Federações ganham queda de braço com megaempresa brasileira
AFONSO BENITES São Paulo 5 JUN 2015 -
21:08 BRT
Uma das fábricas da JBS em Rosário, na Argentina. / DIEGO GIUDICE (BLOOMBERG)
A gigante
JBS, a maior processadora de carnes do mundo, provou do seu próprio
veneno. Dona da premiada estratégia de marketing que usou milhões e
celebridades para se firmar como marca e aumentar preços, a empresa,
responsável pela Friboi e Seara, se viu acuada por uma campanha virtual criada
por seus funcionários para pressionar por benefícios e teve de ceder.
No melhor
estilo Davi contra Golias, os líderes
sindicais usaram o mote do comercial “Carne tem nome – Friboi”,
estrelado ator Tony Ramos e reconhecido com os prêmios Marketing Best e
Top of Minds, para criar o vídeo Exploração de trabalhador tem nome.
O objetivo: provocar. Nele, o açougueiro tenta convencer uma cliente a não comprar
a carne do "famoso ator". “Gastamos menos de 20.000 reais com o
vídeo. Não tínhamos armas para combater esse gigante. Só podíamos chamar sua
atenção”, explicou o presidente da Confederação dos Trabalhadores na Indústria
da Alimentação (Contac), Siderlei da Silva de Oliveira.
A
estratégia dos sindicalistas foi postar o vídeo no YouTube e
difundi-lo por meio do aplicativo de mensagens para celular Whatsapp.
Viralizou. “Eu mandei o vídeo para um
grupo de 20 amigos. Em um mês recebi o mesmo vídeo dezoito vezes de pessoas que
não eram desse grupo”, diz João Carlos Batista, um dos sindicalistas da
indústria de alimentação no Paraná. Na Internet, foram poucas visualizações,
cerca de 1.300, mas no aplicativo essa mensuração não é possível fazer.
De todo
modo, a JBS reagiu. Três meses depois de a esquete ser divulgada nas redes
sociais, a gigante se reuniu com entidades que representam trabalhadores e
decidiu atender uma de suas principais reivindicações, a de reduzir o valor do
plano de saúde de 111 reais para 45 reais ao mês. Na ponta do lápis, o custo
para a empresa cresceu cerca de 3,6 milhões de reais mensais, ou 43,5 milhões
ao ano. É menos do que a empresa doou nas eleições do ano passado. Segundo registros
do Tribunal Superior Eleitoral, a JBS despejou 366,8 milhões de reais em
campanhas políticas de dezenas de candidatos – entre os beneficiados estão à ‘presidenta’ Dilma
Rousseff (PT), o senador oposicionista Antonio Anastasia (PSDB de Minas Gerais)
e os governadores José Ivo Sartori (PMDB do Rio Grande do Sul), Beto Richa
(PSDB do Paraná) e Camilo Santana (PT do Ceará).
Para
Siderlei de Oliveira, a vitória no quesito plano de saúde foi apenas o primeiro
passo. “Antes do vídeo ir para o ar, nunca tínhamos sido recebidos pela chefia
nacionalmente. Agora, queremos mais. Só temos de descobrir como
sensibilizá-los”, diz o ambicioso sindicalista, que vai pedir um piso salarial
nacional para a JBS.
Um revés:
sem piso nacional
Em nota, a
JBS, responsável pela marca Friboi, informou que mantém uma agenda de reuniões
com os sindicatos dos municípios onde atua e que a negociação com a CONTAC e
com outras federações foi um passo seguintes às conversas com a base dos
trabalhadores. A empresa afirmou que não houve uma formalização de um acordo
nacional, mas um ajuste de consenso entre todas as partes.
Sobre o
pleito de um piso salarial nacional, a JBS já jogou uma ducha de água fria nas
pretensões de seus funcionários. Diz o texto enviado à reportagem. “A JBS está
em linha com os mercados que atua lembrando que, no sistema brasileiro já há um
piso nacional estabelecido pelo Governo Federal (salário mínimo), sendo assim,
pelas negociações com as respectivas categorias são entabulados pisos salariais
dentro da área de atuação do sindicato.”
Quem olha a megaempresa que abate mais de 2 milhões de bovinos ao dia,
não imagina que há pouco mais de 15 anos ela não era considerada um grande
player no mercado global. Hoje, com 200.000 funcionários em 350 unidades pelo
mundo, a JBS, da holding J&F, cresceu a partir de 2003, quando o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passou a conceder empréstimos
pesados e até se tornar seu sócio.
O boom da
empresa, nascida em 1953 no Estado de Goiás, ocorreu nos anos do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista foi um
dos principais beneficiados pelas milionárias doações eleitorais da JBS. Essa
ligação, aliás, é constantemente rejeitada pelos responsáveis pelo grupo. Em
entrevista à revista “Exame”, Joesley Batista, um dos controladores da J&F,
diz que não depende da caridade do Governo.
Na ocasião, em 2012, ele comentava a compra de uma das principais
construtoras que prestava serviços para a União, a Delta.
Parte dos recursos que entravam na JBS acabaram sendo usados para
adquirir pequenos concorrentes e grandes também. Joesley costuma dizer que
gostavam de comprar empresas maiores que eles. “Nós éramos de um tamanho 100 e
comprávamos um negócio de tamanho 200 e, assim, dobrávamos nosso potencial”,
afirmou em uma palestra para empresários. Compraram por exemplo a Swift, a
Tasman Group, a Smithfield Beef, a Five Rivers e a Seara.
Hoje, além de
produção de carnes (bovina, suína, ovina e de aves), o grupo, controlado pela
mesma família que o fundou, possui fábricas de celulose, biodiesel, um banco e
uma emissora de televisão, o Canal Rural.
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