Política internacional
João FELLET - @joaofelletEnviado
especial da BBC Brasil a Nova York
Ao visitar nesta segunda-feira o presidente americano, Barack Obama, na
Casa Branca, Dilma Rousseff espera superar o esfriamento da relação que
acompanhou as denúncias de que havia sido espionada pelo governo americano, em
2013.
O maior objetivo de Dilma na visita é estimular a
economia brasileira, que está em recessão. Ela tentará convencer empresas
americanas a participar dos leilões que o governo está organizando na área de
infraestrutura e discutirá com o governo americano formas de facilitar as
exportações de produtos brasileiros para os Estados Unidos.
Em sua viagem, Dilma também visitará o Vale do
Silício, o mais famoso polo tecnológico do mundo, na Califórnia. Ela tem dito
que outro objetivo importante de sua visita é ampliar a cooperação com os
Estados Unidos no campo da inovação.
No poder desde 2011, a brasileira já teve outras
prioridades em seus contatos com Obama, como pode ser visto abaixo, na lista
que a BBC Brasil preparou com cinco dos principais momentos na relação dos dois
líderes:
Visita de Obama ao
Brasil (março de 2011)
Dois anos após tomar posse, Obama visitou o Brasil
em meio a um giro pela América Latina. Um dos principais interesses dele na
visita era aumentar as compras de petróleo brasileiro e diminuir a dependência
americana de produtores do Oriente Médio.
Na época, o setor petrolífero brasileiro vivia uma
onda de euforia. Acreditava-se que a descoberta das reservas no pré-sal
tornaria o país um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
Obama também estava interessado em discutir com o
Brasil parcerias no setor de biocombustíveis, o que casava com o interesse de
Dilma em eliminar as tarifas nos Estados Unidos à compra de etanol brasileiro.
A visita não gerou, porém, os efeitos desejados
nesses campos.
Dificuldades técnicas para explorar o pré-sal
impediram uma rápida expansão da produção brasileira. E, nos anos seguintes, os
Estados Unidos protagonizaram uma revolução energética ao desenvolver
tecnologias para extrair gás de xisto, reduzindo sua dependência de petróleo e
diminuindo o apelo dos biocombustíveis no país.
Visita de Dilma aos
EUA (abril de 2012)
Energia e bicombustíveis também foram temas da
primeira visita de Dilma aos EUA, mas outras áreas receberam atenção
equivalente, entre as quais educação e defesa.
Dilma e Obama se
encontraram na Cúpula das Américas em abril deste ano no Panamá
Poucos meses antes, Dilma tinha lançado o programa
Ciência Sem Fronteiras, que pretendia financiar a ida de 100 mil alunos
brasileiros a universidades estrangeiras e se tornaria uma das vitrines do
governo.
Naquela visita, a presidente estava empenhada em
abrir universidades americanas de ponta a estudantes brasileiros e visitou duas
delas: Harvard e o MIT (Massachussets Institute of Technology), ambas em
Boston.
As negociações tiveram bons resultados: os Estados
Unidos se tornaram o maior destino de alunos brasileiros no Ciência Sem
Fronteiras. Das 78 mil bolsas já concedidas pelo programa, 22 mil foram em
universidades nos Estados Unidos.
Um dos momentos mais delicados do encontro ocorreu
quando Dilma defendeu que Cuba fosse convidada para a Cúpula das Américas, que
ocorreria dentro de poucos dias na Colômbia. Os Estados Unidos haviam vetado a
participação de Havana e mantiveram a posição.
Cancelamento da
visita (setembro de 2013)
A relação entre os dois líderes chegou ao ponto mais
baixo quando Dilma decidiu cancelar a visita de Estado que faria a Washington
em outubro de 2013.
Ela reagiu às denúncias de que havia sido espionada
pela agência de segurança nacional americana, a NSA. As denúncias se embasavam
em documentos divulgados por Edward Snowden, um ex-analista da agência.
Dilma condicionou o reatamento das relações com os
Estados Unidos a um pedido de desculpas. E, junto com a Alemanha, cuja premiê
também fora alvo da NSA, articulou na ONU a aprovação de uma resolução contra a
espionagem.
O episódio congelou o diálogo entre os governos de
Brasil e Estados Unidos em várias áreas. Caso a visita ocorresse, esperava-se
que Dilma anunciasse a compra de jatos da americana Boeing para a Força Aérea
Brasileira (FAB), num negócio de mais de US$ 4 bilhões. O governo acabou
optando por jatos suecos Gripen.
Funeral de Nelson
Mandela (dezembro de 2013)
O gelo entre os dois países começou a ser quebrado
no funeral de Nelson Mandela, na África do Sul. Dilma e Obama conversaram,
sorriram e se abraçaram na missa do líder sul-africano.
Cúpula das Américas
em abril foi palco de encontro histórico entre Obama e Raúl Castro, marcando
início do reatamento entre EUA e Cuba
O clima do encontro foi favorecido por um
acontecimento histórico ocorrido momentos antes, quando Obama apertou a mão do
presidente cubano, Raúl Castro. O gesto sinalizaria o início da reaproximação
entre as duas nações.
Dilma e Obama já haviam se encontrado após o
escândalo da espionagem numa cúpula na Rússia, mas na ocasião apenas trocaram
um aperto de mão, sem sorrir.
Cúpula das Américas
no Panamá (abril 2015)
Em encontro com Obama às margens da cúpula na
Cidade do Panamá, Dilma finalmente remarcou sua visita aos Estados Unidos. A
presidente estava bem humorada e disse que o episódio da espionagem havia sido
superado.
Outra vez, o encontro foi favorecido por um
acontecimento histórico. Era a primeira vez que Cuba participava da reunião,
estreia saudada por todos os líderes da reunião.
Obama ofereceu a Dilma a possibilidade de visitar
os Estados Unidos numa visita de Estado, mais formal, em 2016, mas a presidente
preferiu realizar uma visita de trabalho mais cedo.
Segundo assessores, o clima econômico no Brasil a
influenciou a viajar antes.
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