, frequentada por tipos suspeitos. O racionalismo burocrático
vienense só se impôs no século XIX, quando a zona sucumbiu à simplicidade e
elegância impostas pela arquitetura Biedermeier, da qual Spittelberg oferece
excelentes amostras.
Daqueles
dias de malandragem para cá, as coisas mudaram. Hoje se vai ao Spittelberg para
passear, tomar um café ou beber com amigos, ou encontrar algo único para aquela
pessoa especial. A colina se orgulha de oferecer gastronomia, diversão e
cultura: um teatro, um cinema, cafés e bares tradicionais e contemporâneos,
galerias de arte, lojas de design, chocolaterias e restaurantes. E há também
muitas atividades de rua. No inverno, um dos mais famosos e alternativos
mercados de Natal toma a colina. No verão é a vez das mesas na rua. E no primeiro
fim de semana de cada mês há um mercado onde se vendem desde produtos de
artesanato até antiguidades tiradas de algum porão próximo. Bem-vindos à
colina.
A rua de Utrechtsestraat, em Amsterdã.
A rua de Utrechtsestraat, em Amsterdã.
Cinco
séculos em 600 metros
por Isabel
Ferrer
Situada
entre duas praças centrais, a Rembrandtplein e aFrederiksplein,
a rua de Utrecht (Utrechtestraat) nasceu em 1658 durante a
grande ampliação de Amsterdã, uma das urbes mais prósperas da Europa naquela
época, em pleno Século de Ouro. Embora seus 600 metros atravessem três dos
canais mais importantes da cidade (Herengracht, Keizersgracht e
Prinsengracht), não é uma rua que costuma ser lembrada por quem passeia
pelo centro histórico. Seus edifícios são tipicamente holandeses, mas sem a
embalagem daqueles erguidos pelos comerciantes que enriqueceram especulando com
os tulipas. Além disso, é percorrida por uma linha de bonde e é preciso ter
cuidado ao atravessar. No entanto, reúne em vários aspectos a essência de
Amsterdã.
Sobrevivem
apenas alguns imóveis de cinco séculos atrás, mas a sorte da Utrechtestraat
está em seu comércio. Há moda, decoração, restaurantes, chocolaterias, joias e
ateliês de ourivesaria e bijuteria, flores, retratistas, tatuagens,
perfumarias, barbearias, confeitarias, delicatessen e sanduíches, lojas de
ferragens, vinhos, revistas, imprensas, livrarias... Os bondes puxados a cavalo
chegaram em 1877, e os elétricos, em 1904. Na atualidade, como também acontece
progressivamente por toda a cidade, as bicicletas competem com carros e bondes.
Há chocolates
artesanais na Van Soest Chocolatier; pães e bolos na Bakker Van Eijk;
queijos na Kaashuis Tromp; roupa masculina sob medida na Romeyn Tailors, uma
alfaiataria fundada em 1898; roupa e botas coloridas para mulheres na Lien
& Giel; presentes inusitados na Jan; discos de vinil, CDs e DVDs, novos e
de segunda mão, na Concerto, a maior loja do gênero no país. Aberto em 1967, o
Sluizer é um restaurante que mistura clássicos como a sopa de tomate com
receitas contemporâneas.
A
Utrechtsestraat fica a um passo do museu Ermitage, a franquia holandesa da sala
russa aberta em um antigo asilo. O teatro Carré, em um antigo circo, também
está muito perto. À margem do rio Amstel, são parte da oferta
cultural que coroa uma rua despretensiosa, mas com sabor autêntico.
A rua de Straedet, em Copenhague.
A rua de Straedet, em Copenhague.
Encontro no
café do Beijo
Por Viveca
Tallgren
No coração
da parte medieval de Copenhague fica a Strædet, uma das ruas mais
encantadoras da capital dinamarquesa. Paralela ao calçadão da Strøget,
mas sem a movimentação ruidosa desta. NaStrædet (o beco) pode-se
facilmente passar metade do dia entrando nas lojas e admirando seus belos edifícios
do século XVIII.
Strædet é a
denominação conjunta de três ruas seguidas,Farvergade, Kompagnistræde e Læderstræde,
que desembocam na praça Amagertorv, perto do castelo de
Christiansborg, sede do Parlamento.
Na Strædet há
lojas de design de todo tipo: cerâmica, joias, roupa e móveis, além de
exclusivas livrarias de segunda mão. Vale a pena visitar a loja da ceramista
dinamarquesa Ditte Fischer, na Læderstræde 14. Quase em frente se encontra um
dos cafés mais populares de Copenhague, o Kafe Kys (Café do Beijo).
Para
comprar presentes ou alguma coisa bonita para a casa, a loja da desenhista
Mette Grønlykke, na Læderstræde 5, tem grande variedade de almofadas, joias,
abajures e cestaria, tudo em vivas cores. Um pouco mais adiante, na
Kompagnistræde 8, fica a Kaiku, com sua exclusiva variedade de móveis,
floreiras e outros itens domésticos de design moderno escandinavo. Na Frietzsches,
com a fachada pintada de verde, são vendidas delicadas obras de cristal feitas
à mão.
Na Strædet abundam
os pequenos cafés e bares para todos os gostos, muitos com mesas na calçada
durante o verão. O que têm em comum é que quase todos são bastante informais. O Hoppes,
na Læderstræde 7, é um dos restaurantes mais populares, como também o RizRaz,
na Kompagnistræde 20, que serve comida mediterrânea com um grande bufê
vegetariano a bom preço.
O Bertels Salon, na
Kompagnistræde 5, oferece café com seus famosas cheesecakes ao estilo nova-iorquino,
e o Bar Maroc, um pouco mais à frente, serve chá de hortelã ao
estilo marroquino com doces orientais. A Strædet tem até uma boa barbearia, a
Atmosphair, onde trabalham três talentosas cabeleireiras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário