Arte fotográfica
Fiona MacdonaldDa BBC Culture
Em
meio a uma multidão fazendo selfies no famoso museu de cera Madame Tussauds, em
Londres, uma glamourosa figura parece estar bem à vontade. Com o braço esticado
e o celular na mão, uma Kim Kardashian de cera posa para sua própria foto,
enquanto os visitantes dão uma paradinha para "aparecerem" a seu
lado.
A cena é típica de locais turísticos hoje em dia. Basta substituir a
falsa Kardashian pela Torre Eiffel ou a Fontana di Trevi e o que se vê é a
mesma coisa: estamos apenas registrando nós mesmos ao lado de monumentos
famosos.
Enquanto muitos torcem o nariz para as selfies, um dos fotógrafos mais
respeitados do mundo é fascinado por elas: o britânico Martin Parr, presidente
da renomada agência Magnum Photos.
"As selfies só me trazem coisas boas", afirma Parr, em
entrevista à BBC Culture.
Elogios ao pau de selfie
Recém-convertido entusiasta do culto à selfie, Parr rodou por Roma e
Veneza no início deste ano e registrou o novo costume em uma série de imagens
colocadas em seu site.
O fotógrafo notou também uma nova interferência nas paisagens, além de
estátuas de bronze e postes ornamentais: o pau de selfie. "É um objeto que
vale cada centavo. Eles se distinguem ao perfurar o horizonte", diz.
Parr acompanha suas fotos com um texto no qual descreve positivamente a
moda crescente do pau de selfie. "Eu gosto dessa tendência porque você
pode ter o cenário e a cena inteira em frente à câmera, tudo em uma mesma foto.
Antes, tínhamos que nos consolar com imagens das pessoas de costas enquanto
olhavam para a vista diante delas", comenta.
Com cores saturadas e toques bem-humorados, Parr
realizou dois livros de fotos em torno do tema turismo, um deles sobre os
visitantes aos balneários da costa britânica. No livro Parr by Parr, de 2010, ele afirma: "A coisa mais
fundamental que exploro constantemente é a diferença entre a mitologia de um
lugar e a sua realidade. Faço fotografias sérias disfarçadas de
entretenimento".
Humor nos detalhes
Martin Parr já foi
descrito como 'um cronista do nosso tempo'
"A indústria do turismo, que é a maior do mundo, hoje dita que a
primeira obrigação de qualquer viagem é provar que você esteve lá com uma
foto", diz Parr.
"A fotografia conecta você ao mundo que conhecemos e entendemos, e
é uma parte vital de qualquer experiência de férias bem-sucedida. Antigamente,
tínhamos que pedir para outra pessoa tirar uma foto nossa, mas hoje, graças ao
pau de selfie, somos autossuficientes".
Parr entrou para a Magnum em 1994 e já foi descrito como "um
cronista de nosso tempo". As imagens que ele captura com sua própria
câmera refletem aquelas que os turistas também acabam tirando. "Gosto de
fotografar pessoas fotografando outras e a si mesmas. Quando você fotografa uma
viagem, essa é a principal atividade, por isso a incorporo", diz.
Suas imagens não transmitem uma ideia de gozação. Pelo contrário, o
humor emerge nos detalhes, na composição.
"Eu aceito o que está acontecendo com a fotografia. É muito
interessante para mim. Claro que eu tenho saudades dos álbuns que guardávamos
nas estantes. Eu mesmo ainda imprimo tudo o que fotografo, apesar de usar
câmeras digitais", conta.
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