Colaboração
de Fernando Alcoforado*
Nos
últimos 30 anos, as vítimas de homicídios no Brasil chegam a mais de 1 milhão
de pessoas.
São dados coletados em 27 Unidades Federativas, 33 Regiões Metropolitanas, 27
capitais e 5564 municípios do país, utilizando informações do ministério da
saúde, segurança
pública, cartórios, polícia e outros órgãos públicos (Ver o artigo Violência
no Brasil:
pior que Iraque, Angola e Afeganistão publicado no
website <http://blogdotas.terra.com.br/2011/12/28/violencia-no-brasil-pior-que-iraque-angola-eafeganistao/>).
Para ficar
claro o absurdo do número de mortes violentas no Brasil, basta
comparar com outros lugares que vivem situação extrema como Angola, país em guerra
civil por 27 anos (550 mil vítimas, praticamente a metade das vítimas por aqui no mesmo
período). Outros conflitos armados recentes, como no Iraque e no Afeganistão,
somam juntos 89 mil mortos até 2007. Ou seja, a guerra aqui é mais sangrenta
que nesses lugares já excessivamente sangrentos do planeta.
O recente
assassinato de médico no Rio de Janeiro na Lagoa Rodrigo de Freitas amplamente
divulgado pela imprensa é apenas mais um caso de vítima de violência no Brasil.
Cada vez mais, os meios de comunicação deixam explícito que estamos vulneráveis
à violência, obrigando-nos a constatar que ela invadiu todas as áreas da vida e
das relações do indivíduo no Brasil. É evidente a preocupação com a violência
na sociedade
brasileira atual que se manifesta no crime organizado, na corrupção generalizada
dos diversos órgãos públicos, nos assaltos a cidadãos e bancos, etc. A
violência
representa tudo aquilo que fere, destrói, agride ou machuca as pessoas – ações que
não preservam a vida e sim prejudicam o bem estar tanto individual quanto coletivo.
Vivemos em
um mundo que tem como uma das suas características principais a violência
praticada pelo homem contra seus semelhantes. A percepção de muita gente é a de
que a violência representa o predomínio do instinto animal que possuímos sobre
os valores da civilização. Isto explicaria a escalada da criminalidade em todas
as épocas em todo o mundo. Uma das questões mais importantes para a compreensão
do ser humano e para suas diversas dimensões é entender qual a sua natureza.
Seria ela boa ou má? Uma tese defendida, sobretudo na atualidade, por alguns
filósofos e religiosos é a de que o homem seria visceralmente mau,
intrinsecamente perverso e, por natureza, corrupto,
enquanto para outros se fundamenta na convicção da bondade natural do homem.
Freud
enfatiza em sua obra os aspectos destrutivos do homem (Ver o artigo de Sonia Maria Lima
de Gusmão sob o título A natureza humana segundo Freud e Rogers postado no
website <http://www.rogeriana.com/sonia/natureza.htm>). Neste artigo,
Carl Rogers apresenta uma visão oposta á de Freud, pois ele acredita que é
justamente em um contexto coercitivo, onde o indivíduo não pode expandir-se, ou
melhor, atualizar o seu potencial, que o torna hostil ou antissocial. Hobbes
tem a tese central de que o homem é o lobo do próprio homem. Hobbes procura
mostrar que não pode haver sociedade sem governo e sem as sanções das leis (Ver
o artigo de Roger Trigg sob o título A Natureza Humana em Hobbes postado
no website <http://qualiaesob.
blogspot.com.br/2008/03/natureza-humana-em-hobbes.html>).
A ideia
central no pensamento de Rousseau se fundamenta na convicção da bondade natural do
homem e de que os percalços da socialização afastaram o homem de si próprio
lançando-o contra o seu semelhante (Ver o artigo de Dalva de Fatima Fulgeri sob o
título Conceito de natureza em Rousseau postado no website <http://www.paradigmas.com.br/parad12/p12.6.htm>).
Para Marx, os seres humanos são
capazes de mudar o mundo ao seu redor e, fazendo isso, mudam a si mesmos. (Ver o artigo A
Natureza do Homem Segundo Karl Marx postado no website
<http://nomosofia.blogspot.com.br/2011/10/natureza-do-homem-segundo-karlmarx.
html>).
Cristianismo,
Judaísmo, Islamismo, Religiões Orientais e Espiritismo abordam a questão da
natureza humana as quais estão apresentadas em seguida. Quanto ao Cristianismo,
há a afirmação de que somos dotados por Deus de vontade livre – ou livre-arbítrio
– e que o primeiro impulso de nossa liberdade dirige-se para o mal e para o pecado,
isto é, para a transgressão das leis divinas de que somos seres fracos,
pecadores, divididos entre o bem (obediência a Deus) e o mal (submissão à
tentação demoníaca) (Ver o artigo Cristianismo: O Problema Moral postado
no website
<http://portalveritas.blogspot.com.br/2009/10/cristianismo-o-problema-moral.html>). O
Judaísmo, tanto quanto o Cristianismo, considera a violação de um mandamento divino
como um pecado. O Judaísmo ensina que a Humanidade encontra-se em um estado de
inclinação para fazer o mal e de incapacidade para escolher o Bem em vez do Mal.
