Homem que era elo entre Odebrecht e
alto escalão político está entre os detidos
AFONSO BENITES São Paulo Recomendar no Facebook
EL PAÍS – O JORNAL GLOBAL
Um ciclista passa em frente a sede da Odebrecht no Rio. / PILAR OLIVARES (REUTERS)
Mal voltou
de férias dos Estados Unidos, o juiz federal Sergio Moro retomou sua rotina de
encarcerar figurões brasileiros e movimentou novamente o noticiário político e
policial brasileiro. Em apenas uma canetada ele atingiu a “joia da coroa”
das empreiteiras brasileiras, a Odebrecht, e pode ter aproximado os
investigadores do alto escalão político e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Em 52 páginas, o magistrado de Curitiba mandou prender 12 pessoas, entre
elas o presidente da construtora, Marcelo Odebrecht, e seu diretor de relações
institucionais, Alexandrino Alencar. Ambos eram próximos ao líder petista. O
primeiro jamais negou isso. Foi um perene doador das campanhas eleitorais
petistas (e de outras legendas) e um declarado entusiasta da atual
política externa. O segundo, foi o cicerone e contratante de Lula em palestras
e viagens internacionais.
Desde novembro do ano passado, quando quase 20
empreiteiros foram detidos na operação Lava Jato, os investigadores
esperavam pelo momento em que teriam no rol dos implicados algum executivo da
Odebrecht. Chegaram a quatro deles depois de três réus confessos delatarem e
apresentarem supostas provas de seu envolvimento. Até mesmo os chefões da
empreiteira diziam que a “falsa tese de cartel” não vinga caso a maior das
empreiteiras não estivesse envolvida no esquema criminoso.
Ou seja, já
esperavam pelo momento em que a Polícia Federal invadiria suas casas numa manhã
de sexta-feira e os retiraria, se necessário, algemados de seus quartos. No
Brasil, ainda é praxe fazer grandes e midiáticas operações no final de semana
para dificultar a liberdade imediata dos investigados, porque no sábado e
domingo a Justiça só funciona em sistema de plantão e atua, prioritariamente,
em casos urgentes. A tão temida sexta-feira chegou, mas não foi preciso algemar
ninguém, já que todos acompanharam os policiais sem oferecer resistência.
Conforme a
decisão de Moro, Marcelo Odebrecht foi preso principalmente por duas razões. Por
gerenciar uma empresa que, segundo o juiz, há ao menos 11 anos corrompe
políticos e por ter sido formalmente avisado por um de seus funcionários de que
era necessário pagar um sobrepreço pela exploração de sondas para a Petrobras.
“Considerando
a duração do esquema criminoso, pelo menos desde 2004, a dimensão bilionária
dos contratos obtidos com os crimes junto a Petrobras e o valor milionário das
propinas pagas aos dirigentes da Petrobras, parece inviável que ele fosse
desconhecido dos Presidentes das duas empreiteiras, Marcelo Bahia Odebrecht e
Otávio Marques de Azevedo”, afirma o magistrado, referindo-se também ao
presidente da segunda maior empreiteira do país, também preso neta sexta-feira.
Já Alencar,
é suspeito de pagar propina a Paulo Roberto Costa (ex-diretor da
petroleira e delator-chave na Lava Jato) e ao Partido Progressista.
Segundo a apuração dos procuradores, ele teria depositado ao menos 5 milhões de
reais em uma conta de Costa na Suíça.
As viagens
de Lula
Alexandrino Alencar, segundo investigadores, pode
ser considerado um dos elos da maior empreiteira brasileira com políticos de
alto escalão. Diretor de relações institucionais da empreiteira, Alencar já
pagou viagens a dois ex-presidentes brasileiros, Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e ao ex-premiê espanhol
Felipe González. Foi também membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e
Social do Rio Grande do Sul durante a gestão de Tarso Genro (PT).
A relação mais recente e também mais intensa foi
com Lula, que foi para Cuba, República Dominicana e Estados Unidos em um
jatinho bancado pela Odebrecht em 2013. A viagem custou 435.000 reais. O caso
foi revelado pelo jornal O Globo. Na ocasião, Lula participou de um
evento da UNESCO, o setor da Organização das Nações Unidas (ONU) que atua na
área de educação. A aproximação entre Lula e Alencar começou porque o diretor
foi um dos incentivadores da construção o Itaquerão, o estádio do Corinthians
feito pela Odebrecht para a Copa do Mundo de 2014. Lula se empenhou, enquanto
líder político e corintiano fanático, para que o time erguesse seu estádio com
isenção de impostos. Além disso, em 2011, a pedido de Lula, Alencar fez parte
de uma comitiva do Governo de Dilma Rousseff que viajou à África, mesmo sem ter
nenhum cargo público.
Em princípio, não há ilegalidade nessa relação, mas
em um caso onde, de um lado do balcão, há cerca de 50 políticos investigados
por receberem propina e, do outro, empreiteiras com contratos públicos
bilionários, qualquer aproximação é vista com lupa pelos investigadores.
“Ilegal e
desnecessária”
Antes de se
defender judicialmente, a Odebrecht decidiu fazer sua defesa perante à opinião
pública por meio de um breve pronunciamento de sua advogada, Dora Cavalcanti.
Por quase sete minutos diante de uma dezena de jornalistas, ela não respondeu a
nenhuma pergunta na noite de sexta-feira. Limitou-se a dizer que os executivos
da empreiteira foram vítimas de uma prisão desnecessária e ilegal, afirmou que
todos estavam colaborando com a Justiça e que não há nenhum fato novo que
justificasse a detenção de seus clientes. Conforme ela, todos os funcionários
da companhia terão a oportunidade de provar que são inocentes.
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