segunda-feira, 8 de junho de 2015

CONCENTRAÇÃO DE BRASILEIROS EM CIDADE JAPONESA VIRA ATRAÇÃO TURÍSTICA

 

Ewerthon TobaceDe Oizumi, Japão, para a BBC Brasil
As cores da bandeira brasileira estão por toda parte em Oizumi, um pequeno município na província de Gunma, cerca de 100 quilômetros ao norte de Tóquio.

Com pouco mais de 40 mil habitantes, a cidade se tornou um dos principais destinos dos brasileiros no início da década de 1990 e hoje ostenta o título de "Cidade Brasileira" do Japão.
A denominação não é por acaso. Cerca de 10% da população local é brasileira e, na avenida principal da cidade, espalham-se todo tipo de comércio e prestadores de serviços voltados para a comunidade.
A Associação de Turismo local percebeu o potencial e, desde 2009, começou uma campanha para atrair turistas, antes inexistentes, para a cidade.
"Hoje são cerca de 10 mil visitantes por ano e a tendência é de crescimento por causa dos projetos para atrair também pessoas de outras regiões do Japão e de países da Ásia", contou à BBC Brasil Shuichi Ono, vice-presidente da associação.

Turistas japoneses também se divertem em Oizumi, onde 10% da população é brasileira


Ono diz que Oizumi não tem nenhum atrativo turístico a não ser os brasileiros. "E como o Brasil é longe geograficamente, muitos japoneses preferem vir até Oizumi mesmo", garante.
O próprio Ono é um apaixonado pelo Brasil. O japonês ainda não teve coragem de encarar a longa jornada em direção ao país sul-americano. "Aqui em Gunma tem de tudo mesmo", brinca.
Desde que começou a campanha, o número de ônibus de turismo na cidade vem aumentando.
Agora, todo final de semana, cerca de três veículos saem de Tóquio lotados de japoneses curiosos por conhecer a cultura e culinária brasileiras.
"São japoneses de todas as idades. Os mais velhos querem experimentar a comida. Os mais novos, fazer uma aula de samba ou capoeira", detalha Ono.
Orgulho das raízes
O músico, designer e promotor de eventos Paulo Hirano, de 36 anos, conta que a chegada dos turistas japoneses fez com que os próprios brasileiros valorizassem sua origem.
"Hoje, a gente percebe que as pessoas têm mais orgulho das suas raízes", diz Hirano, que só foi aprender o idioma português quando entrou na faculdade de letras.

Cidade a 100 km de Tóquio tem churrasco e aulas de samba e capoeira

O brasileiro chegou ao Japão em 1989, aos dez anos de idade. Ele viu a comunidade evoluir e, hoje, ele desempenha um importante papel de ligação entre brasileiros e japoneses.
"Ainda há uma certa resistência dos japoneses em aceitar os estrangeiros, mas aos poucos a visão está mudando", afirma.
A líder comunitária Shoko Takano, que mora na cidade há mais de 26 anos, concorda com Hirano.
Ela conta que, no começo, a população local não gostava nada da presença dos forasteiros e houve muita discriminação por causa das diferenças culturais.
"Mas depois de 15 anos o lado positivo dos brasileiros começou a aparecer. Os japoneses viram que nós somos um povo unido e muitos ainda ficam admirados com o nosso lado afetivo", fala.
Ela ressalta que a economia local hoje depende muito dos brasileiros.
"Além disso, graças à presença dessa comunidade a cidade ganhou destaque na mídia japonesa, principalmente ano passado, durante a Copa do Mundo de Futebol", lembra Takano.
70% de japoneses

Restaurante brasileiro de Marco Antonio Miyazaki começou para a comunidade, mas já serve mais japoneses

O empresário Marco Antonio Miyazaki é um dos que aposta na campanha da associação de turismo de Oizumi.
Recentemente, ele investiu num café cultural, um espaço onde os turistas podem conhecer um pouquinho mais da história da imigração japonesa e do movimento decasségui - que faz 25 anos nesta semana - enquanto saboreiam um café e comem iguarias típicas do Brasil.
"No início, o comércio brasileiro era voltado exclusivamente para a comunidade. Hoje isso mudou e atendemos cada vez mais a clientela japonesa", conta Miyazaki, que mantém também um restaurante e uma loja de lembrancinhas do Brasil.
Metade dos clientes que frequentam o restaurante dele, por exemplo, são japoneses e, nos finais de semana, com a chegada dos ônibus de turismo, o número aumenta para 70%.

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