De acordo com o Judaísmo, o Homem é responsável pelo pecado porque é dotado de
uma vontade livre, contudo, ele tem uma natureza fraca e uma tendência para o
Mal, pois o o coração do Homem é mau desde a sua juventude (Ver Enciclopédia
Judaica-Jewish Encyclopedia publicada entre 1901 e 1906).
O
Islamismo, por sua vez, é uma religião monoteísta baseada nos ensinamentos de Maomé,
chamado “O Profeta”, contidos no livro sagrado islâmico, o Corão. A palavra islã
significa submeter, e exprime a submissão à lei e à vontade de Alá. Seus
seguidores são
chamados de muçulmanos, que significa aquele que se submete a Deus. Para os muçulmanos,
o Corão contém a mensagem de Deus a Maomé. O Islamismo crê que haverá o
dia da ressurreição e julgamento do bem e do mal. Neste grande dia, todos os feitos do
homem, seja bem ou mal, serão colocados na balança. Os muçulmanos que adquiriram
suficientes méritos justos e pessoais em favor de Alá irão para o céu; todos os outros
irão para o inferno (Ver o artigo Islamismo publicado no website <http://pansvitoria.sites.uol.com.br/>).
As
religiões orientais defendem a tese de que, em geral, a natureza humana é originariamente
boa e que ela degenerou por causa da ignorância, dos desejos ou de sua mente
obnubilada, que faz com que se torne necessária uma disciplina severa para recuperar-lhe
a bondade original. Esta é a principal razão pela qual na ética oriental se advoga uma
disciplina severa a fim de recuperar a virtude original do Homem. Nisso reside a
explicação oriental do aparecimento do mal que seria inteiramente criação do Homem.
Praticamente todos os sistemas religiosos indianos, inclusive o Budismo, e o
Taoísmo na
China, atribuem o aparecimento do mal à ignorância do Homem, que dá origem ao
conhecimento falso e a desejos perniciosos. A Filosofia oriental considera que, como
o Homem produz o mal, pode também destruí-lo. (Ver o artigo Características
da Filosofia Chinesa e Indiana de Chan Wing-Tsit
em Moore, C. (org.) publicado
no website
<http://orientika.blogspot.com.br/2008/04/caractersticas-dafilosofia-chinesa-e.html>).
O
Espiritismo questiona como é possível que o homem, criado à imagem e
semelhança de Deus,
seja visceralmente mau? Como se compreende que o Supremo Arquiteto do Universo
haja produzido obras intrinsecamente imperfeitas e defeituosas? Para os espíritas,
o homem é obra inacabada. O problema do mal, segundo o Espiritismo, resolve-se
através do trabalho ingente da educação do Homem visando transformar as trevas em
luz, o vício em virtude, a loucura em bom senso, a fraqueza em vigor. Para a doutrina
dos espíritos o mal é criação do próprio homem e não tem existência senão
temporária,
transitória, pois no arranjo maior da Vida não tem sentido a permanência do mal.
Alan Kardec aponta em Obras Póstumas que “Deus não criou o mal; foi o
homem que o produziu pelo abuso que fez dos dons de Deus, em virtude de seu
livre arbítrio.” (Ver o artigo A transitória maldade humana de Abel
Sidney de Souza publicado no website <http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/comportamento/atransitoria-
maldade-humana.html>).
Pelo
exposto, constata-se que Freud, Hobbes, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo convergem
em seus pensamentos ao considerar que o ser humano tem uma inclinação para o Mal
os quais são contrapostos aos de Carl Rogers, Rousseau, Marx, religiões orientais
e Espiritismo que defendem a tese de que a sociedade é que o degenera lançando-o
contra o seu semelhante. Pelo exposto, pode-se afirmar que a educação dos seres
humanos e a existência de justiça social, antítese do desumano sistema
capitalista em vigor, são as armas que podem fazer com que o homem tenha
comportamento construtivo e seja capaz de mudar o mundo ao seu redor e, ao
fazer isso, mudar a si mesmo. O combate à violência que se registra no Brasil e
no mundo não deve se restringir à ação policial e a criação de leis punitivas
de delitos. A justiça social e a educação são essenciais para combater a
violência no Brasil e no mundo.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário
e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial,
planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a
FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998),
Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken,
Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A
Gráfica e Editora, Salvador,
2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena-
Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores
Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no
Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).
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